Até onde você iria pelo seu ídolo?

Algumas pessoas decidem gastar altas quantias para verem de pertinho seus artistas favoritos
por
Bárbara Cristina More e Livia Veiga Andrade
|
29/08/2023

Qual seria o seu limite para encontrar o seu artista favorito? Algumas pessoas são capazes de pegar um avião, dormir em hostels baratos - ou até mesmo na fila -, se alimentar de maneira precária e, em casos extremos, se endividar para atingir esse objetivo. O amor e admiração que os fãs nutrem por cantores ou bandas pode levá-los a fazer de tudo para ter a experiência de ver os artistas de pertinho. Todo o suor e cansaço que passam durante a jornada para garantir os melhores lugares na plateia são recompensados no momento em que seu ídolo pisa no palco. De repente, nada mais importa a não ser aproveitar ao máximo as duas ou três horas de apresentação.  

O Brasil é um país com 26 estados, mas São Paulo e Rio de Janeiro são as cidades queridinhas dos artistas. A grande maioria das turnês realizadas no país tem as duas cidades em sua lista de paradas, o que é uma alegria para os sudestinos, porém, sofrimento para as demais regiões. Por conta disso, é comum que moradores de outras cidades decidam embarcar em carros, ônibus e até aviões para poderem ter a chance de ver seus ídolos ao vivo. 

Segundo o Twitter do jornalista José Norberto Flesch, shows estão causando aumento gigantesco nas passagens áreas de São Paulo e Rio de Janeiro para novembro de 2023. Trechos saindo de Manaus com destino a Miami, nos EUA, são mais baratos que viagens para as duas cidades da região Sudeste, que estão chegando a custar quase R$ 3 mil. Isso ocorre porque o penúltimo mês do ano contará com sete apresentações de artistas/bandas internacionais, incluindo Red Hot Chilli Peppers, Taylor Swift e RBD. Festivais como o The Town também possuem forte impacto no fenômeno.  

Um exemplo sobre a determinação de fãs para conseguir ingressos ou lugares perfeitos para assistir o seu ídolo e que deixou muitas pessoas surpresas é o show de Taylor Swift no Brasil. Em julho, foi anunciado que a cantora norte-americana realizaria uma série de apresentações em São Paulo e no Rio de Janeiro, o que gerou tanta animação nos fãs que eles decidiram começar a formar filas e armas barracas para ter certeza de que garantiriam uma entrada. 

Na capital paulista, uma movimentação foi iniciada assim que o anúncio do show foi feito. Centenas de pessoas já estavam reunidas na frente das bilheterias no dia em que a venda dos ingressos seria aberta. Como era permitida a compra de até quatro ingressos por CPF e não havia garantia de que todos conseguiriam, a madrugada foi marcada por fãs desesperados e cambistas a postos para iniciar o seu negócio. Mesmo após a guerra por ingressos chegar ao fim, uma nova batalha se iniciou. Uma fila foi desfeita, barracas foram guardadas e fãs voltaram felizes para casa com os ingressos, mas logo estas pessoas retornariam para formar mais um acampamento - agora com o objetivo de garantir que entrariam primeiro no espaço e teriam o melhor local com a melhor vista para o palco. 

Mas e as pessoas que não são de São Paulo ou Rio de Janeiro? Não querendo perder a oportunidade de verem seus ídolos ao vivo, alguns fãs se mobilizam de uma forma ainda maior e viajam por horas até as cidades que vão receber os shows. A advogada Bárbara Bandeira é um dos exemplos que não mede esforços para ir às apresentações. Ela contou que já viajou inúmeras vezes para outras cidades, principalmente São Paulo, pois mora em São José dos Pinhais, no Paraná. As viagens já foram tantas que ela decidiu abrir uma conta nas redes sociais para contar suas experiências e encontrar outras pessoas que fazem o mesmo. Bárbara já entrou em aviões para conferir shows do 5 Seconds of Summer, Harry Styles e 30 Seconds to Mars. 

A vontade de encontrar seus ídolos era tanta que, certa vez, ela não mediu esforços para conseguir encontrar sua banda favorita na Croácia. 

“Eu tomei a decisão muito rápido. Eles anunciaram em dezembro e o evento ia acontecer em agosto. Então eu não tive muito tempo de pensar. Foi tipo assim, nossa estou com a grana, então eu vou. Fui com amigas que eu conheci no show em São Paulo e uma outra amiga que morava lá na Europa.” 

Apesar de ter ido ao show com amigas, Bárbara revelou que viajou completamente sozinha pela primeira vez na vida e incentiva outras pessoas a fazerem o mesmo, dentro de suas possibilidades: 

“Não tenha medo de ir sozinho. É sempre uma experiência muito legal. A gente sempre volta com muitas histórias para contar e muitas amizades novas, então é uma coisa que vale muito a pena. Eu nunca me arrependi de ter ido viajar para ver um show.” 

As irmãs Ana Cláudia Coelho Móre e Áurea Carolina Coelho Móre também chegaram a cruzar o oceano para assistir a uma apresentação do Bon Jovi. Naturais de Marília, cidade do interior de São Paulo, elas enfrentaram 14 horas de voo até Londres para realizar o sonho de ouvir a banda tocar ao vivo. O trajeto começou com a dupla se dirigindo até o Aeroporto Internacional de Guarulhos, o que demora cerca de 4 horas de carro, e ainda contou com duas conexões em Recife e Lisboa. 

Áurea confessa que viajaria novamente para ver seu artista preferido e adiciona que aproveitou a aventura para conhecer a capital da Inglaterra:  

“Foi maravilhoso. Amo aquela cidade e estar ali para ver a minha banda favorita foi a melhor experiência. Fiquei por mais 5 dias em visita na cidade. Foi um sonho realizado! A magia de ver a sua banda preferida tocar em um lugar completamente diferente do seu país, é única! Iria quantas vezes mais eu pudesse.” 

A farmacêutica já chegou a enfrentar longas e cansativas filas anos antes para tentar ver o Bon Jovi, mas infelizmente não conseguiu na época. 

“12 horas em pé, na fila, em frente ao Estádio do Pacaembu (SP) para assistir, pela primeira vez, esta mesma banda, em 1993. Havia ido até lá na noite anterior, a fim de permanecer por lá, onde tantos já se dispunham em filas, mas desisti optando por ir até o aeroporto de Guarulhos tentar encontrá-los.” 

O K-Pop se tornou um grande fenômeno nos últimos anos e contou com mais de uma dúzia de shows realizados no Brasil em 2023. Outras cinco atrações já estão confirmadas até o final do ano e os fãs do gênero musical sul-coreano não poderiam estar mais animados. No entanto, as apresentações estão marcadas para acontecer em São Paulo e Rio de Janeiro, foram raros os artistas asiáticos com agendas em outras cidades brasileiras. Amante de K-Pop, a curitibana Nicole Ferreira já viajou de avião mais de uma vez para poder ver seus artistas preferidos quando eles anunciam shows no Brasil.  

"Fui pra São Paulo ver JayB (GOT7), o NCT e o ATEEZ. Fui com amigos, então aproveitamos para conhecer um pouco da cidade; foi uma experiência positiva. Em setembro vou ver Aespa, em São Paulo também." 

Outro sentimento que costuma fazer com que os fãs se mobilizem e vão até os seus artistas favoritos é a despedida, como conta Kelly Amorim. A jornalista viajou para a Bolívia, onde o grupo CNCO fez as suas últimas apresentações juntos: 

“Eu fui no show de São Paulo e eu gostei muito. Ai eu falei: como eles estão na última turnê deles, já que a banda vai acabar, esse não pode ser meu último show, não vai ser só esse não. Aí, um dia depois, eu estava com uma amiga que também foi no show e ela perguntou: e se a gente fosse para a Bolívia?” 

A decisão também não foi pensada, nem planejada. As amigas tiveram poucos dias para conseguirem se organizar para marcarem presença na apresentação que aconteceu na Santa Cruz de La Ciudad. 

As empresas que trazem artistas para o Brasil e realizam os shows notaram um aumento no faturamento no primeiro trimestre de 2023. A receita de apresentações musicais Live Nation - que é responsável pela vinda do RBD, 5SOS, Post Malone, Aespa a outros artistas que já possuem datas confirmadas até o final do ano - atingiu quase R$2,3 bilhões segundo informações da Antena 1. A venda de ingressos atingiu 90 milhões de tickets, um aumento de 20% em relação a 2022. O CEO Michael Rapino, declarou: 

“O que fica claro quando olhamos para nossos resultados e métricas operacionais é que a demanda global por eventos ao vivo continua a atingir novos patamares – a demanda vem crescendo há muito tempo e não está mostrando sinais de desaceleração. Conversando com os fãs, eles dizem que as experiências ao vivo são a categoria de lazer número um, onde esperam gastar mais no futuro. [...] Agora, você pode ver artistas vindos da América Latina e da Coreia e se tornando superestrelas globais” 

O empresário ainda explicou à Antena 1 que a alta em vendas de ingressos ocorreu devido ao número recorde de shows em estádios e o crescimento de turnês. Os fãs se entusiasmaram com as atrações e fizeram fortes pedidos para estender as datas ou adicionar novas paradas, o que impulsionou o mercado. Apesar de os amantes de música terem fácil acesso aos sucessos de seus artistas em plataformas de streaming, nada supera a experiência de ouvir a apresentação ao vivo. Além de ter a oportunidade de ver o seu ídolo mostrando todo o seu talento pessoalmente, sentir a energia da plateia e estar em um local repleto de pessoas que compartilham do mesmo gosto torna tudo inesquecível.

Tags:

Comportamento

path
comportamento

Cultura e Entretenimento

path
cultura-entretenimento