Biblioteca é refúgio para vulneráreis

A rotina de uma família que vive as margens da Avenida Cruzeiro do Sul e encontrou refúgio na Biblioteca São Paulo
por
João Victor Guimarães e Mariana Luccisano
|
18/09/2023

Por Mariana Coelho (texto) e João Esposo (audiovisual)

 

   Estação Carandiru, Zona Norte de São Paulo. Para visitar o Parque da Juventude é preciso apenas seguir as placas que indicam a saída e caminhar por um minuto, ou até menos do que isso, a depender da pressa dos passos de quem desembarca. 7h30min, horário de pico, a dificuldade latente é caminhar entre os tantos que transitam diariamente pelas plataformas da linha azul do metrô. A Avenida Cruzeiro do Sul é quem recebe os que pisam para fora, sendo recebidos pela segunda-feira que se sucede sem se preocupar com o que acontece no íntimo de cada um.

     Se para quem chega pelos trilhos o trajeto até o parque é curto, para os que vivem de baixo deles é necessário apenas atravessar a rua. São incontáveis as famílias que moram de baixo do elevado do metrô, lugar que também abriga o Museu Aberto de Arte Urbana de São Paulo (MAAU – SP), com painéis que preenchem os 10 metros de altura das vigas de sustentação por onde correm os trens.  

    Vivendo em barracas e construções improvisadas às margens de uma das mais extensas e movimentadas avenidas do lado norte da cidade, crianças, adultos, idosos e animais de estimação coexistem com a fumaça dos ônibus, as buzinas dos carros, a hostilidade das ruas, a vulnerabilidade, a fome e o desamparo. No final do dia, se aquecem como podem e se deitam sob as paredes tomadas por grafites e frases que denunciam o escancarado que, ainda assim, parece seguir invisível como aponta um grafitti que sinaliza: o povo tem fome de tudo.

     O Parque da Juventude, banhado pela luz amarelada do sol que raiava tímido, possui uma história que remonta às décadas de 1940 e 1950, quando era ocupado pelo Complexo Penitenciário do Carandiru, um dos maiores presídios da América Latina. No entanto, sua transformação em um espaço público dedicado à cultura, esporte e lazer começou em 2002, após o trágico episódio de rebelião e massacre que ocorreu no presídio em 1992. O projeto de revitalização, liderado pelo governo estadual, buscou resgatar o terreno, preservando parte de sua história ao manter algumas estruturas originais, como o Pavilhão de Administração. É aberto das 6h00min às 19h00min para o público, contendo extensa área verde, quadras poliesportivas, brinquedos, ciclovia, pista de skate e uma biblioteca.

     Nas grades que o cercam, Dona Ilda espera a abertura da biblioteca pacientemente todas as manhãs ao lado de Duda, sua filha, e de Gabriel, seu neto. Ilda e Duda vivem debaixo do viaduto há 5 anos e vieram de Salvador à procura de Josué, pai da menina, que veio para São Paulo com a promessa de uma oportunidade de trabalho e não deu mais notícias, está desaparecido desde então. Sem condições de se manterem na capital e sem recursos para voltarem para Bahia, mãe e filha foram parar nas ruas. Duda, que quando chegou tinha acabado de completar 13 anos, engravidou um ano depois. O pai de Gabriel é ausente, nunca procurou saber do menino.

     Gabriel está sentado no chão, brincando com um peão colorido que gira incansavelmente aos pés de sua mãe. Duda leva consigo uma sacola de papel visivelmente pesada e Ilda segura nos braços uma bolsa azul sem alças. A família espera para entrar na Biblioteca São Paulo, localizada dentro do Parque da Juventude. Faltam uma hora e meia para a abertura dos portões, às 9h30min. Ilda conta que acabara de voltar do banheiro feminino que fica dentro do parque, onde faz sua higiene pessoal diariamente. A família esperava por um conhecido do lado de fora, mas ele não apareceu. Entraram todos e se acomodaram em um dos blocos de concreto que ficam de frente para um galpão aparentemente sem uso, próximo a entrada principal. O peão voltou a girar aos pés de Duda.

    A Biblioteca de São Paulo (BSP), é uma instituição que carrega consigo a missão de promover a cultura e a educação na cidade de São Paulo. Inaugurada em 2010, a BSP nasceu como parte do projeto de revitalização do antigo Complexo Penitenciário do Carandiru, transformando antigas celas em espaços de leitura e conhecimento. Sua história reflete a capacidade de regeneração e transformação de espaços urbanos, proporcionando um ambiente fértil para o

 

Tags:

Cidades

path
cidades