Por Matheus Pogiolli
Há dois anos, Rafael Souza Lopes fez um convite à sua amiga, Juliana Prado, com brilho no olhar e fé no propósito. O chamado nada mais era que um movimento para transformar uma teoria em prática: Os Autistas Alvinegros. Corinthiana roxa e figura presente na causa autista, Juliana concordou em participar do projeto e, com um "sim", embarcou na ideia de Rafael, outro corinthiano fanático e um dos grandes nomes na inclusão dos portadores do Espectro Autista (TEA). Os Autistas Alvinegros são um grupo criado para unir e incluir os autistas nas diferentes praças esportivas, e, através de Rafael e Juliana, esse projeto deu o pontapé inicial nos jogos do Corinthians em 2022.
Numa noite fria em Itaquera, no dia 22 de junho de 2022, o grupo foi pela primeira vez ao estádio com faixas e dizeres com o nome "Autistas Alvinegros". Eles levaram sorte ao clube. Corinthians 4x0 Santos. Ali, após a vitória, Rafael sentiu que sua ideia daria certo.
Foto: Arquivo pessoal dos Autistas Alvinegros
Rafael sabia que a inclusão dessas pessoas era importante, e por isso criou o projeto para que elas se sentissem abraçadas. Ele conseguiu. Hoje em dia, diversos portadores de TEA fazem parte do projeto e agradecem Rafael pela criação do mesmo.
Há dois anos Rafael tinha uma ideia e um sonho, além da noção de que deveria conquistar pessoas fora do Espectro Autista, com a esperança de que simpatizantes pudessem fazer parte do projeto. Ele conseguiu mais uma vez. Atualmente, muitos colaboradores do grupo são pessoas que não possuem TEA, mas que consideram a causa importante.
Rafael e Juliana já contaram com a participação de Luiz Cláudio de Godói Júnior, autista, portador de TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade) e apaixonado por futebol. Seu amor pelo campo e pela bola fizeram com que sua ansiedade não o atrapalhasse no acompanhamento das partidas. Os Autistas Alvinegros também foram importantes em seus momentos dentro do estádio. Hoje, mesmo fora do grupo, Luiz viaja o Brasil acompanhando o Corinthians, tendo total convicção do quão importante foi a sua participação no projeto.
Ansiedade, distração e outros transtornos. Luiz possui boa parte dos tópicos citados. A paixão pelo esporte e os diversos movimentos de inclusão presentes no local que ele mais ama, o ajudaram. A Neo Química Arena, estádio do Corinthians e praticamente segunda casa dele, é uma das construções pioneiras em instalações que ajudam jovens autistas no controle de determinadas situações. Em jogos durante a semana, ou no fim dela, Luiz se sente acolhido pelo clube e pela causa. Hoje, graças às integrações feitas pela agremiação, a presença do corinthiano fanático no estádio é assídua.
Foto: Arquivo pessoal dos Autistas Alvinegros
Luiz Cláudio destaca a movimentação como “sensacional”, e sabe que esse tipo de preocupação é importante para a sua vida. O clube alvinegro motivou instituições rivais a fazerem o mesmo. São Paulo e Palmeiras, por exemplo, já possuem esse local em MorumBIS e Allianz Parque respectivamente. Luiz visitou ambos os estádios e se sentiu acolhido.
Os Autistas Alvinegros não se definem como uma torcida organizada, mas sim como um grupo de inclusão. que conta com um local garantido nas arquibancadas da Neo Química Arena, no setor Oeste Superior do estádio. É lá que diversas histórias são contadas em formado de cânticos esportivos, demonstrando todo amor, carinho e torcida que os colaboradores possuem pela equipe que são apaixonados. Rafael, Juliana, Luiz e outros torcedores participam dessa narrativa. Não é uma história individual. É uma história coletiva com indivíduos focados no mesmo propósito: torcer para o Corinthians.
Em tarde ensolaradas ou noites nubladas, Luiz Cláudio vai em praticamente todos os jogos do Corinthians. Com vitórias, empates ou derrotas, eliminações ou classificações, reveses ou títulos, lá está Luiz, torcendo, apoiando, se sentindo incluído. O amor transmitido da torcida para os jogadores, faz com que alguns desses atletas se sintam abraçados à nível de envolvimento direto nas mais diferentes ações elaboradas pelo torcedor. Cássio Ramos, ex-goleiro e ídolo histórico do Corinthians, é um desses. Luiz é seu fã, e aumentou ainda mais a sua idolatria com as atitudes do gigante arqueiro do Timão.
Desde o momento em que soube da existência do grupo "Autistas Alvinegros", Cássio fez questão de participar diretamente de ações em apoio ao projeto. Luiz, seu fã, virou um amigo do atleta. Entre visitas ao CT e conversas online, o portador de TEA se aproximou de seu grande ídolo, isso tudo graças aos Autistas Alvinegros.
Foto: Arquivo pessoal dos Autistas Alvinegros
Luiz Cláudio sabe da importância de Cássio para a inclusão dos autistas e também para a sua vida, já que o arqueiro levou a causa para fora dos campos de futebol, participando de programas esportivos ou palestras sobre o tema. Ele não participou desses programas, mas se sentiu representado pelo goleiro. Cássio também dá valor a causa. Em partidas de Paulistão ou Libertadores, não diferindo o tamanho dos confrontos, lá está o "Gigante", usando objetos da causa autista.
Foto: Agência Corinthians
Cássio, o renomado goleiro, tem se destacado não apenas pelo seu desempenho em campo, mas também por seu firme compromisso com a causa dos portadores de TEA. A relação pessoal que ele construiu com o tema, ao ser pai de Maria Luiza, de 5 anos, que é autista, moldou sua visão e ações. Ele é um exemplo para torcedores e para a sua própria filha. O desenvolvimento dela, passa muito pelo pai, e Cássio se sente importante no crescimento de sua querida filha.
Os Autistas Alvinegros, embora um grupo recente, têm se mostrado um farol de inclusão e empatia. Rafael, seu fundador, destaca que a missão é clara: continuar a trabalhar em colaboração com o clube para promover a educação e a aceitação, criando um ambiente onde todos se sintam valorizados e amados. Ele faz projetos e busca novos participantes. Ele começou esse grupo do zero e chegou longe. Mas, tentará expandir ainda mais.
Com um crescimento em seu impacto social, os Autistas Alvinegros têm ajudado a transformar a maneira como a inclusão é percebida, e Cássio, com sua postura e exemplo, torna-se um símbolo de esperança e transformação. A união de suas experiências pessoais com suas ações coletivas propõe uma nova narrativa: a de que o futebol e a inclusão podem caminhar lado a lado, promovendo um futuro mais inclusivo para todos.