O principal índice da Bolsa de São Paulo, o Ibovespa, vem apresentando oscilações curiosas neste ano. Até março estava em alta e chegou a bater um recorde histórico, ultrapassando 100 mil pontos. Recentemente, teve uma baixa e hoje bate os 92 mil pontos. Projeções mostram que até o final deste ano, o Ibovespa pode chegar até 112 mil pontos, segundo a corretora Necton, batendo um novo recorde. Todos estes altos e baixos podem ser explicados por uma série de fatores que não necessariamente são econômicos.
É importante entender, primeiramente, o funcionamento da B3, como foi rebatizada a BM&FBovespa após fusão com a Cetip, em 2017. Os investidores escolhem as ações que julgam ter maior possibilidade de retorno, de acordo com o cenário político, econômico e social. E assim o Ibovespa se torna um índice extremamente volátil e irregular pois qualquer evento que aconteça em território nacional ou ao redor do globo pode afetar os números da bolsa. Em entrevista, o economista Philipe Aguiar; da Ativa Investimentos, reflete sobre o assunto. “O Ibovespa responde à oferta e demanda dos investidores. Eles tendem a antecipar movimentos de acordo com as expectativas e perspectivas que julgam ser mais viáveis”, afirma.
Um fato recente que mostra o quão volátil pode ser o Ibovespa é a intervenção do presidente Jair Bolsonaro no reajuste do preço do diesel no dia 12 de abril deste ano. Ele barrou um aumento de 5,74% no preço do combustível. O mercado reagiu negativamente: as ações da Petrobras caíram 8% e a bolsa recuou 2%.
*até 16/04
Outro ponto importante é que o Ibovespa é um índice muito internacionalizado, ou seja, as ações das principais empresas que o compõem são muito dependentes de fatores externos, de como anda a economia internacional. André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, explica essa questão. “A bolsa é dependente de fatores externos. As principais empresas que compõem o índice são duas de commodities, Petrobras e Vale; dois bancos, Bradesco e Itaú e a cervejeira Ambev. A Petrobras e a Vale não oscilam pelo nível de atividade doméstica, mas muito mais pelo preço das commodities, especialmente minério de ferro e petróleo”, diz Perfeito. As ações da Petrobras representam quase 15% do Ibovespa; Vale – 10,6%; Itaú – 9,6% e Bradesco – 10,4% Assim, aproximadamente 45% das ações do principal índice do país sofrem influência direta do preço do petróleo, minério, dólar e juros.
Atualmente, existem dois fatores que exercem maior influência nas oscilações do Ibovespa: a tramitação da reforma da Previdência e o mercado internacional. A reforma da Previdência é um assunto presente a todo momento na grande mídia. Portanto, acaba afetando o Ibovespa. Aguiar, da Ativa, fala um pouco sobre a importância da reforma para os investidores. “Sua aprovação funciona como uma âncora pelo mercado. Cada passo que o governo dá em seu favor é recepcionado com otimismo, tratando-se de um sinal de que o país pode tornar-se mais produtivo, desenvolvido, eficiente e sustentável a longo prazo. Ao mesmo tempo, cada passo dado no sentido contrário à aprovação da proposta é visto com receio pelo mercado, que teme pela não solvência da economia local a médio e longo prazo”, explica o economista. Foi justamente a euforia causada pela possível aprovação da reforma que determinou o recorde histórico de 100 mil pontos em 18 de março deste ano.
Aguiar também apresenta alguns dados que, segundo ele, demonstram a importância de uma mudança na Previdência Social do país. “Hoje, os custos previdenciários somam aproximadamente 13% do PIB brasileiro, enquanto saúde e educação ficam com apenas 4% e 6%, respectivamente. Em 2018, gastamos aproximadamente dez vezes mais em previdência do que com educação, por exemplo. Isso significa que o país gasta dez vezes mais com nosso passado do que com nosso futuro”, reflete.
Além da reforma da Previdência, o mercado internacional é um fator determinante. Para André Perfeito, estas oscilações na bolsa têm muito a ver com a queda dos juros nos Estados Unidos, que facilitam a compra de commodities, por exemplo. “Os juros hoje estão baixos e, deste modo, você não coloca o dinheiro na renda fixa, mas sim na renda variável. E isso tem a ver com os baixos juros dos Estados Unidos, que estão no patamar mais baixo da história”, completa Perfeito.
No que se refere ao futuro, as perspectivas para o Ibovespa são otimistas, pelo menos até o final do ano. Projeções apontam que o principal índice da B3 pode fechar 2019 batendo um novo recorde. Até o final de março, a expectativa era de 114 mil pontos, porém a intervenção do Bolsonaro no preço do diesel fez essa projeção cair um pouco. André Perfeito analisa este fenômeno. “Este evento ocorreu em um momento nervoso, de euforia do mercado. A queda das ações, somada à leve queda no PIB, fez com que a expectativa do Ibovespa caísse de 114 mil pontos para 112 mil”, explica.