Puxadores de votos: quem são e por que são tão importantes para os partidos

Candidatos famosos conquistam muitos votos e levam mais parlamentares para o Congresso
por
Beatriz Loss e Pedro Galavote
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01/10/2022

O que os humoristas Tiririca e Gustavo Mendes, o ator Mário Frias, o jogador de vôlei Maurício Souza, a mulher do ex-ministro da justiça Sérgio Moro, Rosângela Moro e o político Guilherme Boulos têm em comum? Estes são alguns dos exemplos de puxadores de votos das eleições deste ano.

Humoristas, atores, cantores, atletas ou até familiares de políticos viram candidatos. Eles são os candidatos a deputado federal ou estadual que conseguem muitos votos, aumentando o quociente eleitoral de seu partido e levando outros parlamentares para ocupar cadeiras no congresso também.

O eleitor brasileiro a cada quatro anos tem que se preocupar com muitas coisas: conhecer os candidatos, seus projetos, seu histórico na política etc. Muitas vezes, o que acaba sendo uma escapatória mais fácil, é votar em um candidato famoso.

 

Como são preenchidas as cadeiras no congresso

Para entendermos a importância dos puxadores de voto, primeiramente, é importante compreender como funciona a eleição de deputados no Brasil. Trata-se de um sistema de votação proporcional, ou seja, o candidato eleito não se elege apenas com seus votos. Os votos recebidos vão, na verdade, para o partido e é estabelecido um quociente eleitoral de forma proporcional ao número de eleitores de cada estado.

O cálculo funciona dessa maneira: se o candidato tiver, por exemplo, 1 milhão de votos no estado de São Paulo e 10 cadeiras para o Estado em Brasília, cada candidato precisa de 100 mil votos para ser eleito. Um exemplo mais concreto é o Tiririca, que há três mandatos vem elegendo mais dois ou três com a votação que ele consegue. Em seu terceiro mandato teve 445 mil votos do colégio eleitoral e levou consigo mais 3 candidatos de seu partido para a Câmara (400 ÷ 100 = 4), que no caso é o PL-SP.

“Alguns puxadores de votos conseguem votação suficiente para eleger dois, três, até cinco parlamentares. Um caso histórico é o do Enéas Carneiro, que em 1994, sozinho, elegeu ele e mais quatro deputados, um inclusive com menos de cem votos. Ele teve um milhão e meio de votos e isso no cálculo, deu mais 4 parlamentares com ele”, afirmou Marco Antônio Carvalho Teixeira, cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

O problema de se colocar alguém com pouco entendimento e conhecimento do funcionamento do mundo político, é que eles acabam se tornando apenas figuras usadas pelos partidos para ter mais cadeiras ocupadas por suas legendas e seu viés político. O próprio Tiririca desde 2011 teve apenas 17 leis aprovadas e desde 2019, nenhuma foi sancionada - o que mostra a dificuldade de um candidato ‘totem’ se tornar uma figura presente na política.

“O que acontece é que muitos puxadores de votos acabam chegando no congresso sem ter a menor noção do que vai fazer, sendo graças a sua notoriedade, e não por sua distinção ou diferenças em termos de capacidade de fazer o trabalho legislativo”, observou Teixeira. “Digamos que [os puxadores de votos] tenham sido mais um agregador de cadeiras na bancada dos partidos. É raro a gente lembrar de um puxador de votos que assumiu protagonismo na política brasileira”, completou.

 

A problemática do sistema proporcional

No Brasil, o sistema de votação proporcional, este em que um candidato consegue levar outros para o Congresso, acontece apenas nas eleições para deputados e vereadores. Segundo João Feres Júnior, cientista político do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ), este tipo de eleição acaba sendo mais confuso para os eleitores, e é pouco transparente, visto que, muitas vezes a população não entende ou nem sequer sabe a forma como funciona esse sistema.

“Estamos acostumados a  escolher uma pessoa, um nome para votarmos, mas esse tipo de escolha que deve ser feito para o Legislativo é pouco compreendido e faz com que pessoas ineficientes sejam eleitas e ainda levem mais parlamentares consigo”, acrescentou Feres.

As eleições para os demais cargos, como por exemplo, presidente e governador, que também serão votados nas eleições em outubro, são feitas pelo sistema de voto majoritário, ou seja, o candidato com 50% mais um é eleito, um esquema mais fácil para o entendimento dos eleitores.

Os especialistas, Teixeira e Feres, concordam que apesar de os puxadores de votos serem candidatos com alguma fama ou reconhecimento público por fatores ou feitos não políticos, é de se esperar que as eleições deste ano não sejam tão parecidas com as de 2018 nessa questão de eleger famosos. Naquele ano, com a Operação Lava Jato, muitas das pessoas que tinham ou têm cargos relacionados à justiça ganharam bastante credibilidade, além das diversas propagandas políticas trazendo ‘novas pessoas’ ou ‘formas de pensar’ para a política. Além disso, com o uso das redes sociais e algoritmos como estratégia de campanha política, os candidatos artistas e outros, acabaram por ganhar também notoriedade.

Hoje, em 2022, é possível observarmos através das redes sociais e das pesquisas eleitorais, que a população está em busca de candidatos mais ‘tradicionais’ e que tenham militância partidária histórica.

 

Os candidatos puxadores de votos

Para nós que estamos do lado de fora das campanhas eleitorais, apenas acompanhando pesquisas de intenção de voto e eventos mais pontuais dos candidatos, pode parecer óbvio que algum candidato seja eleito com facilidade e que leve consigo outros companheiros do partido.

Embora os puxadores de votos existam, às vezes, os candidatos com tal potencial podem não se enxergar nesse papel. Guilherme Boulos, candidato a deputado federal pelo PSOL, diz que sua campanha está muito dedicada para que ele seja eleito, mas como não é algo definido ainda, há muito trabalho pela frente agora nesta reta final.

“Nossa candidatura tem um bom recall por conta das eleições de 2018 e 2020, mas isso não significa que seremos puxadores de votos. Há quem acredite até que eu já esteja eleito, o que é um raciocínio equivocado”, afirmou Boulos. "Estamos trabalhando muito, indo às ruas e conversando com a população todos os dias, sempre com pé no chão e sem salto alto. Todo voto importa”, completou.

Não são só os candidatos da esquerda que preferem trabalhar com os pés no chão nesta campanha. O candidato a deputado federal pelo Republicanos, Celso Russomanno, também é muito conhecido por sua atuação na política e também pela sua luta em defesa do consumidor e tem um ponto de vista parecido.O parlamentar conseguiu mais de 500 mil votos nas eleições de 2018 e foi um dos puxadores de votos no estado de São Paulo.

Apesar do seu reconhecimento, a assessoria de Russomanno afirmou que a reta final da campanha eleitoral é muito importante, pois as eleições sempre são diferentes e que não pode cantar a vitória antes, mas que continua confiante em sua campanha e em seus eleitores. 

 

Créditos da foto: Michel Jesus/Câmara dos Deputados

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