No maior colégio eleitoral do país, a disputa pelo Palácio dos Bandeirantes se assemelha, cada vez mais, à corrida pela cadeira presidencial. Em meio à onda de incertezas dessas eleições, o Estado que ainda têm em sua memória mais recente a força do antipetismo, se esquiva do bolsonarismo presente e parece colocar o legado tucano do Estado de São Paulo em uma posição diferente dos pleitos anteriores.
Segundo a última pesquisa Datafolha, publicada na quinta-feira (22/9), os três candidatos que se mantêm à frente na corrida mostraram oscilações. Os números mais recentes revelam que o ex-prefeito Fernando Haddad (PT), atual líder nas pesquisas, marcou 34% contra 36% do último levantamento, Tarcísio de Freitas (Republicanos) subiu de 22% para 23% e o atual governador Rodrigo Garcia (PSDB) manteve a intenção de 19%, dentro da margem de erro de dois pontos percentuais para mais e para menos.
Foto: Reprodução Instagram @fernandohaddadoficial
Reflexo nas campanhas
Por mais que tenha mantido uma certa estabilidade nas pesquisas anteriores, Haddad oscilou negativamente, dentro da margem de erro nos resultados mais recentes. Apesar do crescimento de seus adversários, a cúpula do petista enxerga o lado positivo da moeda. Em conversa com o ContraPonto Digital, Nunzio Briguglio, coordenador da campanha de Haddad, afirmou que as últimas oscilações nas pesquisas mostram um acomodamento natural. “Nem piso, muito menos teto, apenas o balanço da onda das pesquisas”.
A campanha escolheu por não comentar o aumento percentual do adversário tucano que, em um eventual segundo turno contra o candidato petista, utilizaria o legado do partido no Estado para angariar votos.
Haddad tem se apoiado na figura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), atual candidato ao Palácio do Planalto, desde o início de sua campanha. Movimento que o ajuda a agregar votos do lado mais progressista do estado, mas que também pode ser uma barreira para seu crescimento, principalmente nas cidades do interior que ainda se apoiam nos governos tucanos.
Há mais de 27 anos governado pelo PSDB, o eleitorado de São Paulo começa a dar indícios de que procura conhecer o atual governador e candidato à reeleição Rodrigo Garcia. Ainda que o movimento seja tímido, agora, o candidato se encontra empatado tecnicamente com o candidato do Republicanos.
Em nota, a assessoria da campanha diz que se apega nestes números, mas avalia se deslocar levemente do discurso anti polarização utilizado até o momento. “O Rodrigo nunca foi candidato a cargos majoritários, então é natural que as pessoas queiram saber sua história e é isso que nós estamos fazendo agora na eleição. Mostrando quem é o Rodrigo e que é um projeto de continuidade daquilo que se fez desde 1994 quando Covas ganhou a eleição”, pontuou o presidente do PSDB em São Paulo, Fernando Alfredo.
Foto: Reprodução Instagram @rodrigogarciaoficial
Diferente de seus adversários, Rodrigo Garcia recusa a ideia de ser “apadrinhado” por outra figura da política atual, “o meu padrinho é toda a minha história”, declara. Seu movimento até este momento da corrida é o de se desvencilhar da imagem do ex-governador paulista João Doria, que deixou o cargo com uma rejeição de 36%. Ao que tudo indica, Garcia permanecerá neste caminho, evocando personagens mais antigos do partido como a família Covas.
O candidato comenta seus mais de 20 anos de vida pública e diz que não está na corrida para defender presidente da República ou a esquerda que, como avalia, quer chegar ao poder. “Estou aqui para defender São Paulo, para defender aquilo que acredito”.
Em contrapartida a nacionalização que Haddad e Tarcísio tem projetado em suas campanhas, o candidato Rodrigo Garcia faz o movimento oposto, fugindo de qualquer vinculação ao seu “antipadrinho”, João Dória. “Se o Dória fosse candidato poderia ser pior para o Rodrigo, sem a figura do Doria ele não é cobrado”, explica Marco Antônio Teixeira, doutor em Ciências Sociais pela PUC-SP e docente de Ciência Política na FGV-SP.
Ao mesmo tempo que Garcia não se apoia em ninguém, a união com a imagem desgastada de Dória, somado ao seu rol de desavenças políticas com o próprio PSDB “o enfraqueceria mais”, pontua Teixeira.
Já o ex-ministro de Infraestrutura Tarcísio de Freitas (Republicanos), continua próximo da figura do atual Presidente da República e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL). A proximidade das duas campanhas havia sido questionada, no início da corrida eleitoral, por integrantes da cúpula do presidente diante da falta de posicionamento de Tarcísio em pautas da agenda bolsonarista. A estratégia, porém, era apaziguar o tom, afinal, o Estado de São Paulo demonstra a rejeição de 53% ao governo de Jair Bolsonaro.
Foto: Reprodução Instagram @tarcisiogdf
Ainda assim, a campanha avalia que, desde o início das pesquisas, o apoio do presidente não deixou de ser uma alavanca para o crescimento de Tarcísio. Em nota, a assessoria da campanha informou que enxerga a rejeição do mandatário como algo natural devido ao momento de crise que o país atravessa. “O que vemos é que o governo federal tem conquistas e entregas importantes e Tarcísio vem sendo porta-voz disso”, afirmam. De acordo com a campanha, a presença do Presidente da República na estratégia continuará.
A assessoria da campanha ainda comentou o empate técnico do atual governador Rodrigo Garcia em relação ao ex-ministro, nas pesquisas mais recentes do Datafolha. A campanha interpreta que a pesquisa confirma que Tarcísio segue na frente. “Apesar dos intensos ataques da campanha do Rodrigo Garcia, todas variações estão na margem de erro.” A campanha do candidato do Republicanos se agarra no que nomeia como “voto mais convicto”.
Mediante as estratégias políticas usadas nessas eleições, o uso das candidaturas paulistas como palanque eleitoral é um dos efeitos da via de mão dupla ocasionada pela nacionalização das campanhas. Segundo Teixeira, o impacto de Haddad e Tarcísio na campanha de Lula e Bolsonaro é justamente a força de palanques “competitivos” no estado de São Paulo, o que reflete e mensura a disputa nacional dessas eleições.
Conservadorismo e antipetismo
Fato é que São Paulo possui um “cinturão do conservadorismo” em sua base eleitoral, demonstrando pontos de polarização ideológica marcados por uma divisão muito forte entre capital, interior e litoral. Dentro do estado existe: “o eleitor de São Paulo sendo mais progressista, o eleitor do interior mais conservador e do litoral é uma mescla, dependendo da cidade é mais conservador, ou mais progressista”, frisa a cientista política da Universidade Federal de São Carlos, Maria do Socorro Braga. Essa repartição não é rígida, porém ela possibilita que as candidaturas enxerguem com mais clareza as regiões com maior ou menor possibilidade de voto dentro do estado.
O cientista social Marco Antônio destaca a “esperança” de Rodrigo Garcia no apoio que vem da “periferia para o centro”, ou seja, do “interior para a grande cidade”. Segundo o professor, o candidato está “confiando” na influência que os prefeitos locais possuem no eleitorado dessa região. Embora isso possa ocorrer, "neste momento a gente não vê uma outra divisão no Estado de São Paulo que não esteja apontando para essa polarização”, conclui Teixeira.
Cientista Social Marco Antônio Teixeira em entrevista com a repórter Malu Araújo- Foto: acervo pessoal.
Já a cúpula do candidato petista, enxerga que o partido tem utilizado sua experiência e administrado as principais cidades do Estado, a fim de minimizar a força do antipetismo nas outras cidades. O coordenador da campanha de Fernando Haddad, Nunzio Briguglio, aponta que os eleitores parecem não se sentir representados pelo “oportunismo de outras candidaturas''. De acordo com ele, nunca uma campanha do PT encontrou tamanha receptividade no interior de São Paulo, embora a rejeição de 36% do candidato no Estado.
Possíveis rumos
O reflexo dos presidenciáveis nas campanhas dos candidatos ao governo de São Paulo estará ligado diretamente a um olhar geral do que foi cada governo, destacam os cientistas. “Temas por exemplo: onde que o país estava melhor? Agora no governo Bolsonaro ou era no governo Lula? Onde de certa forma se desmatava mais? No governo Lula ou no governo Bolsonaro? Onde se buscava ter maior interação com o setor produtivo? No governo Lula ou no governo Bolsonaro?”, segundo Teixeira essas questões vão chegar no âmbito estadual e impactaram de alguma forma as campanhas dos candidatos.
Um dos questionamentos que podem ser feitos ao candidato do Republicanos é sobre sua capacidade de governabilidade do estado, visto que “ministro não é chefe do executivo, não é Governador, não é presidente”, enfatiza Marco.
Já a cientista política Maria do Socorro aponta que o cenário que se desenha para outubro pode ser de desvantagem para o petista Haddad no segundo turno, devido à possível união entre os partidos para derrubar o candidato. “No segundo turno é que vai ser o problema [...] é possível que todo esse pessoal [ PSDB e Bolsonaro] se una para o Haddad não vencer”, afirma Maria.
Dentro das incertezas que restam até o dia 2 de outubro, uma já está no radar da especialista política: se o PSDB perder as eleições do maior colégio eleitoral do Brasil, o qual lhe conferiu enorme credibilidade durante 28 anos, “a tendência é se transformar num nanico assim, em 2026 você vai ter um partido nanico competindo, mas bem pequenininho”, encerra a cientista social Maria do Socorro.