A representação da fã mulher é sempre menosprezada?

O mundo dos seguidores de boybands sofre com o julgamento alheio
por
Larissa Isabella
|
29/08/2023

Imagem de divulgação

A partir dos anos 2010, os reencontros de grupos musicais, principalmente os que fizeram sucesso entre os adolescentes, têm se tornado cada vez mais comum. Em alguns casos eles lançam novos projetos, já em outros, a banda se reúne para fazer uma despedida.  

Este é o caso da boyband britânica The Wanted, formada no ano de 2009, pelos músicos Max George, Siva Kaneswaran, Jay McGuiness, Nathan Sykes e Tom Parker. Eles estiveram juntos por cinco anos, até janeiro de 2014, momento em que anunciaram que entrariam em hiato, termo bastante conhecido entre os fãs quando um grupo não se desfaz, mas para de produzir e se apresentar como uma banda.  

Em meio à pandemia de Covid-19, os artistas começaram a provocar os fãs com pequenas sugestões de que gostariam de se reencontrar. No entanto, esse projeto parecia distante para quem os acompanhava, e só um ano e meio depois, em setembro de 2021, The Wanted anunciou que faria novos lançamentos, além de apresentações.   

Em meio a toda a alegria do retorno, os fãs vivenciaram uma tristeza, pois o grupo se reuniu para arrecadar fundos para projetos que beneficiam pessoas com câncer, assim como Tom Parker, que morreu em 2022.   

A estudante Livia Veiga revelou como foi voltar a ver novidades dos ídolos após sete anos de hiato: “Foi um mix de sentimentos. Primeiro eu fiquei muito feliz por poder vê-los mais uma vez juntos, porém foi muito triste a circunstância. Vê-los juntos foi muito gostoso, foi uma nostalgia boa, mas saber que era uma despedida para o Tom machucou bastante.”  

A banda se apresentou algumas vezes antes do falecimento de Parker, mas nunca chegou a voltar ao Brasil, onde fizeram shows apenas em 2012. Livia contou que não conseguiu ir à oportunidade e ficou chateada que o reencontro não cogitou o país.  

Os anos 2010 foram um período de surgimento de várias boybands, principalmente por meio de séries para adolescentes. A Nickelodeon deu um espaço essencial para o crescimento do Big Time Rush, mais um grupo de jovens músicos em ascensão, que contava com Kendall Schmidt, James Maslow, Carlos Pena Jr. e Logan Henderson. E foi assim que Bárbara More conheceu a banda:  

“Eu comecei a gostar de Big Time Rush quando tinha por volta de dez anos de idade. Costumava assistir muita televisão. Como eu amava Nickelodeon e Disney, sabia de cor a grade de programação e quando deveria ligar na TV para assistir meus programas favoritos. Na época em que eu estava no ensino fundamental, o Big Time Rush fazia muito sucesso e minha melhor amiga era muito fã. Comecei a acompanhar também e me apaixonei por eles,” disse a estagiária.  

Continuando, More contou que assim como Livia, ela não foi na apresentação de sua banda preferida quando vieram ao país. Diferentemente do The Wanted, o Big Time Rush fez shows no Brasil no reencontro, que aconteceu em 2021, após sete anos separados. A jovem contou como foi acompanhar esse momento, afirmando que todos estão mais maduros e a vergonha de sofrer bullying por gostar de uma boyband diminuiu.  

“Acho que como menina se torna algo natural esconder o seu amor por boybands. Sempre vai ser considerado algo infantil, imaturo e bobo. Estou na minha melhor idade para ter esse hobby, pois com 21 anos de idade, trabalho e tenho liberdade financeira para gastar com shows e mercadorias. Porém, as pessoas veem como coisa de adolescente ter admiração por um grupo musical.” revelou Bárbara.  

Livia também falou sobre o julgamento que os fãs de bandas, em sua maioria mulheres, que se animam em ver seus ídolos depois de adultos, sofrem: “É sempre uma piadinha ou comentário dizendo: você está muito velha para isso, não acha? Atualmente eu não me importo, continuo curtindo, surtando, amando e gostando do mesmo jeito e compartilho tudo quando quero, mas as pessoas parecem ter um julgamento bem ruim quando veem mulheres gostando de alguma coisa.” 

More continuou e relembrou momentos em que já recebeu críticas por ser fã de boybands depois da adolescência. A garota explicou que ao longo do tempo aprendeu a deixar que os julgamentos não a afetem. 

“Eu procuro entender o motivo das críticas, porque não faz sentido. É muito doido que se incomodem com um hobby alheio, que nada muda na sua vida ou te afeta. Algo inofensivo como admirar uma boyband e reviver tudo aquilo que eu sentia quando estava na escola não deveria incomodar. É uma felicidade pura, que apenas diz respeito a mim. Procuro não gastar energia e mudo de assunto se me criticam. Todos deveriam sentir a nostalgia de ver um ídolo seu retomando os trabalhos, parece que seu coração volta no tempo.” 

Ao falar sobre a situação uma comparação é normalmente feita. Tanto Lívia, quanto Barbara citaram o futebol, motivo de paixão para milhares de pessoas e muito relacionado ao mundo masculino, razão pela qual fazem loucuras. 

“Se homens podem depositar todo seu amor, dinheiro e energia em um time de futebol (formado por cerca se 20 jogadores contando com reservas) porque eu não posso gostar de quatro?”, diz a fã de Big Time Rush

“Um homem pode curtir os jogos de futebol, gastar rios de dinheiro com camisa e outras coisas, e todo mundo bate palma e acha lindo, mas uma mulher não pode gastar seu dinheiro em show? O fanatismo dos homens por qualquer coisa que seja é normal e mais do que aceito, mas quando é uma mulher, isso passa a ser infantil ou querer ser jovem. Isso é bizarro.” Comenta Veiga. 

Em outras situações o reencontro paralisa não só alguns fãs que vivem no Brasil, mas sim quase o país inteiro, causando uma abertura que cada vez mais datas de shows por aqui. Isso rolou com a reunião do RBD, banda criada durante a apresentação da telenovela mexicana Rebelde, no SBT, que foi um sucesso durante o começo dos anos 2000. 

O grupo formado originalmente por Alfonso Herrera, Anahí, Christian Chávez, Christopher Von Uckermann, Dulce María e Maite Perroni, teve pouco tempo junto, mas marcou mais de uma geração. O canal brasileiro em que a novela infanto juvenil passava reunia desde crianças a adultos, que curtiam o programa e as músicas.  

A jornalista Letícia Giollo, de 26 anos de idade, contou que acompanha a banda há quase duas décadas. Para a jovem, o retorno do grupo foi um dos momentos mais emocionantes de sua vida, pelo tempo que ela é fã deles, a banda já se tornou uma das coisas mais importantes.  

Segundo Letícia, seus amigos também comemoraram o reencontro e a apoiaram já que sabiam como era importante para ela. A jornalista comentou que mesmo com a emoção à flor da pele, ela foi racional e duvidou do que estava vendo: “Fiquei com o pé atrás no início, mas no último final de semana, vi a live do primeiro show deles depois de 15 anos [em El Paso, no Texas], e chorei feito criança. Está tudo idêntico: coreografias originais, figurinos com referências aos antigos, eles voltaram a usar os mesmos estilos de cabelos. A setlist tem quase 30 músicas. Parece que o tempo nem passou, sabe, e estou tendo a oportunidade de viver coisas que não consegui na primeira vez.” 

Diferentemente das duas estudantes, Giollo conseguiu ingressos para acompanhar ao vivo a passagem do RBD em solo brasileiro. Mas ela revelou que não foi assim tão fácil, afinal o grupo marcou várias gerações e inicialmente só tinha anunciado três datas no Brasil. O que foi uma grande surpresa para os fãs, já que eles estiveram por aqui muitas vezes ao longo da carreira. 

“[Tentei] Muito mesmo! Foi um verdadeiro salve-se quem puder.  Entrei na fila virtual super cedo, milhões de pessoas na minha frente, fiquei duas horas tentando e nada. Foi uma verdadeira frustração. Depois anunciaram datas extras, mesmo processo e mesma frustração. Nada de novo! E olha que sou muito boa em comprar ingressos. Sempre vou em vários e peguei prática. Nunca na vida fiquei sem conseguir comprar um ingresso e no RBD eu não conseguia para absolutamente nenhum setor. Na terceira vez que anunciaram datas extras, eu consegui! Vou de premium. Falida porém feliz!”, completa Letícia. 

A banda que fez muito sucesso no Brasil, em alguns países da América Latina, Estados Unidos e Espanha, alcançou a marca de conseguir conquistar o mercado latino e também os países que não são hispano falantes. O RBD, em 2008, um ano antes de seu fim, se apresentou no evento de maior alcance atualmente na américa do norte, o show do intervalo do Super Bowl

Alguns dos fãs do grupo mexicano não puderam nem sequer aproveitar o sucesso, que eles logo terminaram a união. No caso desta jornalista que escreve, na vez que a banda veio ao brasil se apresentar, nem a idade mínima para entrar no show eu tinha. Essa reunião é uma última dança para quem não conseguiu viver momentos junto aos cantores e agora têm a oportunidade de ficar lado a lado com muitos outros fãs e celebrar esse momento. 

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