Em sintonia com o que aconteceu no congresso, em que elegeu apenas 3
deputados federais, o Partido Novo teve o número de deputados estaduais em São
Paulo reduzido. Se em 2018 a sigla ocupava 4 cadeiras na Alesp, agora vai possuir
apenas uma - a de Leo Siqueira.
Nas eleições de 2022 como um todo, o Novo amargou resultados ruins. A queda na
Câmara dos Deputados fez com que o partido não atingisse a cláusula de barreira,
que coloca como meta um número mínimo de votos e deputados eleitos para dar
acesso ao fundo eleitoral e à propaganda eleitoral.
Além disso, Felipe D'Ávila, candidato à presidência, teve apenas 0,47% dos votos
válidos. O resultado é pior do que em 2018, quando João Amoêdo, o então
candidato do Novo e um de seus fundadores, atingiu a porcentagem de 2,5%.
No caso específico de São Paulo, a queda na Alesp vem logo após uma crise que
ocorreu no partido durante as eleições para prefeito na capital. Na ocasião, o
postulante ao cargo Filipe Sabará teve sua candidatura suspensa pela própria sigla
após serem apontadas uma série de inconsistências em seu currículo. Porém, antes
disso, Sabará já havia entrado em conflito com Amoêdo e outras lideranças do
partido por fazer defesas ao presidente Jair Bolsonaro.
Outro episódio que mostra a discórdia instaurada dentro do partido é a briga entre
duas vereadoras do Novo dentro da Câmara Municipal de São Paulo. Um vídeo
mostra Cris Monteiro (Novo) e Janaína Lima (Novo) se desentendendo atrás da
Mesa Diretora da Casa.
O conflito foi provocado por uma questão de tempo do microfone durante a votação
da Reforma da Previdência e resultou em diversas agressões físicas de uma contra
a outra. Após o ocorrido, ambas foram suspensas pelo partido.
Camila Rocha, autora do livro ‘‘Menos Marx Mais Mises: o liberalismo e a nova
direita no Brasil’’, explica o motivo de tantos desentendimentos internos dentro do
Novo: ‘‘Nunca existiu um consenso em relação a outras pautas para além da defesa
de um livre mercado radical. Eles não tinham um programa amplo o suficiente para
abarcar outras questões que não sejam a defesa de um liberalismo puro e simples’’.
Para Henrique Costa, mestre em Ciência Política e doutorando em Ciências Sociais
na Unicamp, o derretimento do Novo se deve a alguns pilares. Em primeiro lugar,
Costa afirma que as pautas liberais foram capturadas pelo bolsonarismo, que por
essência, é hegemonista, e que permite que o eleitor se alie apenas a ele de forma
submissa.
Além disso, o analista acredita que uma formação histórica do eleitorado brasileiro
pode contribuir para que o partido com cunho liberal e anti-populista não tenha
deslanchado. Para ele, a política brasileira carrega um histórico de um Estado muito
presente, tanto no sentido de políticas públicas, quanto no sentido de um
autoritarismo.
‘‘Em um certo sentido, o Novo seria um PSDB mais radical. O Novo tentou substituir
o PSDB no sentido de ser um partido de quadros, preocupado com o
desenvolvimento do país e que adota o neoliberalismo como forma de resolução
dos conflitos sociais, mas de uma forma muito mais aberta’’, explica Rocha.
Apesar do quadro geral negativo, o Novo foi capaz de reeleger um governador no
segundo maior colégio eleitoral do país, Minas Gerais. A pergunta que fica para o
partido agora é porque o sucesso de Romeu Zema não trouxe melhores resultados
para a sigla.
Para Costa, algumas das explicações passam pelo fato que o perfil do governador
foge do que é comumente visto dentro do partido: ‘‘Ele não parece um empresário
da Faria Lima, ele tem um carisma, uma maneira de se expressar que fala muito ao
interior de Minas’’.
A última grande polêmica envolvendo o partido foi a desfiliação de João Amoêdo
após o fundador declarar o voto em Lula no segundo turno das eleições. Grande
parte de seus aliados demonstrou descontentamento com a situação.
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Maurício Rappa, candidato do Novo para o cargo de deputado federal de São Paulo,
nos deu sua opinião sobre o tema da rejeição ao Lula e ao PT. “Votar no Lula é o
maior retrocesso que poderíamos ter. Por mais que o Amoedo tenha declarado
apoio a ele, precisamos basear nossas ideias nos principais líderes ativos do
partido, como o Zema, por exemplo”. Rappa admite que os valores de Bolsonaro
não são os ideais e que estão longe do que o Novo deseja para o país, mas que a
volta de Lula ao poder não é algo cogitável.
Com isso, a força do partido no cenário nacional vai diminuindo, fazendo com que
muitos se questionem qual será o futuro da sigla. O próprio Romeu Zema já falou
em uma possível fusão com outro partido.
Em entrevista ao Uol, Eduardo Ribeiro, presidente do partido, afirma que o Novo já
foi até procurado por outros partidos para uma fusão, mas no momento isso não
está sendo cogitado pelos líderes da sigla. Ribeiro afirma, no entanto, que estuda
formar um bloco com outros partidos para reforçar a atuação parlamentar.
O presidente considera fundamental a criação de novos diretórios em todo país,
para conseguir lançar o maior número possível de candidatos nas eleições
municipais de 2024. Assim, o partido poderia chegar com força nas eleições de
2026 para presidência.
Caso essa “reviravolta” não ocorra, o Novo corre o risco de perder Zema para uma
sigla mais forte, buscando maiores chances de se tornar presidente. Por enquanto,
ele ainda afirma que se sente confortável no partido e que não tem planos de
mudar.
Para o futuro, Camila Rocha acredita que a tendência da sigla é se fundir com
outros partidos menores por conta da cláusula de barreira, o que pode diminuir
ainda mais a projeção do Novo.