Por Helena Cardoso
A viagem de Curitiba a São Paulo foi tranquila. Junto de sua neta, Lissa, e um presente especial, Eldair, de 88 anos, embarcava para fazer algo pela primeira vez. A viagem tem cerca de quatrocentos quilômetros, mas o voo durou apenas uma hora. Chegaram na ‘terra da garoa’ com um objetivo.
Em 2022, a senhora pintou um quadro para Lewis Hamilton – sim, o piloto britânico de Fórmula 1, a principal categoria do automobilismo do mundo. Finalizado no dia treze de outubro daquele ano, cada pincelada tinha significado. E guardaram o presente desde então A imagem escolhida era de Hamilton no pódio, depois de uma vitória emblemática no Grande Prêmio do Brasil, em 2021. Na ocasião, foi desclassificado, largou da última posição, mas ainda assim conseguiu vencer a etapa.
A tela foi estampada com o momento em que o cidadão honorário brasileiro segurava a bandeira do Brasil, em frente aos milhares de brasileiros em Interlagos. Com o verde predominando, junto do amarelo e o personagem principal com os braços abertos. Atrás do quadro, uma mensagem, que dizia que ela era a fã número um de Lewis, como ela o chama, e que ele era o melhor. Além de pedir para entrar em contato com a neta. A missão era fazer com que no final do dia, ele estivesse com esse quadro em mãos.
Foi só neste ano que a avó e a neta – que sempre viajaram juntas, já que a mãe não gosta de avião – conseguiram se organizar para ir à corrida. Com o quadro em mãos, saíram do hotel no sábado, o segundo dia de novembro, com destino ao Autódromo José Carlos Pace. Nunca tinha ido ao lugar. Era a primeira vez que assistia uma corrida ao vivo, com os carros passando bem de perto, na sua frente. Pela manhã, assistiram à corrida Sprint, uma etapa curta, com cerca de vinte voltas — comparada às 71, da corrida principal. Eldair torceu, claro, para Hamilton, mas Lissa também acompanhou Lando Norris – que disse que é palmeirense como ela – e Charles Leclerc.
Depois seguiram para a Fanzone, comum nas outras etapas da temporada mas que aconteceu pela primeira no Brasil. O espaço consiste em um gramado, com diversas ativações, mas entre elas a principal é o palco, em que pilotos, chefes de equipe e figuras históricas do automobilismo interagem com o público e respondem perguntas. No dia, a dupla da equipe Mercedes tinha um compromisso.
Era quase meio dia e meio – cerca vinte minutos de atraso – quando Lewis Hamilton subiu, junto do seu companheiro de equipe, George Russell. Nem o sol forte, comum naquela hora do dia, impediu a dupla. Eldair e Lissa ficaram em uma parte ao lado do palco, com mais sombra, onde estavam as pessoas com algum tipo de necessidade especial ou preferência. Na multidão, de longe, era possível ver o quadro sendo balançado. Além disso, a jornalista brasileira, que mediava e traduzia o evento, comentou diversas vezes sobre Eldair, de cima do palco.
Algum tempo depois, no meio da apresentação dos pilotos, alguém da equipe de Hamilton veio perto de onde Lissa e sua avó estavam, e pegou o quadro de suas mãos. E a missão foi cumprida. A tela pintada a mão, chegaria na até o “brasileiro” de alguma forma. Observando, é possível ver que eles não pegam tantos presentes dos torcedores. Mas esse era muito especial para ser deixado para trás.
A mulher que simpatizou com Lewis desde a sua estreia na F1, em 2007. Agora, dezessete anos depois, torce para ele independente da posição em que ele termina a corrida – de acordo com ela, desde o primeiro lugar, até o oitavo, décimo ou último. E, ainda bem, uma vez que o final de semana não foi muito positivo para o piloto favorito de Eldair, que terminou o GP de São Paulo na décima colocação.
A emoção era muito grande. Segundo ela, que conseguiu suportar por causa de um marca-passo, — aparelho que regula os batimentos cardíacos — que a senhora de 88 anos colocou no ano passado. Além de todo o calor durante a primeira metade do dia, e a chuva forte que insistia em cair na parte da tarde, nada disso impediu Eldair de curtir e torcer por Hamilton. Para a neta, a experiência também foi memorável. ouvir o barulho dos carros e chegar perto da pista causou uma sensação inexplicável.
Lewis Hamilton, no final de semana em que fez uma homenagem a Ayrton Senna, recebeu o carinho do público brasileiro, que de certa forma adotou o piloto. Durante o evento no sábado, quebrou o protocolo e fez o que nenhum outro – excluindo os brasileiros que passaram pelo palco montado – fez. Desceu e passou por toda a extensão da grade. Autografando bonés e braços, que no futuro se tornarão tatuagens, e abraçando aqueles que enfrentaram sol e chuva para torcer.