É dezembro de 2012 na Índia. Um crime brutal choca o país e o resto do mundo. O assassinato e estupro de uma jovem estudante de medicina. Jyoti Singh tinha apenas 23 anos quando foi estuprada por seis homens dentro de um ônibus em movimento. Morreu duas semanas depois devido aos ferimentos. Esse foi só mais um de uma sequência de casos brutais de violência sexual contra mulheres que marcam a história do país.
Em um levantamento realizado pela Fundação Thomson Reuters, a Índia liderou o ranking de violência contra a mulher e foi considerado o país mais perigoso do mundo para elas viverem. Segundo a entidade, os estupros registrados pela polícia aumentaram em 83% entre 2007 e 2016.
Embora o assassinato de Jyoti não tenha sido um caso isolado, ele se tornou histórico para a nação marcada pela violência sexual endêmica, exacerbada e pouco punitiva. O caso indignou tanto a população, que levou milhares de pessoas as ruas protestando pelo direito das mulheres. Durante um mês, uma onda de manifestações sem precedentes tomou as ruas do país. Os protestos não só pressionaram o governo indiano para aumentar as punições, mas também, impulsionaram o debate sobre violência de gênero.
No ano seguinte, cinco meses após o crime, o governo aprovou uma emenda à legislação criminal, ampliando a definição de estupro e implementando leis mais duras contra esse crime e outras violências contra a mulher. Recentemente promulgada, a lei aumentou o tempo de prisão na maioria dos casos e trouxe a pena de morte por repetidos casos de estupro, ou estupro que causa coma, entre outras alterações.
As manifestações de 2012 não mudaram apenas a legislação do país, elas levaram ao questionamento de uma cultura nacional marcada pela desvalorização da mulher e pela visão totalmente equivocada de gênero e sexualidade. As mulheres, vítimas desses abusos, começam a vir a público e denunciar, mesmo que ainda enfrentem obstáculos tanto na hora da denúncia quanto para obter justiça. Como em todas as comunidades patriarcais, elas são estigmatizadas e sempre culpabilizadas pelos crimes pelos quais foram vítimas, mas passam a questionar isso.
Segundo o jornal BBC, nos dois anos procedentes ao crime brutal, as denúncias de abuso sexual saltaram de cerca de 25 mil por ano (em 2012) para mais de 36 mil (em 2014). A violência contra mulheres permanece em altos níveis. De acordo com dados oficiais do país, a polícia indiana registrou 33658 casos de estupro em 2017, cerca de 92 estupros por dia. As queixas, porém, estão muito abaixo da realidade.
Entre 2018 e começo de 2019 novos casos chocaram o país. Duas jovens de 16 e 17 anos foram estupradas e queimadas vivas em episódios diferentes ocorridos na mesma região do estado de Jharkhand. Uma garota de oito anos foi vítima de abusos coletivos durante dias, e depois foi assassinada no norte do país. Uma médica veterinária de 27 anos na cidade de Hyderabad foi estuprada coletivamente, assassinada e carbonizada. Seu corpo incendiado foi encontrado embaixo de um viaduto.
A Índia é um país em desenvolvimento e enfrenta uma série de fatores que são essenciais para a formação de um ambiente seguro para a mulher, como o crescimento populacional, pobreza e o analfabetismo. Além disso, o seu tamanho e a diversidade cultural e religiosa de sua população, tornam ainda mais difícil que uma política única seja adotada pelo governo para lidar com esses casos de violência.
Embora os números continuem alarmantes, eles demonstram que os sobreviventes estão denunciando os crimes e a polícia exercendo melhor o papel de registrar os casos. O endurecimento das leis e a conscientização da população tem também diminuído o estigma que as vítimas de violência sexual vêm sofrendo ao longo da história. Essa conscientização da sociedade vem mudando a maneira da sociedade de encarar o estupro e contribuindo para mudanças estruturais na sociedade.
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