Candidatos aos parlamentos tentam montar "Bancada da Cloroquina"

Candidatos demonstram postura anticiência ao defender o uso de um medicamento que não funciona para o combate da covid-19
por
Manuela Troccoli e Pietra Nóbrega
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01/10/2022

Pelo menos cinco candidatos às Assembleias ou ao Congresso Nacional, no ano de 2022, já recomendaram o uso de medicamentos sem eficácia no início da pandemia do covid-19, como cloroquina e ivermectina. Entre eles, estão nomes como Nise Yamaguchi (PROS-SP), Mayra Pinheiro (PL-CE), Eduardo Pazuello (PL-RJ) e Osmar Terra (MDB-RS). 

Nise Yamaguchi, médica infectologista, apresentou-se agora como candidata à deputada pelo PROS. Na CPI da Covd, ela se colocou a favor desse tratamento e teve polêmica participação. Nise foi entrevistada para esta reportagem, porém não permitiu que suas respostas fossem publicadas no Contraponto Digital.

Mayra Pinheiro, chamada pejorativamente de "Capitã Cloroquina", foi uma das principais precursoras da ideia que a cloroquina funcionava para o tratamento contra a covid-19.

Eduardo Pazuello, ministro da Saúde do Brasil durante a pandemia no país, entre 2020 e 2021, se candidatou também a deputado pelo Rio de Janeiro. 

Osmar Terra (MDB-RS), médico formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e político brasileiro, defendeu com veemência esse tratamento ineficaz na CPI da Covid. "Eu tomei, tomaria de novo se precisasse, se tivesse a doença, porque não tinha nada para fazer a não ser ficar esperando e tomar dipirona", disse.

Todos os candidatos acima elencados têm proximidade com o então presidente da República Jair Bolsonaro.

Há uma série de provas científicas de que a cloroquina, bem como a ivermectina, não tem eficácia no tratamento contra a covid-19. 

"Não existe nenhuma comprovação de que a cloroquina tenha qualquer efeito como tratamento em qualquer fase da covid-19. Todos os estudos que estão registrados e que foram adequadamente realizados e revisados são unânimes", afirma Gonzalo Vecina, que foi diretor-presidente da Anvisa e é professor da Faculdade de Saúde Pública da USP desde 1988.

Questionado sobre candidatos que defendem o medicamento, Vecina afirma que "o posicionamento desses candidatos é uma posição de ignorância".

A médica infectologista Rosana Richtmann, do Centro de Imunização Santa Joana, concorda com Gonzalo quando a questão é desinformação dos candidatos.

“Em 2021, a gente tinha certeza de que não tinha mais sentido sugerir o uso de cloroquina no combate da covid-19. E nós ainda temos médicos com o apoio do CFM [Conselho Federal de Medicina] que continuam sendo a favor de uma medicação que está cientificamente comprovada que não funciona”, afirma. 

Acredita que se as medidas dentro da medicina fossem mais rigorosas, profissionais não continuariam receitando a cloroquina. “Se a gente tivesse um CFM voltado mais para a evidência científica, teria casos de médicos que perderiam a carteira por receitar cloroquina igual aconteceu na França, por exemplo”. 

“Temos que falar que muita gente ganhou dinheiro com essa teoria, é um capítulo muito triste da história da nossa medicina”, avalia.

Para ela, uma possível bancada da cloroquina assusta. "Assim como hoje eles estão defendendo algo que não tem comprovação científica e trazendo malefícios para a população, imagina se pegarem outra bandeira", questiona. Cita, por exemplo, a bandeira antivacinas.

 

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