A questão separatista entre Espanha e Catalunha

Os anseios separatistas atingiram o ápice nos últimos três anos.
por
Fabrício Indrigo
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27/04/2020

No ano de 2019 ficou em ainda mais evidência em território espanhol um conflito que para a surpresa de muitos já existe desde a Idade Média. A tentativa da Catalunha se tornar um território independente em relação a Espanha.

         A Catalunha é atualmente composta em quatro províncias: Barcelona (Uma das maiores áreas urbanas da Europa e capital da Catalunha), Girona, Lérida e Tarragona. Sua formação ocorreu na tentativa de parar a invasão muçulmana em território europeu no século VIII d.C. Alguns séculos se passaram até que em 1137 foram unidos os reinos de Aragão e Catalunha, formando uma base naval que em período marcado por explorações náuticas levou ao expansionismo no mediterrâneo.

Sempre houve diferenciação entre os reinos (basicamente se mantinham todas as instituições, tribunais e constituições diferentes) entre a família real que governava o que no futuro seria a Espanha com a família que governava a Catalunha. Foi por isso que durante a Guerra Franco-Espanhola, a Catalunha se revoltou pela presença de muitos militares em sua região, e acabou se tornando uma república sob proteção da França. Esse pacto teve fim e levou a revoltas consequentes.

A Idade Média também marcou o período de maior crise catalã, exatamente entre os séculos XVI e XVII. Ela deu início à Guerra dos Secadores, ou Revolta da Catalunha, um conflito armado que fez com que os catalães lutassem pela sua independência, contra a Espanha, que nessa altura tinha a dinastia Castela como dominante, a Catalunha recebia apoio militar francês. Esse conflito durou de 7 de junho de 1640 a 13 de outubro de 1652.

Gerou-se como resultado a assinatura do Tratado dos Pirinéus, onde foram cedidos o condado de Rossilhão, e mais da metade do condado da Sardenha, que faziam parte do Principado da Catalhuna para a França. Em 1652 as autoridades francesas renunciaram ao domínio sobre a Catalunha, mas mantiveram o controle sobre a região do Rossilhão, dividindo definitivamente a Catalunha.

Dentre toda sua história, o século XX marcou um período de extrema repressão por parte do Governo espanhol em relação a Catalunha. Muito graças a Ditadura franquista, que dois anos após tomar o poder, guerreou em 1938 e matou mais de 3500 pessoas e levou outros milhares ao exílio, tomando assim o controle da região, além disso, chegou a até mesmo proibir o uso da língua catalã.

Sua autonomia só foi restabelecida em 1977 com a volta da democracia. Em 2006 o governo espanhol aprova um estatuto de autonomia da Catalunha. Esse estatuto dava maior poder sobre decisões comerciais e judiciais ao governo regional. Contudo, em 2010 o Tribunal constitucional nacional suspende esse decreto, aliado a isso uma crise econômica estoura na Espanha e acaba reforçando a causa separatista.

Linha do tempo da história Catalã
Linha do tempo da história Catalã

A causa separatista já teve muitos personagens, dois dos mais conhecidos são: Antoni Gaudí, um dos maiores gênios da arquitetura da história, que em sua juventude bate de frente com os mais conservadores e passa a integrar o Movimento Nacionalista da Catalunha. E um personagem que não é propriamente uma pessoa, mas uma instituição; o Fútbol Club Barcelona, um dos maiores clubes do mundo e que é agente ativo na luta separatista.

Esse ponto é tão verdadeiro, que em seu estádio está escrito em catalão “Mais que um clube”, e o clube dá liberdade a jogadores como Gerard Piqué para se posicionarem politicamente. Esses personagens são determinantes para que mais da metade da população da região seja adepta do movimento.

Torcida do Barcelona em protesto durante clássico contra o Real Madrid. Foto: CorreioDoPovo
Torcida do Barcelona em protesto durante clássico contra o Real Madrid. Foto: CorreioDoPovo

Os episódios do segundo semestre do ano passado são consequências de atitudes totalitárias por parte do governo espanhol como destituições e prisões de líderes políticos catalães, como Carles Puigdemont. O professor de Relações Internacionais na Universidade Autónoma de Lisboa e no ISCTE-IUL, Filipe Vasconcelos Romão em entrevista ao Diário de Notícias Portugal afirmou que uma das soluções viáveis para resolver essa questão é o federalismo:

"Teoricamente a médio e longo prazo pode ser uma solução. Os mais independentistas dos catalães dizem que esse comboio já passou há bastante tempo, mas efetivamente, face ao cenário de endurecimento de Madrid, essa é uma via possível, apesar de esse endurecimento ter sido bem aceito pela sociedade espanhol. A maior parte das sondagens reforçam os partidos, nomeadamente o Ciudadanos, que defendeu uma solução dura para a Catalunha para que outras regiões não caíssem na mesma tentação." 

 Atualmente a Catalunha é lar de cerca de 7 milhões de pessoas, também é um dos pontos turísticos mais procurados dentro do território espanhol, graças ao seu clima e território mediterrâneo. Por isso e por toda sua trajetória histórica as pessoas e principalmente a União Europeia ficam atentos no desenrolar dessa história, torcendo para um desfecho positivo.

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