Ivonete durante sua passagem pela Coreia do Norte
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Ao contrário do que muitos pensam, apesar de ser uma nação extremamente fechada, a Coreia do Norte possui sua própria indústria cinematográfica, que é motivo de muito orgulho. Em coletiva aos alunos de jornalismo noturno da PUC-SP, a especialista em cinema Ivonete Pinto relatou suas percepções a partir da ida à Coreia do Norte e a produção cinematográfica propagandista no país no país.
O cinema de um país é considerado o retrato da cultura nacional, e o mesmo ocorre nas produções norte-coreanas. As produções variam de gênero, mas todas trazem a mesma mensagem: promover Kim Jong-un, atual Líder Supremo do país, e o Partido dos Trabalhadores da Coreia. As narrativas tentam mostrar como a vida melhorou com o governo atual, e japoneses e norte-americanos são sempre tidos como os vilões dos filmes de ação.
Para surpresa de muitos, um dos grandes impulsionadores do cinema na Coreia do Norte foi o ex-líder do país Kim Jong-il, pai de Kim Jong-un. Cinéfilo por natureza, nas décadas de 1970 e 1980, ele contribuiu com financiamentos e verbas para a indústria cinematográfica. Apesar de todo investimento, ele continuava insatisfeito com a qualidade das produções norte-coreanas, e como solução ordenou, em 1978, o sequestro do diretor sul-coreano Shin Sang-ok e de sua esposa, a atriz sul-coreana Choi Eun-hee.
O cinema da vizinha Coreia do Sul era muito admirado por Kim Jong-il, desde o período anterior à separação das coreias, por isso o casal foi levado ao país do norte com o intuito de participar dos filmes locais e de aproximar o cinema norte-coreano de hollywood. A intenção de King Jong-il era que os sul-coreanos transformassem a indústria cinematográfica do país para que pudessem competir com a dos Estados Unidos e de outras potências.
"The Flower Girl" (1972) e "Youth"(1994) são filmes clássicos norte-coreanos produzidos durante o regime de Kim Jong-il. Os longas explicitam o nacionalismo exacerbado e o cinema propagandista realizado no país. O primeiro, é provavelmente o filme mais popular e querido da Coreia do Norte, e conta a história do sofrimento de uma florista e sua família nas mãos de senhores de terra japoneses. A narrativa é feita de maneira que beira o melodramático, o que se justifica já que os norte-coreanos têm um certo fascínio por filme épicos, característica originalmente do cinema chinês, mas que repercute nas produções locais.
Já Youth vai na direção contrária do drama. É uma comédia da década de 90, mas que apesar do distinto gênero possui clara intenção propagandista, com cenas dedicadas a homenagear o governante do país (nesta época Kim Jong-il). Cenas que falam de "deixar a bandeira de Kim Il-sung pelo mundo" a partir do sucesso do país no Taekwondo ou nos esportes geral. Mesmo quando há "diversidade" de gênero, a mensagem sempre é a mesma.
Como um país ditatorial, a censura é uma realidade vivenciada pelos habitantes. Para ser aprovada a produção, as narrativas têm que passar pelo crivo do líder atual do país, que define o que pode ou não ser disseminado para a população. O resultado disso tudo é um país cada vez mais nacionalista e com as mesmas convicções, visto que o cinema, que é uma das mais poderosas armas para construção de um pensamento crítico, é refém de uma ideologia. Os norte-coreanos matariam e morreriam por seu líder, e como afirma a crítica de cinema: "O nacionalismo é o alimento e o combustível de tudo isso (regime ditatorial)".
O ápice de intercâmbio cultural no país é durante a realização do Festival Internacional de Cinema de Pyongyang, criado em 1987. já que a população tem acesso somente a filmes nacionais. O festival é o único local em que a população, que tem acesso somente a filmes nacionais, tem a oportunidade de assistir a produções internacionais, não necessariamente recentes. O evento ainda permite a presença de jornalistas estrangeiros que, ao contrário dos outros festivais ao redor do mundo, têm que arcar com os custos para comparecer, reitera Ivonete.