A cada momento em que nos aproximamos mais das eleições a procura de políticos e partidos por apoio de artistas vem se intensificando e quase todos os dias vemos nas notícias ou nas redes sociais postagens de celebridades demonstrando o seu apoio a certos candidatos, como o cantor Caetano Veloso, ou se abstendo de se posicionar e sendo cobrados pelo público, como o influenciador Carlinhos Maia. Segundo Sérgio Trein, professor de pós-graduação em comunicação da UFRR e doutor em comunicação política pela PUC-RS, a busca das campanhas por apoio declarado de celebridades “é uma técnica de persuasão, de utilizar essas pessoas para produzir um determinado eco público, de que a campanha é uma unanimidade.”
Trein também explica que “Quando se começa uma campanha eleitoral, sempre é feito um levantamento dos possíveis apoiadores do candidato. [...] Normalmente, nessa etapa, estas pessoas são contatadas e indagadas se manifestariam o seu apoio publicamente, nos programas de rádio e de televisão. Ocasionalmente, ao longo da campanha, alguns artistas vão declarando o seu apoio [...]”. Mas ele ressalta que “[...] existem regras em termos de direitos autorais e direitos de imagem. Não se pode utilizar a imagem ou a declaração de alguém sem a expressa autorização. Portanto, se um artista não concorda em gravar um depoimento ao candidato, uma fala anterior ou em outro contexto não pode ser utilizada.”
A campanha do candidato à presidência do PT, Luís Inácio Lula da Silva, vem fazendo grande uso dessa técnica e vem conquistando apoio de artistas que até então fugiam de posicionamentos políticos, um grande exemplo disso é a cantora Anitta, que se absteve de se posicionar nas eleições de 2018 e acabou sendo criticada nas redes e ganhando fama de “isentona”, mas a falta de posicionamento político foi deixada para trás pela cantora, que se tornou uma das maiores críticas do governo Bolsonaro e se juntou a campanha de Lula quando declarou voto ao ex-presidente pelo Twitter, onde ela escreveu:
Em uma sequencias de tweets, Anitta explicou a sua decisão de passar a apoiar o petista publicamente:
Quando perguntado sobre o que estaria fazendo artistas que até então não se posicionavam politicamente, prestarem apoio a candidatos nessas eleições, como o caso de Anitta, o professor Sérgio Trein explica que “o que talvez esteja acontecendo agora seja um fenômeno de contrariedade ao atual governo e seu candidato à reeleição, devido aos cortes feitos na área da cultura e a desvalorização das artes.”, e salienta que “o artista é uma pessoa como qualquer outra e tem todo o direito de expressar a sua opinião política”
Os motivos dos artistas não se posicionarem vão do medo do cancelamento nas redes sociais, que pode gerar a perda de seguidores e de contratos, ao medo de se expor ao “risco [de] associar a sua imagem a um político desonesto, corrupto, [ou] incompetente”, segundo o professor Sérgio Trein. Mesmos artistas que tem grande nome no mercado do entretenimento já relataram e criticam em suas redes sociais o boicote de marcas que não contratam celebridades que se manifestam politicamente ou tentam vetar suas manifestações contratualmente, entre eles está o YouTuber Felipe Neto e a cantora Luíza Sonza, que declarou via Twitter:
A briga dos artistas para poderem se manifestar politicamente livremente chegou até mesmo nos palcos dos festivais. O Lollapalooza sofreu censura no início do ano quando o antigo ministro do TSE, Raul Araújo, acatou pedido do PL, partido de Jair Bolsonaro, e decidiu que artistas não poderiam se manifestar politicamente, pois isso configuraria campanha eleitoral antecipada, mas a decisão foi derrubada e arquivada. No Rock In Rio o problema foi outro, a vice-presidente do festival deu entrevista e afirmou que “política não se faz em festival”, o que não agradou muitos artistas, como o cantor Emicida que declarou em seu show no Palco Sunset: “Tem gente dizendo que não é de bom tom falar de política no palco de festival. Mas, se eu estou vivo aqui, é porque o Racionais decidiu falar de política 30 anos atrás".
Para os candidatos e partidos, entretanto, o caminho para essas parcerias é um pouco menos complicado, já que o risco de atrelar a sua imagem aos artistas que os apoiam é mínimo quando comparado aos benefícios que esses apoios podem trazer, pois, de acordo com o professor Sérgio Trein, os artistas trazem para as campanhas “uma espécie de unanimidade no espaço público, de que todos estão com o candidato, [e as] celebridades sempre têm a oportunidade de emprestar o seu carisma à campanha.” e ressalta que “Os candidatos precisam da mídia. A política não pode conviver com o silêncio.”