O gênero literário "New Adult" surge em 2009 pela editora americana St. Martin's Press, que utilizou a terminologia para definir uma nova categoria de ficção para jovens adultos. O interesse era abordar o período da 'maior idade', buscando histórias sobre jovens que são legalmente adultos, mas que ainda estão encontrando seu caminho, e o real significado, da vida adulta. Para a editora, "New adult é sobre quando você é um adulto, mas ainda não estabeleceu a sua vida como um (carreira, família, etc.)".
Mas mesmo com esse novo gênero sendo nomeado em 2009, sabemos que os tipos de livros que englobam o que é o New Adult estão circulando nas prateleiras dos leitores à muito mais tempo do que isso. Podemos dar o exemplo dos famigerados livros de época da autora Julia Quinn, sua própria série de livros Os Bridgertons, que veio a estrear como uma série pela Netflix em 2020, é muito mais antiga aos leitores com seu primeiro livro "O Duque e eu" tendo sido publicado no ano 2000. Julia Quinn é conhecida por criar personagens fortes, que mesmo retratadas no século XIX, são consideradas ícones feministas para os leitores da autora. O que acontece muito também com outras autoras de livros de romances de época, como Suzanne Enoch e Jane Austen que mesmo tendo diferenças em suas épocas de escrita conseguem transmitir mensagens de personagens fortes com ideais feministas à seus leitores.
Outras autoras que valem a pena citar são Carina Rissi, Colleen Hoover, Sarah J. Maas, Kerri Maniscalco, Leigh Bardugo, entre muitas e muitos outros que dentro do gênero New Adult conseguem fazer personagens femininas e masculinos fortes, ao mesmo tempo construindo cenários onde o feminismo se encaixa aos poucos, como uma construção da própria personalidade dos personagens. Conseguem inserir cenários aonde se abordam assuntos como machismo, relacionamento abusivo, irmandade, traição, depressão, com certa naturalidade assim deixando o leitor refletir sobre tais questões da perspectiva dos personagens, e não de uma forma pessoal e tabu.
Assim, leitores de diferentes idades, etnias e gêneros se sentem tanto representados por certos livros, quanto instigados, o que faz com que gerem debates entre si e que queiram se informar mais sobre certos assuntos. O que acontece é que, um leitor vai falar sobre uma cena de tal livro para outro leitor, o que gera um debate sobre tal cena e as questões que foram apresentadas ali. O mesmo acontece quando as pessoas discutem sobre quais livros gostam mais e encontram interesses em comum, ou quando um amigo instiga o outro a ler certo livro. Isso tudo são trocas de informações valiosas, pois uma pessoa pode aprender inúmeras coisas lendo um só livro mesmo se ele estiver disfarçado de um romance.
O Contraponto Digital entrevistou duas leitoras do gênero, Alannys (17) e Sofia (20)
Você se identificou com algum personagem relatado, se sim, como essa identificação se deu?
A: Sim, personagens femininas são em maior parte criadas para nós mulheres termos com quem nos identificar, com as gerações mudando, as personagens literárias deixaram de ser mulheres frágeis e submissas e passaram a começar a ser donas de si mesmas, com as próprias escolhas e atitudes, sejam erradas ou não.
S: Sim, eu me identifiquei com a Hyacinth do livro "Um beijo inesquecível" da Julia Quinn, e essa identificação se deu porque essa personagem é muito diferente para a época dela e têm uma personalidade muito forte, o que era muito diferente no século XIX. Eu não tenho uma personalidade assim, mas tenho a impressão de que se eu tivesse nascido naquela época eu iria ser que nem ela.
Já estava consciente do movimento feminista antes de ler algum livro deste tipo ou desenvolveu essa consciência depois da leitura?
A: Eu leio livros desde que eu comecei a ler, gibis, livros com imagens e com o tempo a literatura começou a mudar, então eu criei uma noção sobre feminismo lendo autoras mulheres e percebendo o quão errada nossa sociedade é.
S: Eu já estava consciente do movimento feminista antes de ler algum livro desse tipo sim.
Para você o que é feminismo? O identifica em certas situações dos livros que leu?
A: É uma equidade, sim. Os livros mostram muito sobre as diferenças entre homem e mulher, e nos livros isso é muito melhor resolvido do que na nossa sociedade atual.
S: Feminismo para mim é lutar pela equidade de gênero.
Quais situações de feminismo e luta feminista dentro dos livros mais te chamaram atenção?
A: Em "A corte de névoa e fúria" da autora Sarah J. Maas, o noivo da personagem orincipal diz que mulheres não se tonam grã-senhoras (governantes), talvez porque achassem que mulheres não conseguem liderar e que o papel delas seria só gastar o dinheiro do marido e ficar ao lado dele como um acessório de luxo. No final do livro ela troca de amantes e se torna a grã-senhora da corte noturna.
Quais destas situações, talvez por não serem tão faladas, quase não te chamaram a atenção?
A: Eu realmente não prestava atenção em como é o tratamento em relação ao gênero antes de começar a ler, provavelmente porque quando se vê de fora o que está acontecendo você consegue ter uma visão muito mais clara do mundo.
Você vê muito do que leu na vida real? Há alguma situação específica de empoderamento ou trauma que você passou ou viu alguém passar que fosse parecida com alguma passagem dos livros?
A: Sim, em várias situações diferentes, Mare Barrow, protagonista de "A rainha vermelha" da Victoria Aveyard, foi usada como um artifício e um meio para que um homem conseguisse aquilo que ele queria, com o passar dos livros ela descobre o quão poderosa ela é, e eu acho que muitas mulheres, inclusive próximas de mim, passaram por coisas parecidas.