Por Fábio Pinheiro
Em uma rua movimentada de São Paulo, o som de música preenche o ar. Com uma caixa de som e um microfone, Adriano Ricardo, que se mudou da Bahia para São Paulo em busca de melhores oportunidades, encontrou uma maneira de compartilhar sua paixão pela música durante a pandemia. Ele sempre gostou de cantar, algo que começou aos três anos de idade, quando sua mãe notava suas primeiras melodias. No entanto, ele nunca viveu exclusivamente da música. Paralelamente, trabalhava como empacotador de malas no aeroporto de Guarulhos, dividindo seu tempo entre o emprego e sua vocação. Tudo mudou com a chegada da Covid-19.
Com o início da pandemia, Adriano se viu em uma situação delicada. O aeroporto, antes repleto de viajantes, ficou praticamente vazio, e seu emprego como empacotador de malas foi suspenso. Sem previsão de retorno ao trabalho e com três filhos para alimentar, ele precisou se reinventar. Inicialmente, pensou em diversas alternativas, desde entregar comida até trabalhar em mercados. Mas foi sua paixão pela música que o motivou a tentar algo diferente: levar suas apresentações para as ruas.
Com a pandemia, as ruas esvaziaram e o entretenimento praticamente desapareceu. Adriano, sem seu trabalho no aeroporto e com a responsabilidade de sustentar sua família, decidiu levar sua música para as ruas, performando em frente às casas e prédios. As pessoas, isoladas em suas residências, podiam ouvi-lo e assistir às suas apresentações das janelas. O que começou como uma forma de sustento logo se tornou uma conexão direta com o público.
Adriano não esperava que a resposta fosse tão positiva. No início, ele apenas queria ganhar algum dinheiro para sobreviver, mas as pessoas começaram a interagir mais com ele. Algumas deixavam recados agradecendo pela música, outras faziam questão de contribuir financeiramente. As redes sociais logo se tornaram uma ferramenta importante: vídeos de suas apresentações começaram a circular, e Adriano passou a ser reconhecido nas ruas. Ele notava que, além de um meio de sustento, sua música estava trazendo conforto em um momento tão incerto para todos.
A resposta foi imediata e positiva. Adriano encontrou uma nova maneira de realizar seu sonho e, ao mesmo tempo, garantir o sustento de seus três filhos. Suas apresentações levaram um pouco de alívio e esperança para as pessoas em um momento de grande incerteza. Assim, ele demonstrou que a paixão pela música e a determinação podem criar laços e oferecer conforto, mesmo em tempos difíceis.
Com o aumento de sua popularidade, Adriano começou a ser convidado para eventos pequenos, respeitando as restrições sanitárias da época. Ele participou de festas de aniversário realizadas em varandas, shows em condomínios e até eventos online. Apesar de todas essas novas oportunidades, ele sempre fazia questão de retornar às ruas. Era lá que ele se sentia mais conectado ao público, e a rua havia se tornado um símbolo de resistência para ele. A música, que antes era apenas um hobby, agora era sua principal fonte de renda.
O sucesso nas ruas impulsionou Adriano a continuar, mostrando que, mesmo em meio às crises, é possível encontrar formas de transformar a vida e tocar outras pessoas. Seu reconhecimento foi crescendo, e ele foi convidado para participar de programas de TV e entrevistas. Ainda assim, Adriano permanecia fiel às suas origens. Ele sempre dizia que, independentemente de onde sua música o levasse, ele jamais deixaria de cantar nas ruas, pois era ali que ele havia redescoberto seu propósito e sua conexão com as pessoas.