O espetáculo tem que continuar

O Cirque du Soleil volta ao Brasil com “Bazzar”, que estreou na Índia em 2018, mas foi interrompido durante a pandemia, quando a trupe multinacional pediu concordata.
por
Laura Mariano
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22/09/2022

Depois de um hiato de quase três anos e de entrar em um processo de recuperação judicial por conta das dificuldades financeiras impostas pela pandemia de Covid-19, que eliminou a principal fonte de renda do grupo, o Cirque du Soleil volta ao Brasil. A partir do próximo dia 8, “Bazzar” será apresentado em São Paulo, nas tendas instaladas no Parque Villa-Lobos, na Zona Oeste da cidade. Dois meses depois, o espetáculo, que estreou mundialmente na Índia, em 2018, chega ao Rio, no estacionamento do RioCentro.   

No palco, o “Bazzar” é ocupado por 29 acrobatas e quatro músicos. Suas cores, vibrações e acrobacias remetem, ele conta, aos primórdios do Cirque, criado na década de 1980, quando os artistas ainda se apresentavam nas ruas de Montreal, no Canadá.  O espetáculo de seis atos é inspirado justamente no caos criativo destes primeiros shows (o Cirque acaba de completar 38 anos) e no tilintar dos mercados árabes, os bazares, espalhados pela Ásia, com vendas de temperos, artesanato e tapetes.    

Logo no primeiro ato, patinadores e bikers acrobáticos se movem buscando oferecer a sensação de que tudo na história se conecta. E  de que é possível sentir, mesmo da plateia, a vibração e a sensação rítmica do picadeiro. Liderada por um personagem batizado de Maestro, os acrobatas esbanjam virtuosismo, assinatura característica do Cirque du Soleil, e a narrativa, mais ou menos solta, pensada antes da pandemia, e fortalecida com os perrengues por ela causados, é centrada na rotina dos artistas e em uma passagem de bastão: um personagem batizado de “Mini-maestro” precisa compreender as habilidades do “maestro” para se afirmar que o espetáculo não pode mesmo parar.   

O Maestro comanda a cena enquanto a trupe segue sua liderança em um palco repleto de espelhos. Os reflexos representam as infinitas possibilidades que a vida nos dá. É em meio ao caos frenético das escolhas que o Maestro se perde.  

“Bazzar” também apresenta ao público técnicas inéditas para o Cirque, entre elas o hairceau (uma mistura de aro aéreo com suspensão de cabelo, uma exibição inédita) e o mallakhamb, espécie de ginástica de origem indiana, cujas práticas centrais são traduzidas no palco. Não por acaso, a primeira apresentação do espetáculo, em agosto de 2018, se deu em Bombaim. De lá pra cá, ele mudou um pouco: o Maestro agora interage diretamente com o público, aumentaram as atividades suspensas e a altura em que elas ocorrem, “ficando ainda mais surpreendente”, de acordo com o diretor.  

Aos poucos, o Maestro recupera o controle. A trupe se une novamente, um manipulador de fogo domina o palco, mas um ato não intencional de outra personagem, a ingênua Mulher Flutuante, oferece algo como um recomeço. Mas agora caberá à trupe decidir o futuro do espetáculo.  

“Bazzar” conta com a participação de dois brasileiros, o acrobata Helder Vilela, que faz números no ar com panos e já participou de aventuras anteriores do Cirque, e o percussionista Fred Selva.    

“Pro ‘Bazzar’, eles queriam um percussionista brasileiro que desse um ‘sotaquezinho’ musical que ‘abrazucasse’ o espetáculo”,  explica Selva, que incluiu na cozinha instrumental o pandeiro e o timbau.   

Já Helder Vilela faz um solo no ar com panos. Em 2018, ele foi convidado para uma audição do Cirque no Brasil e participou da versão de “Cosmos” apresentada em uma turnê europeia da trupe.     

“Ter sido atleta (ele jogou futebol, inclusive nas divisões de base do São Paulo) acabou me ajudando muito, inclusive para o novo solo”, diz o acrobata.   

Os ensaios brasileiros de “Bazzar” marcam também a primeira vez que os artistas voltaram a ensaiar os números desde a interrupção do show no começo de 2020. Quase todos os funcionários — cerca de 4 mil, entre técnicos e artistas — foram dispensados e o processo de concordata, com pedido de recuperação judicial ao governo canadense para evitar a falência, marcaram o Cirque, mas não o jogaram na lona.    

“Recomeçamos as turnês em dezembro de 2021 e alguns integrantes chegaram a ficar trinta meses afastados dos palcos. Ninguém sabia como estariam física e emocionalmente. Por isso, e após um trabalho árduo, será especialmente emocionante reencontrar com os brasileiros”, diz Frank Hanselman, diretor sênior da turnê.   

“Bazzar” fica em cartaz de 08 de setembro a 27 de novembro em São Paulo, e de 8 a 31 de dezembro no Rio. Os ingressos em São Paulo variam de R$140 a R$690, e no Rio de R$61,50 a R$690, on-line, pela plataforma Eventim, ou nas bilheterias.

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