Por Beatriz Tiemy e Ricardo Dias
Marcela Cavalcante, uma jovem de 21 anos, personifica o fenômeno intrigante que é o encanto global por Taylor Swift. Movida pela simples curiosidade diante da intensidade dessa "febre", Gabriela decidiu explorar o universo musical da renomada artista. O que começou como uma investigação casual rapidamente se transformou em uma paixão inesperada, fazendo com que ela se tornasse uma dedicada fã da cantora.
Numa era em que a cultura pop se torna um espelho refletindo as tendências e gostos da sociedade, duas figuras icônicas emergem como termômetros de influência e popularidade: a Barbie e Taylor Swift. Enquanto a boneca loira de proporções irreais continua a redefinir padrões estéticos desde os anos 60, a cantora e compositora de renome mundial tornou-se uma força incontestável no cenário musical e cultural contemporâneo.
A convergência das febres envolvendo a Barbie e Taylor Swift não apenas ilustra a amplitude do impacto do entretenimento em nossa sociedade, mas também revela nuances interessantes sobre as aspirações, identidades e valores que moldam a mentalidade de fãs ao redor do mundo.
O entretenimento que, por definição, faz parte do campo da cultura, abrange uma diversidade de atividades e expressões, com o objetivo principal de cativar, divertir e envolver o público. Em sua essência, ele procura proporcionar satisfação, prazer e um momento de escapismo das demandas e preocupações do dia a dia.
A partícula "entre" nos transporta ao latim "inter", que se traduz como "entre" ou "no meio de." Esse prefixo é empregado para indicar algo que ocupa um espaço ou momento no tempo entre outras coisas. Essa ideia é essencial para compreender o "entretenimento," que se encaixa como uma pausa agradável no meio das atividades cotidianas. A segunda parte, "têtenir" ou "tenir," nos leva ao francês antigo, onde significa "manter" ou "segurar." Originalmente, o termo "entretenir" era usado para descrever algo que mantinha as pessoas ocupadas ou envolvidas, como uma forma atraente de passar o tempo de maneira agradável.
Nesse contexto, o entretenimento abrange várias áreas, desde as artes performáticas, como música, teatro e dança, até a indústria cinematográfica, televisiva e dos videogames - é também evidente em eventos esportivos, festivais, parques de diversões, exposições culturais e até mesmo em redes sociais e conteúdo online. Ele pode assumir formas diversas, como música ao vivo, peças teatrais, filmes, séries de TV, jogos eletrônicos, esportes, literatura, comédia, shows de variedades, e mais.
Essas diversas formas de arte têm o poder de envolver e emocionar as pessoas de várias maneiras. Eles proporcionam momentos de alegria, emoção, suspense, reflexão, permitindo ao público mergulhar em mundos fictícios ou experiências compartilhadas. Em 2022, a indústria do cinema teve motivos para comemorar, com um aumento notável na receita de bilheteria em todo o mundo. Os números impressionantes divulgados pela Gower Street Analytics, por meio da Variety, revelaram um crescimento substancial de 27%, resultando em uma arrecadação global de US$ 25,9 bilhões.
Um outro aspecto importante dessa virada é a mudança de liderança nos mercados dominantes. A China, que tradicionalmente ocupava a posição de destaque, cedeu o lugar para a América do Norte. De acordo com a Comscore, os Estados Unidos lideraram o caminho com uma receita anual de US$7,5 bilhões, marcando um impressionante aumento de 65% em relação ao ano anterior. No entanto, atrás desses números positivos, existe uma narrativa complexa. A indústria cinematográfica chinesa enfrentou desafios, registrando a menor receita financeira em uma década. Analistas apontam para uma série de fatores, incluindo mudanças nas preferências do público e os efeitos contínuos da pandemia da Covid-19.
Embora 2022 tenha trazido boas notícias, os números ainda não voltaram aos níveis pré-pandemia. A receita global permanece 35% abaixo da média observada entre 2017 e 2019, o que representa uma perda anual significativa de US$ 14 bilhões em receita bruta. A pandemia, com seus impactos nos cinemas, nos lançamentos e nos padrões de consumo, continua a influenciar a indústria cinematográfica de maneira substancial.
Os filmes "Barbie" e "Oppenheimer", lançados em 2023, estão deixando uma marca não apenas nas bilheteiras, mas também nas tendências econômicas dos Estados Unidos. Recentemente, o Bank of America divulgou um relatório revelando um notável aumento nos gastos dos titulares de seus cartões de crédito, especificamente em categorias não relacionadas à gasolina, durante a semana que encerrou em 22 de julho.
Embora várias áreas tenham testemunhado quedas nos gastos, incluindo eletrônicos online, reformas, móveis e hospedagem, uma categoria brilhou com crescimento notável: entretenimento. Os consumidores que utilizam os cartões do Bank of America aumentaram seus gastos em entretenimento em surpreendentes 13,2% em relação ao ano anterior. Esse aumento é notável quando comparado à modesta elevação de 4,9% registrada na semana de 15 de julho.
Em seu relatório de pesquisa, o Bank of America especulou que esse aumento expressivo nos gastos com entretenimento e roupas pode estar relacionado ao lançamento altamente antecipado dos filmes "Barbie" e "Oppenheimer”. "Barbie," em particular, fez história com seu fim de semana de estreia, arrecadando uma impressionante quantia de US$162 milhões nos Estados Unidos. O filme, distribuído pela Warner Bros. Discovery e dirigido por uma mulher, estabeleceu um novo padrão para as estreias cinematográficas.
Esses resultados bem-sucedidos destacam que, mesmo em meio a desafios econômicos e mudanças nos padrões de consumo, os consumidores estão dispostos a gastar significativamente em entretenimento, como filmes e shows. Isso não apenas impacta positivamente as bilheteiras, mas também contribui para a resiliência geral da economia. O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, enfatizou essa "resiliência geral" da economia, juntamente com a desaceleração da inflação e a recuperação da confiança do consumidor, como fatores positivos para um panorama econômico mais amplo.
Não apenas “Barbie” está impactando a economia dos Estados Unidos. A "Eras Tour" de Taylor Swift não é apenas um evento musical espetacular; é uma verdadeira potência econômica que está impactando os Estados Unidos e outras partes do mundo de maneira notável. Um estudo conduzido pela empresa global de pesquisa QuestionPro revela que essa turnê mundial não só atrai uma legião de fãs, mas também injeta bilhões de dólares na economia norte-americana.
Os números são impressionantes: a estimativa é que a "Eras Tour" gere um colossal montante de US$4,6 bilhões em despesas dos consumidores nos Estados Unidos. Este valor não se restringe apenas aos ingressos adquiridos pelos fãs; ele abrange os gastos relacionados ao turismo impulsionado pelo evento, englobando hospedagem em hotéis, refeições, transporte e compras, entre outros.
Para compreender a amplitude dos grandes eventos de entretenimento, como shows e festivais, o economista Carlos Alberto Quintino enfatiza a influência significativa que exercem na economia local. "De uma ocupação de 40%, nos hotéis, você vai ter uma ocupação de 100%. Essas pessoas que vêm para São Paulo e se hospedam, elas têm que se alimentar. Então, você imagina quantas pessoas que não vêm para esses eventos e saem para almoçar, para jantar, comem fora, tomam um lanche. Então, tudo isso dinamiza o comércio", contou Carlos Alberto.
O economista explica que visitantes que se deslocam para São Paulo, por exemplo, para participar desses eventos não apenas se alimentam nos restaurantes locais, mas também exploram centros comerciais, aquecendo o setor de vestuário, calçados e bens vendidos em shoppings. A promoção desses eventos resulta em uma intensificação da atividade econômica local durante um período específico, criando empregos indiretos nos setores hoteleiro, alimentício e de prestação de serviços, evidenciando um crescimento em cadeia.
O impacto econômico dessa turnê é tão significativo que até mesmo o Federal Reserve da Filadélfia, em seu prestigiado Livro Bege, observou a influência dos shows de Taylor Swift no aumento dos gastos na cidade. Isso se refletiu especialmente no setor de turismo e nos negócios locais, à medida que os fãs de diversas partes do país e do mundo elevaram a demanda, impulsionando os preços de produtos e serviços na região.
A Filadélfia não é uma exceção nesse cenário. Outras cidades também experimentaram um notável aumento nas receitas graças aos shows de Taylor Swift. Por exemplo, quando a cantora se apresentou em Cincinnati, os hotéis no centro da cidade registraram um faturamento superior a US$2,6 milhões, enquanto as hospedagens nos arredores ultrapassaram a marca de US$5,3 milhões em receita. Com a "The Eras Tour" já em andamento desde março e com planos de percorrer os cinco continentes, há especulações de que essa turnê poderá quebrar recordes e se tornar a mais lucrativa de todos os tempos. As projeções apontam para um faturamento que pode ultrapassar a impressionante marca de US$1 bilhão, o que faria de Taylor Swift a primeira artista a alcançar esse feito histórico.
Assim, Taylor Swift não apenas encanta o público com sua música, mas também deixa uma marca duradoura na economia global, demonstrando o poder transformador da indústria do entretenimento.
A análise do especialista em marketing, Alyson Cavalcante, destaca a relevância da identificação como um fator crucial em ambos os exemplos mencionados. Ele enfatiza que a criação e o fortalecimento de uma identidade forte são elementos-chave. "O filme da Barbie estabelece uma conexão significativa por meio da própria marca, da essência da Barbie e de já ter trabalhado isso há muito tempo, sendo altamente consolidado ao longo dos anos, permanecendo no imaginário das pessoas. Além disso, o filme incorpora atualmente elementos que promovem uma identificação profunda com o público contemporâneo, combinando nostalgia e identificação. Isso resulta no movimento de adotar o rosa característico da Barbie. Vale ressaltar que não se trata de um simples tom de rosa, mas sim do distintivo "rosa Barbie", disse Alyson Cavalcante.
Já sobre Taylor Swift, o especialista em marketing se destaca não apenas por sua habilidade artística, composicional e musical, mas principalmente pela capacidade de fundamentar suas criações em experiências românticas e relacionamentos universais. "Isso é algo que todo ser humano tem, então é muito fácil se identificar com o que ela escreve, com o que ela canta, com o que ela faz. A identificação com ela é muito fácil; você pode não gostar, mas pode escutar uma música e se ver nela. E se entender dentro do que ela está cantando."
Cavalcanti ainda aponta que a grandiosidade dos shows, que lotam estádios, contribui para intensificar essa identificação, gerando não apenas interesse, mas também uma necessidade percebida de participar desses eventos. Independentemente das preferências musicais, a presença de Taylor Swift em um mega show torna-se uma experiência quase obrigatória, alimentando, assim, não apenas a ansiedade, mas também a crescente demanda por sua presença nos palcos.
"Febres” e "tendência" geralmente se referem a um período em que algo se torna extremamente popular em uma cultura ou sociedade. Por exemplo, no campo da música, Taylor Swift é uma artista que passou por diversas fases de popularidade ao longo de sua carreira, que podem ser comparadas a manias e tendências.
“The Eras Tour” de Taylor Swift refere-se a uma série de shows da turnê que a cantora faz para celebrar e representar diferentes fases de sua carreira. Cada “era” de Taylor Swift, como “Fearless”, “Red”, “1989” e “Reputation”, representa uma mudança em seu estilo musical e imagem pública, refletindo as tendências culturais da época. Isso pode ser comparado à forma como as manias e tendências da cultura pop vêm e vão, evoluindo ao longo do tempo e até se adaptando ao mercado e demonstram como a música e a cultura pop tem uma evolução ao longo do tempo, moldando as preferências do público e são moldadas pelas preferências do público.
Danilo Machado Fulgencio, gerente de estratégia da T4F, destaca a relevância da indústria do entretenimento na influência dos padrões de consumo e nas preferências de mercado. "A indústria do entretenimento molda a cultura popular, os gostos e tendências através de filmes, programas de TV, música, eventos ao vivo e outras formas de entretenimento. Ao criar conteúdo que ressoa com o público, a indústria pode afetar os valores, estilos de vida e interesses das pessoas", explica. Ele ainda aponta que, ao criar conteúdo que ressoa com o público, a indústria pode impactar valores, estilos de vida e interesses das pessoas, atuando como um termômetro cultural que reflete e define o que é considerado "tendência".
Essa influência se estende ao comportamento do consumidor, intensificando-se quando as promotoras de eventos colaboram com empresas patrocinadoras para promover produtos ou marcas. "Esse processo se intensifica à medida em que as promotoras de eventos colaboram com empresas patrocinadoras para promover seus produtos ou marcas, influenciando indiretamente o comportamento do consumidor. Isso ocorre através de estratégias e campanhas publicitárias em programas populares, rádios e mídias online e “out of home."
A relação psicológica com o consumo de entretenimento é um fenômeno complexo e profundamente ligado à influência do marketing. Para compreender esta ligação, é necessário examinar como a psicologia humana desempenha um papel fundamental na forma que consumimos entretenimento e como o marketing utiliza esse conhecimento para moldar as nossas decisões de todas as áreas possíveis de nossas vidas. A busca por diversão é uma necessidade da natureza humana. Buscando meios de fugir das exigências do dia a dia, de relaxar, de se divertir e de encontrar prazer. Os estudos psicológicos desempenham um papel primordial no processo, pois as nossas emoções, necessidades e desejos realizam um papel central nas escolhas de entretenimento. Sentimentos como a busca por gratificação, desejo de escapismo e a conexão social. Estes fatores emocionais refletem, por exemplo, preferências de gênero de cinema, música e eventos.
Armando o terreno e atraindo as estratégias de marketing, que enxergam uma grande oportunidade para conduzir mais e mais pessoas e moldar seus gostos. Os profissionais de marketing têm um conhecimento apurado dos princípios da psicologia do consumidor e prontamente utilizam o conhecimento para criar estratégias que atraiam diretamente seu público-alvo. “A influência do marketing não só em relação a cinema e show, mas ao que é marketing em geral, ele é construído para influenciar, para entender e para promover conexão, para promover identidade, para promover necessidade. Então, conexão, identidade e necessidade são coisas que o marketing trabalha como base, e existem as ideias, como por exemplo a ideia da Barbie. Essa ideia de comportamento de você usar rosa para ir assistir ao filme, ou simplesmente ao período do ano onde está todo mundo usando rosa por causa do filme da Barbie, indo assistir ou não indo assistir, ele é um comportamento de identificação.” relata Alyson Cavalcante da Mynd.
João Pedro Callado de 21 anos, ainda comenta o papel das redes sociais no quesito de fomentar e cada vez mais construir essa cultura de massa e por repetição. O jovem retoma o poder da rede social chinesa Tiktok em relação a intensificar cada vez mais essas “febres”, que através de suas trends visualizou diversas músicas da cantora norte americana, fazendo que sua base de fãs cresça cada dia mais virando o fenômeno que é notável nos dias de hoje.