Por Daniel Santana Delfino
O cenário do hip hop, especialmente nas batalhas de rima, tem testemunhado uma transformação significativa com a crescente presença e protagonismo das mulheres. Essas artistas desafiam preconceitos e reivindicam seu espaço trazendo suas vozes e experiências únicas para um ambiente historicamente dominado por homens. Exemplos dessa mudança podem ser observados em várias partes do Brasil, como na Batalha Dominação em São Paulo, que acolhe a artista travesti Poliana Hérica. Poliana usa a poesia e suas vivências para enriquecer o palco, mostrando a diversidade que o hip hop pode abraçar.
Entre os novos talentos, a rapper não-binária Devilzinha, aos 21 anos, se destaca. Considerada uma das melhores de sua geração, Devilzinha representa a comunidade LGBTQIAPN+ e faz de sua arte uma plataforma para levantar bandeiras de diversidade e inclusão. Ela enfatiza a importância de ocupar todos os espaços possíveis, desafiando as algemas do preconceito e da opressão.
Outro nome em ascensão é MC Pepper, a estudante Sarah Sophia Alves de Souza, que se destaca nas batalhas de São Paulo. Sua determinação e talento refletem um movimento crescente de mulheres que estão ganhando espaço nas batalhas de rima. No Rio de Janeiro, Pitanga Zn, também conhecida como Thaynara, encontra na rima uma forma de libertação e fortalecimento como mulher negra, trazendo um impacto significativo para a cena local.
A Batalha da Aldeia, uma das mais conhecidas em São Paulo, tem sido um espaço crucial para o fortalecimento do envolvimento feminino. A edição especial, Batalha das Venenosas, acumula milhões de visualizações no YouTube, evidenciando o poder das mulheres no hip hop. Esses eventos são mais do que competições; são espaços de expressão, resistência e identidade, onde as mulheres encontram uma maneira de desafiar normas e reivindicar seu lugar na sociedade.
MC Alice Gorete, uma rapper de Maceió, compartilha sua perspectiva sobre a evolução da participação feminina nas batalhas. Ela reconhece os desafios impostos por um ambiente ainda opressor e machista, mas ressalta a importância de ser autêntica e resiliente. Para Alice, a presença das mulheres nas batalhas não só desafia estereótipos, mas também inspira outras a seguirem o mesmo caminho.
Alice descreve sua experiência na Batalha da Aldeia (BDA) como intensa e transformadora. Participar de um evento tão significativo a fez refletir sobre sua trajetória e a força necessária para se manter firme na cena do hip hop. Ela destaca a importância de momentos de superação, como o dia em que, apesar de toda a emoção, conseguiu se centrar e entregar uma performance memorável.
O triunfo de mulheres como Kaemy, que venceu a final enfrentando Neo, demonstra que elas estão ocupando espaços anteriormente reservados aos homens. A conquista de Kaemy inspira outras mulheres e comprova que, com força e determinação, é possível quebrar barreiras e alcançar o reconhecimento merecido.
A narrativa dessas artistas não apenas enriquece a cena do hip hop, mas também serve de exemplo e inspiração, mostrando que a diversidade é fundamental para a evolução da cultura. Suas histórias e lutas refletem uma nova era nas batalhas de rima, onde as mulheres não apenas participam, mas também lideram e transformam.