A arte é o remédio

É assim que o b-boy, Lula, dançarino do coletivo Hip Hop no vagão, lembra a importância de levar a cultura no metrô no meio da correria dos passageiros.
por
Maria Luisa Lisboa
|
10/04/2025

Por Malu Lisboa

 

Vagões lotados, todos com pressa, torcendo para que o trem vá mais rápido, quem sabe até, ele não pare na estação que é lotada de gente. Um lugar caótico, com empurra empurra, para que todos que estão ali caibam, mesmo sabendo que não vão caber. Muitos sem paciência, indo para o trabalho, escola, e na volta, todos só querem ir correndo para casa. Quase não há tempo, esse, na maioria das vezes, é desperdiçado ali no transporte.

Mas nem sempre o metrô é assim, um dia qualquer você está entrando no vagão e escuta uma música, uma tranquilidade onde muitas vezes se encontra o caos. Dentro do trem, fora dos horários de pico, os artistas aproveitam este momento de calma para se apresentarem e levarem cultura em um meio de locomoção. Trazem um olhar diferente, e mostram formas de ocupar um espaço conturbado com arte.

Italo Souza, cantor e compositor, atualmente, se apresenta nos vagões quatro ou cinco vezes no mês, mas durante alguns anos levava a sua arte todos os dias, com a necessidade de sobreviver, como muitos outros. Foi com 15 anos que Italo começou a tirar seu sustento no vagão, mas não era com arte, e sim vendendo chocolate, um ano depois, ele levou sua música aos trens, e assim iniciou sua trajetória. Com a grana curta, o b-boy (dançarino de breakdance) Lula, que faz parte do coletivo “Hip Hop no Vagão”, começou a se apresentar nos vagões para tirar um sustento extra, além de seu trabalho com carteira assinada. Mesmo em tempos difíceis, o breakdancer levava a dança como uma missão, ao ver tantos retornos lindos.

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Lula, b-boy fazendo sua apresentação no metrô - Foto: Gabriel Azevedo

Italo vê em suas apresentações o brilho no olho da criança, o sorriso no rosto da senhora, sente a vida nesses detalhes, uma das partes mais gratificantes, é ter o reconhecimento dos passageiros, esses que também estão no corre diário, e que muitas vezes não têm tempo para ver nada. Os vagões se tornam palcos, neles as apresentações são diversas, instrumentais, cantores, poetas, dançarinos, é nesse espaço de locomoção, que Italo e Lula, e tantos outros levam e democratizam a cultura. 

Ali escancara a realidade brasileira, de trabalhos precarizados e exploratórios, numa produtividade desumana, em que as pessoas, segundo ele, perdem seu bem mais precioso, o tempo, atrás de dinheiro, para depois gastar o que ganhou, ao tentar recuperar a saúde que perdeu. Lula lembra que as apresentações nos vagões são resistência política e vão muito além disso, é como o oxigênio que necessitamos para viver, temos certeza que a arte é o remédio. Em meio ao caos e a correria os artistas buscam dar uma certa leveza, nem que seja apenas um breve momento de lazer e tranquilidade, levam as pessoas a apreciarem diversas formas de cultura, que por conta da rotina elas não teriam acesso, e ali, nos vagões, no meio de seus trajetos, os passageiros encontram este espaço.

 

 

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