Audiovisual na pandemia: streamings decolam e salas de cinema custam a se reerguer

Grandes serviços de filmes por demanda aproveitaram a pandemia para alcançar mais público, enquanto receita cinemas em 2020 foi 77% menor
por
Beatriz Girão, Camila Barros, Giovanna Montagner, Laura Ré, Maitê Abad, Maurício Souza e Thalisson Silva
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25/06/2021

 O isolamento social transformou o setor audiovisual. O cinema em 2020 apresentou um cronograma diferente de anos anteriores, com estreias adiadas, salas fechadas e baixas bilheterias. A crise desencadeada pela pandemia forçou uma revolução no lançamento de filmes, proporcionando a estreia de grandes plataformas de streaming.

Festas, jantares e idas ao cinema são alguns dos programas que foram substituídos por chamadas de vídeo e filmes assistidos via canais de streaming com direito a comes e bebes, tudo para deixar a rotina o mais normal possível.

Segundo o estudo Global Entertainment & Media Outlook 2020-2024, da PwC, a indústria do entretenimento tornou-se mais virtual, remota e transmitida sob demanda. A pandemia acelerou e ampliou as mudanças no comportamento dos consumidores, proporcionando uma ruptura digital na indústria do entretenimento que, de outra forma, só teria sido alcançada em muitos anos.

O Brasil está posicionado como um forte consumidor de conteúdo digital. O país ocupa o segundo lugar no ranking de assinantes da Netflix em todo o mundo. A plataforma atingiu a marca de 200 milhões de assinaturas no fim de 2020 – com crescimento recorde de 37 milhões de novos usuários durante o ano passado, contando com  17,9 milhões de usuários ativos no Brasil, de acordo com estimativa da empresa de redes virtuais privada Comparitech.

Segundo o produtor audiovisual Cleber Roher, com os adiamentos das grandes produções e a migração dos lançamento para o VOD, serviços de streaming, como a Netflix, aproveitaram para ganhar mais público e se efetivar como uma alternativa do cinema tradicional.

Cinema de rua em São Paulo no período pré-pandemia.

Imagem/Camila Barros

     Se os serviços de streaming tiveram muito a comemorar com o isolamento, quem saiu perdendo foram os cinemas. O Sistema de Controle de Bilheteria (SCB), divulgado pela Ancine, aponta que o público das salas de cinema brasileiras em 2020 foi de cerca de 39 milhões de espectadores, com uma receita de bilheteria em torno de R$ 630 milhões, o que representa uma redução de 77% em relação a 2019.

Em nota, a Ancine informa que "os desafios para o setor superar esse período de crise não se limitam à simples reabertura das salas". Isso porque, enquanto o público por sessão em dezembro de 2019 foi de 28,3 espectadores, em dezembro de 2020, quando as salas já tinham sido reabertas, esse valor foi de apenas 13,1.

Mesmo com iniciativas visando se adaptar ao cenário de pandemia,  como o cinema Drive-In, que permite que os espectadores assistam aos filmes de dentro dos próprios carros, a receita dos cinemas a partir de março de 2020 caiu para quase nula. E, de acordo com o produtor, mesmo com inúmeras tentativas, o cinema pode demorar a ter o mesmo público de antes.

Fonte: Sistema de Controle de Bilheteria (SCB)/Ancine

“Essa perda de público é um fenômeno similar ao que aconteceu na década de 1950, com a popularização da televisão, e depois na década de 1980, com a popularização do videocassete. O cinema perdeu muita gente, mas depois se recuperou, mas ainda assim levou um tempo”, diz Roher.

Silvia Oliveira, proprietária do Cine Café Fellini, anexado ao Espaço Itaú de Cinema da Rua Augusta em SP, conta que o movimento oscila desde a reabertura, mas é sempre mais fraco do que antes da pandemia. "Tinha sessão só com uma pessoa [dentro da sala]. Aí deu uma melhoradinha e parecia que a coisa estava indo, crescendo, mas agora eu to sentindo que deu uma caída de novo", aponta a empresária, que teve que encarar mais um fechamento de portas, na fase roxa decretada em SP em março de 2021.

Segundo ela, os clientes ainda tˆêm muito medo do coronavírus e dizem que só voltam a frequentar os cinemas quando estiverem totalmente vacinados. "Eu acho que depois que tiver a vacina, acredito que a coisa vai voltar. As pessoas vão querer voltar ao cinema. Elas tão sim querendo cultura e lazer, mas tem medo", Silvia finaliza.

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