A arte que vem de longe, pulsa

No coração da Feira do MST, a arte de Iris, dona de um coração que ama e luta com histórias de resistência e esperança
por
Laura Celis Brandão
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10/06/2025

Por Laura Celis

O Parque da Água Branca, na zona oeste de São Paulo, foi tomado por cores, sabores e artesãos que emocionaram quem passou por ali, além de apresentações de renomados artistas, como Djonga e Arnaldo Antunes. A 5ª Feira Nacional da Reforma Agrária, organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), reuniu mais de 300 mil pessoas e se transformou, como nas últimas edições, em um verdadeiro encontro de resistência, afeto, arte e luta coletiva. As bancas apresentavam mais do que somente alimento ou artesanato: eram compostas por vida, memória e força de quem ajuda a construir o Brasil com as próprias mãos.

No meio de tantos, uma história vinda de longe se destacou. Vinda do Agreste de Pernambuco, a artesã e comunicadora social Iris, idealizadora da marca “Corações de Íris”, deixou Caruaru com o coração cheio de esperança e coragem. Foram mais de dois mil quilômetros percorridos de ônibus até a capital paulista. Um caminho que iniciou na Caatinga, com seus mandacarus e um solo que ensina resiliência, passou pelos troncos tortuosos do Cerrado e chegou à úmida Mata Atlântica. Sua viagem demonstra um deslocamento além da geografia: foi uma travessia pelos muitos “Brasis” que habitam esse Brasil.

Como diz um dos lemas que guiam seu trabalho, “tudo que ama, pulsa”, e com suas peças artesanais, ela levou para a feira um pedaço de sua terra e um pouco do próprio coração. Iris destacou a importância do contato com outros trabalhadores rurais, a troca de histórias e a emoção de ver seu trabalho reconhecido por quem valoriza a cultura e a luta pela terra. Iris considera sua trajetória até a capital paulista cansativa, mas recompensadora. A saída de Caruaru significou uma jornada bela, porém cheia de desafios: o calor, o cansaço e o medo de imprevistos no meio do caminho. Além disso, carregar nas costas não só a bagagem, mas também suas artes, e levar tudo isso de ônibus, com poucos recursos, requeria muito cuidado.

Expor na feira, para a idealizadora dos ‘Corações de Íris’, foi emocionante e desafiador. Iris apontou que uma das maiores dificuldades estava em conseguir espaço e reconhecimento em meio a tantos que estavam expondo seus trabalhos. Mas o calor humano, o encontro com tantas pessoas diferentes e a troca de ideias foram recompensadores. Para ela, a feira não foi somente um espaço de venda, e sim um lugar de resistência e esperança — a oportunidade de mostrar que, mesmo vindo de longe, ela tinha força e voz para agregar ao movimento.

Iris gostaria que as pessoas compreendessem que, por trás de cada peça, existe uma história de luta, uma forte conexão com a terra e muito amor. Para ela, a arte feita por quem vive no campo não é apenas um objeto, mas sim uma cultura viva, uma memória pulsante. Além disso, acredita que, mesmo diante de todas as dificuldades, é possível transformar sonhos em realidade, desde que se tenha coragem e um coração cheio de esperança.

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