Árbitro precisa de respeito incondicional

Por que o respeito ao árbitro no rugby é a regra, mas no futebol é a exceção?
por
Mário Gandini
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21/11/2024

O árbitro é uma parte central do jogo em todos os esportes. Ele não é apenas responsável por fazer cumprir as regras, mas também pela garantia da equidade e integridade na partida. Porém, os esportes diferem drasticamente na forma como consideram o papel do árbitro. No rugby, os jogadores veem o árbitro como uma autoridade quase inquestionável; sua figura é respeitada, assim como juízes em tribunais.

Segundo Virgílio Neto, jornalista especializado em rugby, "o respeito ao árbitro no rugby não é apenas uma formalidade, é um elemento essencial do jogo. No futebol, infelizmente, essa relação entre jogadores e arbitragem é marcada por tensão e desconfiança".

Portanto, a questão é: por que o respeito ao árbitro no rugby não é um fenômeno universal? E o que o esporte pode ensinar sobre a relação entre jogadores, árbitros e o próprio espírito do esporte?

 

O respeito no rugby: uma questão de cultura

No rugby, o respeito ao árbitro não é apenas uma regra, mas uma tradição que define a essência do esporte. Desde as categorias de base, os jogadores são ensinados a tratar o árbitro com deferência, e qualquer contestação é punida severamente. Virgílio Neto ressalta: "A comunicação entre jogadores e árbitro é restrita e clara, em que só o capitão pode falar com o árbitro, e mesmo assim, sempre com respeito. Isso cria um ambiente controlado, sem desordem ou confrontos desnecessários."

O que torna o rugby singular, segundo ele, é como esse respeito é enraizado em sua cultura. "Ao longo dos anos, o rugby construiu uma imagem de disciplina e fair play. O árbitro é visto como um guardião dessas virtudes, e isso vai além de cumprir as regras — é sobre manter o espírito do jogo vivo.", continuou Neto.

Virgílio também explicou como essa cultura cria um código de honra dentro do esporte: "É impressionante como os jogadores aceitam as decisões de imediato, mesmo quando não concordam. Isso ajuda a manter o foco no jogo, em vez de perder tempo com discussões."

 

Futebol: a pressão e o espetáculo

Enquanto no rugby a figura do árbitro é respeitada quase sem questionamentos, no futebol a situação é bastante diferente. O jornalista destacou a pressão que os árbitros de futebol enfrentam: "O futebol é muito mais emocional. Cada decisão pode desencadear reações intensas tanto de jogadores quanto de torcedores. A cultura do futebol é mais permissiva com protestos e contestações, o que muitas vezes resulta em cenas de confrontos entre atletas e árbitros."

Ele acrescenta que, no futebol, a subjetividade das regras muitas vezes amplifica o problema: "No futebol há mais margem para interpretações, isso gera um ambiente propício a questionamentos e discussões, o que é um prato cheio para conflitos."

 

Culturas esportivas: o que podemos aprender?

Virgílio Neto acredita que o futebol poderia, sim, aprender com o rugby. "Implementar uma cultura de respeito ao árbitro no futebol seria um desafio, mas não impossível. Seria necessário reformar a mentalidade desde as categorias de base, onde os jovens jogadores aprenderiam a respeitar a autoridade do árbitro, assim como ocorre no rugby.", argumentou.

Ele adicionou que o rugby pode servir de modelo para outros esportes: "No rugby, o árbitro não é visto como uma ameaça, mas como alguém que facilita o jogo. Isso cria um ambiente mais saudável, onde a ética esportiva e o respeito mútuo prevalecem."

O respeito incondicional ao árbitro, tão presente no rugby, não se aplica de forma universal a todos os esportes devido a diferenças culturais, emocionais e estruturais. Virgílio Neto reflete sobre essa realidade: "O futebol, com sua pressão constante e clima emocional, tem dificuldade de criar um ambiente semelhante ao do rugby. Mas isso não significa que não possa evoluir nesse sentido."

Ele conclui: "O rugby, com sua cultura de respeito ao árbitro, é um exemplo claro de como a disciplina e o espírito esportivo podem moldar positivamente a experiência do jogo, trazendo mais equilíbrio e justiça para dentro do campo."

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