Por Christian Policeno
São 7h00min da manhã na Zona Sul de São Paulo, mais precisamente no bairro Mirandópolis, quando Paulo José Flores anda pela rua, coletando materiais recicláveis. Com um carrinho de duas rodas, utilizando uma camiseta da torcida organizada do Corinthians, a “Gaviões da Fiel”, e um boné preto, é possível vê-lo pelas ruas dando bom dia para as pessoas, enquanto realiza seu trabalho.
Apesar de residir na Praça da Árvore, bairro de classe média, também na Zona sul paulistana, sua história não se inicia nesse local. Natural do Jardim Miriam, bairro periférico, Paulo nasceu em um lar com cinco irmãos, em condições muito humildes, juntamente com a necessidade de trabalhar desde muito cedo. Exatamente por isso, ele não finalizou seus estudos, e foi apenas até o 7º ano do ensino fundamental, na Escola Estadual Yolanda Bernardini Robert.
Infelizmente, outro elemento que entrou cedo em sua vida, foi o álcool. Com histórico familiar, e uma exposição às bebidas alcoólicas desde muito cedo, com aproximadamente doze anos de idade, a entrada de bebidas alcoólicas tornou-se constante em sua vida, e demoraria muitos anos para deixar de ser um empecilho. Paulo afirma que começou a trabalhar como servente de pedreiro, e depois de dois anos, tornou-se pedreiro, onde permaneceu durante muito tempo. Ele disse que seus ganhos eram muito baixos, e além disso, recebia ordens de pessoas que eram muito difíceis com ele. Contou que trabalhar em obras era muito cansativo, e que além de ter superiores que eram pouco compreensivos, ainda convivia constantemente com trabalhadores alcoólatras, o que sempre foi um problema, por conta de sua relação com a bebida.
Foi assim, que um dia, decidiu iniciar seu trabalho como catador de lixos recicláveis. Mesmo não possuindo um carrinho próprio e atuando com outros catadores, com uma quantia inicial que era muito baixa, ele disse que não enxergou isso como um problema no começo, pois sua remuneração como pedreiro já era baixa, e que convivia menos com o álcool, o que o ajudava a economizar dinheiro. Depois de alguns meses, ele começou a catar recicláveis na região da Praça da Árvore, e com o tempo, conseguiu efetuar um "rolo" (expressão utilizada para designar uma troca material), em troca de seu carrinho, que mesmo após muitos problemas, permanece sendo o seu instrumento de trabalho. Paulo ficou conhecido na região, e curiosamente, descobriu um local onde muitos lixos recicláveis são descartados, fazendo com que sua presença no local fosse ainda mais marcante.
Sua fama na região perdura até hoje. É muito comum vê-lo conversando com os moradores do local durante boa parte do dia. Como seu trabalho é braçal, e muito cansativo, Paulo já tentou “contratar” pessoas para auxiliar durante o dia, porém relata que o pagamento que já é muito baixo, não permite que isso seja possível atualmente. Infelizmente, para ter uma renda básica, ele relata que precisa trabalhar muito durante o dia, se perdurando na maior parte da semana, da manhã à noite. E conta que o trabalho de catador não é fácil, reforçando constantemente que se arrepende de não ter estudado durante a vida. Paulo explicou que dependendo do produto, e do peso, ele consegue obter uma renda maior, ou menor, e que esse padrão perdura com todos os catadores
O corintiano afirmou que trabalha muito, e que ser catador é muito difícil, afinal, ele fica muito cansado, e o seu tempo de descanso é mínimo. Ele diz que sua profissão é engraçada em alguns pontos, pois apesar de estar sempre andando nos locais, ele consegue ter um tempo para conversar com os moradores da região onde vive, que o respeitam e valorizam seu trabalho. Paulo diz que gostaria de ter uma remuneração melhor, e que seu trabalho apesar de ser intenso e cansativo, não traz ganhos financeiros muito expressivos, mas que se sustenta dessa maneira. Ele diz que ser catador não é fácil, mas que apesar disso, sente orgulho da sua ocupação profissional, mesmo que não seja visualizada com bons olhos pela sociedade.
Além dele, Robson Aparecido é outro catador de recicláveis que trabalha todo dia na região sul da cidade de São Paulo. Vagando na região da Vila Mariana, mais próximo a estação que carrega o mesmo nome, e no nobre bairro da Chácara Klabin, Robson conhece Paulo por frequentar o mesmo local de retirada de lixos recicláveis, na Praça da Árvore. Ele afirma que não é um trabalho fácil, mas que graças ao seu emprego, ele consegue sustentar sua família, mesmo que não seja em uma condição confortável. Robson afirmou que infelizmente a maioria das pessoas não faz a separação correta dos lixos, e que isso atrapalha de maneira intensa seu trabalho, que depende de um descarte correto para ocorrer.
Ele diz que uma cidade como São Paulo, precisa conscientizar as pessoas com o descarte correto de lixo, afinal, é um trabalho simples e que pode ser realizado de maneira individual por moradores. Ele também disse que nas regiões onde anda, possui muitos prédios, e que normalmente isso prejudica seu trabalho, uma vez que o descarte dos edifícios não auxilia no seu cotidiano. Robson explica que muitas vezes já sentiu vergonha do seu trabalho, mas que hoje não pensa mais assim, por que é necessário pagar as contas, e por que ele aprendeu que ajuda o meio ambiente realizando suas funções.
O catador de recicláveis disse que gostaria apenas de possuir uma remuneração melhor, afinal, trabalha muito, e de maneira intensa, carregando lixo pela região seis dias por semana. Ele afirmou que normalmente as pessoas são gentis com ele, e que são incomuns os casos de pessoas mal-educadas, ou que fazem desdém da sua função profissional.
Paulo finalizou seu relato dizendo que precisava trabalhar, mesmo sendo um dia de sábado. Ambas as histórias demonstram que ser catador de recicláveis demanda muito trabalho, esforço físico, e paciência, ainda mais na maior metrópole da América Latina, e que de forma conjunta a isso, a remuneração e a valorização a essa função profissional ainda precisa de muita melhora, tanto por parte do Estado, quanto pela população.