Semana de 22: bastidores, impactos e influências

Em texto e vídeo, apresentamos a história do modernismo preservada nos Museus Casa Guilherme de Almeida e Mario de Andrade
por
Nicolas Damazio e Maria Luiza Oliveira
|
01/07/2022

O ano de 2022 marca o centenário da Semana de Arte Moderna, realizada no Teatro Municipal de São Paulo, entre os dias 13 e 17 de fevereiro de 1922. O evento reuniu musica, literatura e pintura e foi idealizado por Graça Aranha, Guilherme de Almeida, Mario de Andrade, Menotti del Picchia e Oswald de Andrade, com a participação também de Anita Malfati. A capital paulista, hoje, abriga museus que guardam detalhes e curiosidades dos bastidores deste grande evento, nas casas onde moraram Mario e Guilherme, na Rua Lopes Chaves, na Barra Funda e na Rua Macapá, no Pacaembu, respectivamente.

Marcelo Tápia, diretor da rede de Museus-Casa Literárias, que abrange além das casas dos modernintas a Casa das Rosas, na Avenida Paulista, conta que foi no ano anterior ao evento que começaram as primeiras conversas entre os organizadores para sua realização: “Segundo Di Cavalcanti, a ideia para a Semana de Arte Moderna de 1922 surgiu durante um encontro do qual ele participou juntamente com Mario de Andrade, Oswald de Andrade, Manotti del Picchia e Graça Aranha no local que foi a primeira exposição dele em São Paulo, realizada em novembro de 1921 na casa-editora “O Livro”,  na Rua 15 de novembro, no centro da cidade”. A exposição em questão reunia originais em nanquim do álbum “Fantoches da meia-noite”, de Di Cavalcanti, publicado pela editora de Monteiro Lobato, a Monteiro Lobato e Companhia. “Nesse encontro, Graça Aranha teria proposto a relizacao de conferências, exposições e concertos afim de divulgar o movimento modernista que acontecia no Rio e em São Paulo, juntando cariocas e paulistas”, complementa Tápia.

foto de mario de andrade
Mário de Andrade

A afirmação do diretor vai de encontro à um dos argumentos do escritor Ruy Castro, que em recente artigo publicado no caderno Ilustríssima, do jornal Folha de S. Paulo desdenha da semana de 22 e reduz seus impactos e influências aos limites da capital paulista.

Arthur Major, educador do Museu Casa Mario de Andrade, conta que o autor de “Pauliceia Desvairada” foi figura central no movimento, por ter participado de sua concepção, ter se apresentado no evento, além de receber em sua casa encontros semanais com os modernistas: “Doze a quinze artistas vinham aqui para discutir rte moderna. Essa casa era efetivamente um centro cultural”. Major conta que quando o escritor subiu ao palco do Municipal, a recepção da plateia não foi das mais positivas: “Os relatos que a gente têm é  que ele foi muito vaiado, ele chegou lá e começaram a fazer mó (sic) zoada, né. Ele até deu uma hesitada, assim, mas Menotti incentivou e ele começou a declamar” Major afirma que se sabe, por meio de textos de Menotti del Picchia, que Mario de Andrade leu o poema “Inspiração” neste dia.

guilherme de almeida
Guilherme de Almeida

O coordenador do Centro de Apoio ao Escritor do Museu Casa das Rosas, Reynaldo Damazio, destaca o aspecto disruptivo do movimento modernista:  “A semana de 22, como evento literário, marcou uma transição, digamos assim, né. Como que a elite branca, burguesa e intelectual brasileira atualizou os registros e os recursos estéticos com as vanguardas internacionais. Para ele, todavia, os maiores impactos do movimento se deram mais tarde, a partir do fim dos anos 20: “Eu acho que o grande salto do modernismo vai acontecer no final dos anos 20, especialmente a partir de 28, com o movimento antropófago do Oswald de Andrade, junto com a Pagu (Patrícia Galvão), com a Tarsila (do Amaral), em que você tem ai um mergulho mais profundo, mais ideológico, mais enraizado realmente na historia do Brasil, em que a estética, a política e a ética começam a se misturar”.

Nos anos que seguiram da semana, Mario de Andrade foi responsável por refletir sobre os verdadeiros impactos e resultados produzidos por ela. “O grande momento de rememoração foi essa conferencia do Mario de Andrade, em 1942, chaada O Movimento Modernista, que ele pronunciou na Casa do Estudante, no Rio de Janeiro. Vinte anos depois da Semana de Arte Moderna, o modernismo já tinha sido aceito, foi um momento de consolidação do modernismo, todas aquelas conquistas de 20, 1ue eles já tinham lutado tinham sido aceitos como procedimentos comuns da arte e da literatura brasileira”, relata Major. Ele ainda ressalta que a ditadura do Estado Novo, de Getulio Vargas, em vigor a época, se apropriou de símbolos modernistas: “Aquilo machucava muito o Mario. Ver que aquele grito de liberdade tinha sido apropriado por uma ditadura”.
 

Saiba mais sobre a "Semana de 22" neste vídeo que produzimos: uma outra forma de contar essa história.

Tags:

Cultura e Entretenimento

path
cultura-entretenimento