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Caso você ainda não tenha ouvido sobre, pobreza menstrual é a situação que diversas mulheres em condição de vulnerabilidade econômica e social se encontram por não terem acesso a banheiros, saneamento básico e a protetores menstruais. Infelizmente, nesses parâmetros os absorventes acabam sendo considerados artigos de luxo.
Devido a dependência financeira, são adolescentes o alvo mais vulnerável à precariedade menstrual. Existem dois fatores que contribuem ainda mais para isso: a falta de educação sexual, e a subordinação aos responsáveis, que precisam comprar o item. A falta de absorvente também afeta o desempenho na escola, dados da ONU apontam que, no mundo, uma em cada dez meninas faltam às aulas durante o período menstrual. Se levarmos em conta que a média de idade da primeira menstruação se dá aos 13 anos, em muitos casos até mesmo aos 9 anos, é possível concluir que a média da vida estudantil feminina terá uma perda de 7%, considerando o ensino fundamental 2 e o ensino médio, por conta de faltas relacionadas a ocorrências menstruais.
Os números do problema no país, segundo levantamento UNICEF ''desigualdade e violações de direitos'' :
- 713 mil meninas vivem sem banheiro ou chuveiro em casa
- 900 mil meninas não tem acesso à água canalizada em seus domicílios, e 6.5 milhões vivem em casas sem ligação à rede de esgoto
- 4 milhões de meninas sofrem com pelo menos uma privação de higiene nas escolas. Isso inclui falta de acesso a absorventes e banheiros com sabonetes.
- mais de 4 milhões de meninas não tem acesso a itens mínimos de cuidados menstruais nas escolas. Meninas negras tem quase 3 vezes mais chance de viver nessas condições do que as brancas, e 37% delas moram em locais sem saneamento básico, comparado a 24% das brancas.
Recentemente, a marca Always lançou a campanha #MeninaAjudaMenina, um movimento de conscientização, incentivo e doação. Em parceria com ONGs de todo o Brasil, entre 1 e 30 de maio de 2021, em centros de comércio de cada país, na compra de cada pacote de absorvente Always, a doação de um absorvente a instituições e organizações não lucrativas foram distribuídos a meninas que precisam de ajuda, totalizando 1 milhão de entregas. Através dessa mesma campanha, foi realizada uma pesquisa nomeada "Contra a Pobreza Menstrual'', constatando que uma entre quatro estudantes já deixou de ir à escola por não ter absorventes , dentre elas, 48% tentou esconder que o motivo foi a falta de absorventes e 45% delas acredita que isso impactou negativamente o seu rendimento escolar.
Campanha Always, combatendo a Pobreza Menstrual
A pesquisa concluiu, principalmente, que até 45 dias de aula por ano letivo são perdidos pela falta de absorventes, que a menstruação ainda é um tabu e deve se ter mais informação sobre isso, que a falta de acesso a absorvente causa evasão escolar, e que a pobreza menstrual piorou na pandemia e é uma questão de saúde. Sendo assim, o ato natural de menstruar é mais um fator de desigualdade de oportunidades entre os gêneros.
Vale enfatizar, que devido as limitações financeiras as mulheres precisam recorrer a outras alternativas. 50% das entrevistadas já precisou substituir o absorvente por papel higiênico, roupa velha ou toalha de papel (em classes mais baixas, tecidos são ainda mais utilizados como substituto). A utilização desses itens é tão grave que pode causar infecções seríssimas no trato urinário, rins e lesões no órgão reprodutor. Além disso, é interessante pontuar que até mesmo absorventes menstruais (quando não trocados no tempo correto), também podem acarretar em doenças sérias.
"É importante ressaltar que a menstruação foi feita para sair do corpo, e não ficar retida dentro da vagina por muito tempo", alerta Eduardo Motta, ginecologista do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, em entrevista à GALILEU. De acordo com o especialista, absorventes usados por muito tempo podem servir de porta de entrada para agentes infecciosos causadores de doenças graves, como é o caso da SCT - síndrome do choque tóxico. "O ideal é que esses produtos sejam usados por curtos períodos de tempo, até quatro horas. Além disso, a mulher deve estar atenta à higiene da região íntima e do coletor ou absorvente reutilizável", destaca o especialista.
Dessa forma, ao abordar sobre pobreza menstrual também estamos falando da necessidade de que cada pessoa com útero tenha acesso à diversos absorventes por mês, para todo o ciclo, e também direito à informação e educação íntima correta e funcional.
E é justamente por conta disso, que o projeto "'Sem Pobreza Menstrual'' está em busca de um time de colaboradores mensais. Como elas mesmas contam em seu Instagram (@sempobrezamenstrual), o foco principal não está em números soltos de doações, buscam firmar cada vez mais compromissos mensais com cada colaborador, pois a menstruação chega todos os meses! Para as fundadoras, uma mulher ter acesso a absorventes íntimos ou coletores menstruais para usar regularmente, é sim questão de saúde pública, e o mínimo para garantir a dignidade humana. Logo, elas chegaram a conclusão de que o fato da população que menstrua ser sujeitada ao uso de objetos inadequados para conter o sangramento, mostra algo lamentavelmente arcaico para uma sociedade que muitas vezes se intitula civilizada e preocupada com equidade." juntas e gastando pouco podemos levar dignidade menstrual para várias mulheres", indagaram.
No início de outubro, o presidente Jair Bolsonaro sancionou a criação do Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual (Lei 14.214). Vetando assim, entre outras propostas, a distribuição gratuita de absorventes femininos para estudantes de baixa renda e pessoas com útero em situação de rua. A sanção foi publicada na edição do dia 07/10 do Diário Oficial da União. Tal ação, trouxe a tona grandes discussões sobre o tema e (ao menos) possibilitou sua disseminação, assim, mais indivíduos se deram conta da real dimensão desse problema no país.
Fonte: Capricho
Mesmo com o veto, grandes cidades e estados possuem Programas para auxilio da saúde íntima:
- O governo de São Paulo conta com o programa ''Dignidade Íntima", que prevê o investimento de 30 milhões em produtos de higiene menstrual para serem distribuídos em escolas estaduais.
- Em setembro, a Lei de combate à pobreza menstrual foi sancionada em Aracaju, garantindo a distribuição de absorventes para estudantes da rede pública. De acordo com a prefeitura, o projeto ''Florir'' busca impactar 7272 jovens matriculado.
- Logo após o veto do presidente, o governador de Santa Catarina anunciou que assinaria decreto para a distribuição gratuita de absorventes a estudantes de baixa renda. A licitação prevê a compra de 600 mil absorventes, além de palestras e ações de conscientização sobre menstruação.
- Também em setembro, o governador de Roraima sancionou a lei que garante o acesso de absorventes para pessoas em vulnerabilidade social e sua distribuição em cestas básicas.
- No mês de julho, o governo estadual do Amapá lançou a campanha Dignidade Menstrual para levar informações sobre saúde íntima para pessoas em vulnerabilidade.
Felizmente, projetos sociais sem ajuda governamental também estão cada vez mais presentes. Como outro exemplo, pode ser citado a iniciativa ''ciclo.28". Na página do Instagram, os criadores - da equipe da Enactus da Liga de Empreendedorismo FGV - explicam que ela surgiu através do sentimento da inquietação do grupo a cerca da omissão de grande parte da sociedade para com o tema. Dessa forma, nasce da necessidade de iniciativas que promovam a saúde feminina, principalmente no período menstrual. Em parceria com a La Sangre, o projeto lançou um absorvente sustentável, sendo uma opção prática e duradoura e amiga do meio-ambiente. A cada dois absorventes vendidos, 1 será doado para uma mulher em situação de pobreza menstrual, auxiliando diretamente no combate desse obstáculo social e econômico.
Os dados mostrados anteriormente, explicitam a necessidade de informar crianças, jovens e adolescentes sem tabus e preconceitos, garantindo a eles uma educação sexual e íntima, sendo uma questão de saúde pública e ensino básico e igualmente subsidia-los em tal âmbito. Cabe ressaltar, que em momentos como esse, em que pautas sociais de extrema importância são ignoradas por governantes, é crucial nos mantermos altruístas, empáticos e dispostos a ajudar os outros.