Na reta final das campanhas, artistas e influencers revelam seus apoios políticos

A eleição está cada vez mais próxima e a adoção pela divulgação de posicionamentos políticos e a participação em campanhas de candidatos entre as celebridades cresce.
por
Lidiane Miotta
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29/09/2022

A cada momento em que nos aproximamos mais das eleições a procura de políticos e partidos por apoio de artistas vem se intensificando e quase todos os dias vemos nas notícias ou nas redes sociais postagens de celebridades demonstrando o seu apoio a certos candidatos, como o cantor Caetano Veloso, ou se abstendo de se posicionar e sendo cobrados pelo público, como o influenciador Carlinhos Maia. Segundo Sérgio Trein, professor de pós-graduação em comunicação da UFRR e doutor em comunicação política pela PUC-RS, a busca das campanhas por apoio declarado de celebridades “é uma técnica de persuasão, de utilizar essas pessoas para produzir um determinado eco público, de que a campanha é uma unanimidade.”

 

Trein também explica que “Quando se começa uma campanha eleitoral, sempre é feito um levantamento dos possíveis apoiadores do candidato. [...] Normalmente, nessa etapa, estas pessoas são contatadas e indagadas se manifestariam o seu apoio publicamente, nos programas de rádio e de televisão. Ocasionalmente, ao longo da campanha, alguns artistas vão declarando o seu apoio [...]”. Mas ele ressalta que “[...] existem regras em termos de direitos autorais e direitos de imagem. Não se pode utilizar a imagem ou a declaração de alguém sem a expressa autorização. Portanto, se um artista não concorda em gravar um depoimento ao candidato, uma fala anterior ou em outro contexto não pode ser utilizada.”

 

A campanha do candidato à presidência do PT, Luís Inácio Lula da Silva, vem fazendo grande uso dessa técnica e vem conquistando apoio de artistas que até então fugiam de posicionamentos políticos, um grande exemplo disso é a cantora Anitta, que se absteve de se posicionar nas eleições de 2018 e acabou sendo criticada nas redes e ganhando fama de “isentona”, mas a falta de posicionamento político foi deixada para trás pela cantora, que se tornou uma das maiores críticas do governo Bolsonaro e se juntou a campanha de Lula quando declarou voto ao ex-presidente pelo Twitter, onde ela escreveu:

 

Twett publicado por Anitta, em 11 de julho, onde ela declara seu apoio ao candidato Lula.
Twett publicado por Anitta, em 11 de julho, onde ela declara seu apoio ao candidato Lula.

 

Em uma sequencias de tweets, Anitta explicou a sua decisão de passar a apoiar o petista publicamente:

 

Twett publicado por Anitta, em 11 de julho, onde ela explica a sua decisão de apoiar publicamente o candidato Lula.
Twett publicado por Anitta, em 11 de julho, onde ela explica a sua decisão de apoiar publicamente o candidato Lula.

 

Quando perguntado sobre o que estaria fazendo artistas que até então não se posicionavam politicamente, prestarem apoio a candidatos nessas eleições, como o caso de Anitta, o professor Sérgio Trein explica que “o que talvez esteja acontecendo agora seja um fenômeno de contrariedade ao atual governo e seu candidato à reeleição, devido aos cortes feitos na área da cultura e a desvalorização das artes.”, e salienta que “o artista é uma pessoa como qualquer outra e tem todo o direito de expressar a sua opinião política”

 

Os motivos dos artistas não se posicionarem vão do medo do cancelamento nas redes sociais, que pode gerar a perda de seguidores e de contratos, ao medo de se expor ao “risco [de] associar a sua imagem a um político desonesto, corrupto, [ou] incompetente”, segundo o professor Sérgio Trein. Mesmos artistas que tem grande nome no mercado do entretenimento já relataram e criticam em suas redes sociais o boicote de marcas que não contratam celebridades que se manifestam politicamente ou tentam vetar suas manifestações contratualmente, entre eles está o YouTuber Felipe Neto e a cantora Luíza Sonza, que declarou via Twitter:

 

Tweet publicado por Luísa Sonza, em 9 de Junho, onde ela revela o boicote de marcas contra artistas que se posicionam politicamente.
Tweet publicado por Luísa Sonza, em 9 de Junho, onde ela revela o boicote de marcas contra artistas que se posicionam politicamente.

 

A briga dos artistas para poderem se manifestar politicamente livremente chegou até mesmo nos palcos dos festivais. O Lollapalooza sofreu censura no início do ano quando o antigo ministro do TSE, Raul Araújo, acatou pedido do PL, partido de Jair Bolsonaro, e decidiu que artistas não poderiam se manifestar politicamente, pois isso configuraria campanha eleitoral antecipada, mas a decisão foi derrubada e arquivada. No Rock In Rio o problema foi outro, a vice-presidente do festival deu entrevista e afirmou que “política não se faz em festival”, o que não agradou muitos artistas, como o cantor Emicida que declarou em seu show no Palco Sunset: “Tem gente dizendo que não é de bom tom falar de política no palco de festival. Mas, se eu estou vivo aqui, é porque o Racionais decidiu falar de política 30 anos atrás".

 

Para os candidatos e partidos, entretanto, o caminho para essas parcerias é um pouco menos complicado, já que o risco de atrelar a sua imagem aos artistas que os apoiam é mínimo quando comparado aos benefícios que esses apoios podem trazer, pois, de acordo com o professor Sérgio Trein, os artistas trazem para as campanhas “uma espécie de unanimidade no espaço público, de que todos estão com o candidato, [e as] celebridades sempre têm a oportunidade de emprestar o seu carisma à campanha.” e ressalta que “Os candidatos precisam da mídia. A política não pode conviver com o silêncio.”

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