Medicina preventiva, o que o Brasil pode aprender com Cuba

Mesmo com a “expulsão” dos médicos cubanos do país, ainda precisamos aprender muito com eles.
por
Victor Henrique de Freitas Almeida Santos
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27/04/2020

Cuba sempre foi fonte de muita discussão e opiniões divergentes da imprensa mundial, jornais do mundo todo normalmente nunca tiveram muitas informações de dentro da ilha, pois o país após a independência em 1959, recebeu um grande embargo econômico-político dos EUA, fato que acabou acarretando diversos problemas na questão da imigração para fora do pais, além de dificuldades na exportação e importação de produtos e insumos básicos para a ilha.

 Apesar de todas as dificuldades econômicas, Cuba desenvolveu um sistema de saúde e educação público extremamente eficiente, com números que superam diversos países considerados de primeiro mundo. Na questão da educação por exemplo menos de 1% da população é analfabeta, pois o ensino básico é disponível para todas as pessoas, já na saúde, os números são igualmente assustadores, com uma expectativa de vida média de 78 anos, Cuba é referência no tratamento de doenças, mas usa a seu favor principalmente os vastos conhecimentos sobre a questão da medicina preventiva.

Com as dificuldades em conseguir insumos básicos, como remédios e aparelhos médicos, devido ao embargo econômico imposto pelos Estados Unidos, Cuba teve de especializar seus médicos no tratamento preventivo de doenças, além de providenciar na questão publica um ótimo sistema de saúde, que atendesse e ensinasse a população a importância de hábitos saudáveis, além disso o investimento de Cuba no setor equivale a mais de 10% do PIB total do país (dado de 2015), muito acima de países como Alemanha, EUA, França e o próprio Brasil.

Foto do Hospital Salvador Allende, principal hospital cubano - Foto: BBC.com

 

Quando olhamos para a realidade brasileira, a situação é bem mais complexa, a deterioração do SUS, Sistema Único de Saúde e o corte de gastos com o programa mais médicos, são dois dos vários motivos que explicam a situação precária por qual a população brasileira passa todos os dias, em filas de hospitais lotadas, esperando atendimento por exemplo.

A volta do sarampo por exemplo, é resultado dessa recente má administração no setor da saúde além da nova política e ideologia do governo Bolsonaro, que abre espaço para teorias totalmente nocivas a sociedade como a ideia de que vacinas comprovadamente benéficas ao ser humano, por algum motivo poderiam causar retardamento mental além do desenvolvimento de algum câncer, seria algo usado pelo governo para controlar a população, aumentando exponencialmente o número de casos da doença, fazendo com que o governo começa-se uma nova campanha contra o sarampo em 2019, uma doença que já havia sido considerada praticamente erradicada no pais.

O trabalho que os médicos cubanos exerciam no país através do Mais Médicos era essencial, muito por levar as regiões mais afastadas do país saúde e tratamentos, já que a maior parte dos doutores brasileiros preferem trabalhar apenas nas áreas mais próximas dos centros econômicos brasileiros, pela recompensação financeira, além de não terem as mesmas dificuldades que enfrentaram esses médicos cubanos, como falta de insumos e aparelhos médicos primordiais além da baixa qualidade da infraestrutura.

Atualmente o Brasil gasta muito pouco com área da saúde comparado com a capacidade econômica do país, em 2018 por exemplo, antes da posse de Bolsonaro como presidente da república segundo dados do Banco Mundial, o Brasil gastou 3,8% do PIB com a área da saúde. O que colocou Brasil na 64 posição no ranking de investimento em saúde. A política de cortes e privatizações do governo Bolsonaro é algo que ajuda essa situação.

 Com a situação dos postos de saúde deteriorados e as imensas filas para se conseguir atendimento em hospitais públicos, grande parte do governo vende a ideia da privatização dos hospitais como algo benéfico, o que vai contra, por exemplo, a nossa constituição, que garante que a saúde deve ser pública e de fácil acesso a toda população.

Apesar da falta de investimento ser um problema latente para a saúde desde governos antigos, nunca houve uma cultura que brigasse contra planos e projetos sociais que vinham dando certo e ajudava milhões de pessoas, como o programa Mais Médicos.

Devido a essa situação precária por qual a saúde passa, é necessário que os órgãos públicos se unam para melhorar o sistema de saúde coletivo brasileiro o mais rápido possível, enquanto a situação econômica não melhora e os investimentos não voltam.

Por isso trazer a discussão sobre a medicina preventiva é algo importante. Em 2017 por exemplo, essa linha de pesquisa da saúde foi pauta de uma grande palestra que ocorreu na Universidade de São Paulo no campus de Bauru, lá foram tratados assuntos como a transmissão de DSTs, a manifestação do câncer durante a vida e até o uso de drogas e como tudo isso poderia ser combatido a partir da cultura de prevenção, se ensinássemos a importância de hábitos saudáveis além de dicas de saúde desde o ensino básico.

Para isso, Cuba pode ser um grande exemplo e um professor para nossos governantes, mesmo com o embargo econômico eles não param de investir na saúde, poderíamos replicar isso no Brasil, com nossos governantes alegando uma crise e dizendo que o mais importante nesse período seria a recuperação econômica dentre todos os assuntos, delegar parte do PIB para a saúde ajudaria a população, que deve ser priorizada em detrimento da economia.

Ainda assim, motivados pelos salários bem mais altos que recebem em missões no exterior, além de um projeto do governo dedicado a ajudar países em crises do terceiro mundo, os médicos cubanos ajudam diversas nações nos lugares mais inóspitos de suas terras, onde o próprio governo do pais parece ter esquecido, como comunidades brasileiras mais afastadas dos grandes centros.

Atualmente o Brasil passa por um grande período de crise, o COVID-19, o Corona vírus vem assolando o país nas últimas semanas.

Como em boa parte do mundo, o Brasil precisa se precaver com o vírus, seguindo regras básicas de higiene como, lavar as mãos sempre que possível, manter-se bem alimentado e saudável e ficar em casa, a quarentena nesse caso é a parte mais importante no combate contra esse vírus, que é transmitido pelo contato físico e por espirros e tosses por exemplo.

Com o número de mortes aumentando no pais, Cuba mais uma vez se torna uma referência para nós, com uma cultura de higiene muito disseminada graças aos investimentos na medicina e principalmente na saúde preventiva, não houve até esta data nenhum caso de Corona Vírus na ilha, pelo contrário, Cuba recebeu em seu pais navios que estariam infectados com o vírus e que foram proibidos por seu próprio governo de atracar em seu pais natal.

Com o país continental que temos é necessário levar a todos os cantos os cuidados médicos necessários para auxiliar na melhora da condição de vida da população, uma cultura de investimentos na saúde além de lições e vivencias na educação básica nacional que possam mostrar a importância e o valor que existe na medicina preventiva.

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