O mercado passa por uma semana difícil. Com aumentos piores que o fechamento tanto para o dólar que ficou em US 4,90, quanto para a bolsa, que chegou a cair quase 3% após a reação favorável do Federal Reserve (FED), Banco Central dos Estados Unidos. O órgão decidiu elevar as taxas em 0,50 ponto porcentual, maior aumento em mais de 20 anos. Dessa forma, o país entra em uma fase mais severa de aperto monetário.
No Brasil, a alta da SELIC veio dentro do previsto para 12,75% com indicação de um ajuste menor em junho. Entretanto, esse não é o pior cenário. A leitura mais cuidadosa da situação, mostra que os juros nos Estados Unidos vão continuar avançando até que a inflação retorne para sua meta de 2%. Dessa forma, isso pode desviar recursos de outros mercados, principalmente dos emergentes que oferecem maior risco.
O dólar também subiu no exterior logo na abertura dos negócios, com menos intensidade mas pouco abaixo dos patamares mais altos em 20 anos.
Em relação ao Brasil, ficou a percepção que o ciclo de alta dos juros poderá ser mais prolongado. O Comitê de Política Monetária (Copom) mencionou diminuir o ritmo mas não parar na reunião de junho. Com a inflação persistente, como tem se mostrado, é bem possível que a taxa básica chegue aos 13,75% como já prevê boa parte do mercado.
Esse diferencial em relação aos juros praticados no exterior, inclusive nos Estados Unidos, pode manter a atratividade para o capital externo que vinha ajudando a manter o dólar mais baixo, contudo, o fator risco também deve ser considerado, e as incertezas não faltam no âmbito doméstico. ‘‘O ano passado foi muito ruim para o Brasil em termos climáticos, o PIB da agropecuária caiu por conta de quebra de safra e falta de chuva. Ficou difícil para a agricultura e isso acaba influenciando no preço dos alimentos,” explica Rafael Bianchini, analista econômico e professor de Direito da GVLaw.
A instabilidade relacionada às eleições e a questão fiscal, acelerados por fatores políticos e o reforço de arrecadação, têm dado espaço para mais gastos que posteriormente poderão provocar desequilíbrio maiores nas contas. “Eu acho que a gente precisa de uma maior transparência, e isso depende muito do governo, se tivermos uma previsão dos planos para os próximos anos, a gente pode se preparar para o que vai vir.” diz Vera Lúcia Barbosa, professora aposentada, que viu suas finanças virarem de cabeça para baixo no pós-pandemia.
O cenário atual aumenta a instabilidade do mercado, muitas vezes surpreendendo os próprios agentes pela intensidade, como a vista nessa semana. A dúvida se resume à alta de juros para combater uma inflação que não dá sinais de trégua. Se ela vai se encerrar ou se haverá novos aumentos. “Nós temos um governo que gera instabilidade econômica. Isso resulta em um problema. Nós não sabemos até hoje qual vai ser a política fiscal, o que gera uma incerteza, gera um ruído, gera um problema na inflação” diz Bianchini.