Relatando a Tocofobia

Como é conviver com a fobia da maternidade
por
Barbara Ferreira
|
16/10/2023

A tocofobia é um transtorno de ansiedade pouco estudado, relacionado ao medo excessivo de engravidar e do parto. Foi classificado apenas em 2000 e está muitas vezes ligado a traumas passados ou desinformação sobre contracepção. Os sintomas incluem ansiedade, pânico, pesadelos e insônia. Na matéria Tocofobia: Desvendando o medo do parto, é possível encontrar mais detalhes para compreender o relato a seguir de Giovanna Silva: 

“Lembro que na minha primeira crise, eu sentei pra fazer alguns trabalhos da faculdade e senti algo na minha barriga. Imediatamente, entrei em pânico e não conseguia mais me concentrar. Todo esse desespero durou uns 10 minutos até cessar totalmente” relata Giovanna, que sofre de tocofobia, o medo surreal da maternidade e parto. 

A jovem, hoje com 22 anos, relata que as crises começaram pouco tempo depois de se tornar sexualmente ativa. A cada relação sexual, as preocupações foram se tornando mais frequentes. Minutos após o ato, sentia o coração acelerar, o ar se tornar ausente e os pensamentos começavam a surgir “será que estou grávida? Provavelmente já estou de alguns meses. Minha barriga está inchada, acho que estou gestando”. 

“Sempre usei camisinha, mas os pensamentos rondavam aquele 0,1% de chance de algo pior ter acontecido. Quando uma crise vinha, eu não conseguia respirar e meu namorado tinha que me acalmar. Após um tempo, a crise passava, mas quando eu estava sozinha e começava a pensar em tudo de novo, todo o pânico voltava”. 

Giovanna conta relata que às vezes, quando o período menstrual atrasava, ficava em frente ao espelho analisando a barriga, que podia estar inchada por algum outro motivo. Tateava seus seios para sentir se estavam maiores ou até mesmo já produzindo leite: “O fato de eu ficar muito preocupada com isso só me deixava mais ansiosa, fazendo com que minhas emoções afetassem meu ciclo menstrual, atrasando meu período e me deixando num looping (ciclo) de agonia” afirma.  

Para ela, as redes sociais só pioraram seu quadro de ansiedade: “Nesses aplicativos de vídeo curtos, eu assistia muitas histórias de adolescentes e mulheres que não sabiam que estavam grávidas até o momento do parto. Me lembro de uma menina que contou que acordou com fortes cólicas, mas nada fora do comum. Em certo ponto, decidiu tomar um banho para aliviar a dor, mas descobriu que estava em trabalho de parto ali mesmo. A moça teve seu bebe em casa sem nem saber que estava grávida”. 

As histórias, que viralizaram apavoraram a garota e os pensamentos foram se tornando cada vez mais frequentes, deixando Giovanna ainda mais preocupada com uma maternidade que nem existia. 

“Comecei a perceber que isso estava se tornando um problema quando eu não conseguia me concentrar em mais nada por causa desses pensamentos” e assim, a jovem foi aconselhada a ir ao psicólogo para fazer um acompanhamento. Nas consultas, Giovanna descobriu que seu problema era mais frequente do que imaginava, mas que poderia ser tratado 

A jovem faz tratamento com psicólogo há mais de um ano, tendo diminuído sua frequência de uma vez na semana para apenas uma vez no por mês: “Estou ciente de que o tratamento é uma jornada contínua. As sessões com minha psicóloga têm sido fundamentais para me ajudar a enfrentar meu medo e recuperar o controle sobre minha vida.” afirma.  

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