Não é novidade falar que as mulheres estão e fazem parte do futebol. Mas uma questão importante - e antes não debatida - é o efeito de uma particularidade de mulheres cis (Em estudos de gênero, a cisgeneridade é a condição da pessoa cuja identidade de gênero corresponde ao gênero que lhe foi atribuído no nascimento): a menstruação. E, no esporte, como isso funciona? O clube inglês, Chelsea, é pioneiro no trabalho com a categoria feminina.
A tradicional equipe inglesa implementou um sistema de monitoramento do ciclo menstrual das atletas para avaliar como a condição natural pode afetar no rendimento da jogadora. A iniciativa vem da treinadora Emma Hayes, um dos nomes mais fortes do futebol feminino no mundo.
Em entrevista ao jornal britânico The Telegraph, Emma destacou que as mulheres, por muitos anos, treinaram da mesma maneira que homens, o que não otimizava o trabalho das jogadoras
“Eu sou uma treinadora em uma indústria onde mulheres sempre foram tratadas como ‘homens pequenos’. Todo trabalho de recuperação, força e condicionamento vem de uma base do que os homens fazem. O que me deu o ‘estalo’ foi que nós, mulheres, passamos por algo totalmente diferente que os homens todo mês”, destacou a comandante dos Blues.
O sistema de monitoramento consiste em avaliar a condição física das atletas no período menstrual, adequando dieta - reforçando na alimentação e no consumo de Ferro, por exemplo -, e dando treinos específicos no momento de ovulação.
Em 2007, o Hospital Portland divulgou uma pesquisa que mostrava que mulheres têm mais risco de sofrer lesões musculares e nos tendões na metade e no fim do ciclo menstrual. Dado importante e de atenção quando falamos de atletas de alto rendimento.
No Brasil, alguns clubes já adotam esse cuidado. Pioneiro no futebol feminino, o Santos acompanha as mudanças hormonais e físicas de suas atletas. O Bahia conta com um software que permite às atletas regularem intensidade do treino, recuperação, qualidade do peso, sono e, claro, ciclo menstrual.
O Corinthians, time de maior destaque no cenário do futebol feminino em 2019, ganhando a Libertadores e o Paulista, também rastreia o histórico menstrual das jogadoras e cria uma ficha para cada atleta.
Taline Costa, coordenadora de medicina do Corinthians feminino, destacou a importância da medicina esportiva e suas especificações.
“Temos que entender as particularidades das mulheres, de forma que elas não sejam encaradas como “homens com cabelo”. A medicina esportiva entra muito no sentido da atenção e de entendimento global da saúde da mulher e das especificações da mulher. Sim, ela está sujeita a variações hormonais diferentes dos homens, alterações genéticas diferentes dos homens.
A coordenadora também destacou o trabalho feito no clube paulistano.
“A gente sabe como é o ciclo menstrual de cada atleta, conseguimos identificar as atletas que têm alteração relacionada ao ciclo para que a gente possa fazer qualquer tipo de intervenção e preservação”.
Vale destacar que o futebol está cada vez mais ‘tecnológico’ e que a ciência e o esporte estão caminhando cada vez mais juntos. A necessidade de ter um atleta 100% exige atenção em qualquer ponto da saúde física e mental do jogador.
Ivi Casagrande, preparadora física do Orlando Pride, time de Marta e Alex Morgan, ressalta que, falar de condições específicas de mulheres no esporte e menstruação não são tabus tão grandes e é preciso desmistificar esse preconceito.
“Se tiver alguma coisa,uma dor de cabeça no treino, vai afetar no rendimento. Não é um bicho de sete cabeças assim.”