A nova geração enxerga na moda sustentável a alternativa para salvar o planeta

Brechós são meios alternativos para o consumo de moda ética e menos nociva ao meio ambiente
por
Isabella Marinho, Luíza Feniar, Isabella Falconier, Cinthia Bretone e Letícia Costa
|
23/06/2021
Montagem autoral de Cinthia Bretone
Montagem autoral de Cinthia Bretone

É comum ver propagandas de novas coleções de moda sazonalmente através de diversos meios de comunicação, como anúncios personalizados nas redes sociais, propagandas televisivas e cartazes em shoppings. Porém, devido ao novo fluxo de informação, a preocupação com o meio ambiente, o consumo mais consciente e o entendimento sobre a cadeia de produção em grande escala incentivam as pessoas a comprarem peças nos brechós.  

Como forma de combater e educar a sociedade sobre o quanto a indústria da moda é nociva ao planeta, surgem movimentos ao redor do globo que estudam e explicam a relação entre moda, ética e sustentabilidade.

O fast fashion se refere a uma produção de peças em massa que visa o novo, a dependência e o apelo visual, é o tipo de confecção de roupa que mais agride o meio ambiente e que se encontra em lojas de varejo. Já o slow fashion surge em oposição ao anterior e preza por processos diversos, regionais, que incentivam a consciência socioambiental e que são caracterizados por pequenas e médias escalas de produção.

O marketing da indústria da moda aparenta influenciar a população brasileira de forma eficiente, uma vez que o consumo de roupas pelo brasileiro é o maior da América Latina, de acordo com um estudo feito pela consultoria A.T. Kearney. No entanto, os resultados desse consumo em larga escala e exacerbado afetam gravemente o meio-ambiente. Segundo a Ellen MacArthur Foundation, a produção têxtil utiliza aproximadamente 93 bilhões de metros cúbicos de água por ano, o que é equivalente a 37 milhões de piscinas olímpicas. O relatório da fundação explica que os tecidos liberam toxinas e fibras poluentes 16 vezes mais do que as micropartículas presentes em cosméticos barrados em vários países. Prevê-se que, até 2050, caso nenhuma medida seja tomada, 22 milhões de toneladas de microfibras plásticas serão liberadas no oceano. Além disso, a indústria da moda é responsável por 1,2 bilhão de toneladas de gases de efeito estufa por ano, valor que ultrapassa a junção da aviação comercial e da indústria naval.

Dentre esses novos métodos de consumo, encontra-se o upcycling, uma técnica que consiste na reutilização de materiais diversos para produção criativa e sustentável de novos produtos. Isabela Sales, dona da loja Isabela Sales DSGN, trabalha apenas com confecção de acessórios feitos de pneus. “Pelo que percebi, os motivos que levam os consumidores a comprar são bem variados, uns gostam do design, outros compram pelo regionalismo, outros por ser uma empresa gerida por uma mulher, e sim, muitos compram por terem essa consciência ambiental. Mas na maioria dos casos percebo que é sempre esse conjunto de motivos que os levam à compra, as pessoas entendem o valor e ficam muito felizes quando adquirem os produtos, acho que é uma compra sem “peso”, com menos culpa”, relata Isabela sobre a motivação do consumo slow fashion.

A moda ética por sua vez, nas palavras da pesquisadora em Engenharia de Produção e Estudo de Desenvolvimento, Luciana dos Santos Duarte; é uma moda sustentável que contempla cinco critérios: valores ambientais, econômicos, sociais, culturais e políticos. "Para quem consome, a importância está na responsabilidade individual, é uma consciência de que você está fazendo a sua parte para com o mundo. Para quem vende, é uma importância de educar o consumidor. A moda ética traz uma consciência de um novo agir para reformular nossas atitudes” diz Luciana.

  • Mas qual o papel dos brechós na moda ética e sustentável?

De acordo com a pesquisadora, além de os brechós serem uma saída para as gerações Y e Z, que tem consciência da moda sustentável, mas que não tem dinheiro para consumi-la, uma vez que ela é mais custosa, os brechós aumentam o ciclo de uso das roupas.

Uma pesquisa da GlobalData, empresa de análise de varejo, prevê que, até 2025, haverá um aumento de 112,5% no valor movimentado pelo mercado de roupas de segunda mão. Embora comprar “sem sentir culpa” seja um ótimo motivo para que o consumo em brechós aconteça, há outros fatores que influenciam esse comportamento de consumo nos jovens. Dentre eles, estão a busca pela moda vintage, o preço mais acessível e a sensação de dar novo significado a uma peça que já possui história.

Tatiana Portella, diretora e bailarina da Sopro Cia de Dança, que agora consome apenas em brechós, escolheu consumir moda second hand pelo custo-benefício e fator econômico, mas relata que foi provocada a refletir sobre o impacto ambiental depois da mudança de comportamento. Além disso, ela explica que, como artista, se encanta pela história da roupa que já passou por alguém, que agora passa por ela e que, um dia, irá passar por outra pessoa. A diretora da cia de dança conta que já montou dois figurinos inteiros apenas com roupas de brechó para suas obras.

brechó
Brechó Tudo de Bom de Silvana Batistelli/Produção: Isabella Marinho
 

Como parte de um movimento sustentável regido por jovens, no campo social, os brechós abraçam a diversidade e o rompimento para com padrões, dessa forma, não há um estilo ou perfil único de seus consumidores. Regia Diana do Couto, dona do Brechóvisk, relata que o público LGBTQIA+ é muito presente nas lojas. Segundo ela, gays e pessoas trans são os que mais os procuram dessa comunidade para experimentar novos estilos de roupa e se redescobrirem, “uma vantagem do brechó é justamente ter todo tipo roupa para todo tipo de pessoa e estilo”, diz a empreendedora.

A moda, que antes era relegada somente ao campo do supérfluo e do subjetivismo, pela maior parte da sociedade, agora, assume um dos personagens centrais de uma luta premente para as gerações mais novas e para as gerações futuras. Fato é que o planeta não irá sobreviver se a sociedade não alterar sua forma de existir como um todo e isso envolve principalmente a sua maneira de consumir.

O conhecimento mais acessível e a variedade de roupas, estilos, locais de consumo e preços são pontos que ajudam a juventude a se manter engajada na causa sustentável, mas o que prevalece é a vontade de preservar seu local de existência, o planeta.

 

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