Lesões comprometem a saúde física e mental dos jogadores

De acordo com a Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia do Esporte (SBRATE), um atleta profissional de futebol se machuca, em média, a cada 100 horas de prática.
por
Rafael Rizzo
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10/04/2025

Por Rafael Rizzo

 

Era uma quarta-feira chuvosa quando Murilo e Elivelton, estavam nos estágios finais da reabilitação de uma lesão grave dentro de uma clínica de fisioterapia,  Murilo. no ombro e Elivelton, no joelho. Notavam-se ambas expressões, de certa maneira, cansadas. Porém, com grande fé, firmes no propósito de se recuperarem. Pegaram um café e uma paçoca e começaram a descrever suas experiências vividas. Suspiraram e começaram a falar do momento exato da lesão. Elivelton destacou o sentimento de tristeza e frustração, mais forte que a própria dor física de romper um ligamento do joelho, muito por conta do momento em que vivia na carreira (auge), como ser forçado a parar, fazendo tudo cair por terra. Murilo, por sua vez, se referiu a dor de um braço deslocado como a pior sensação de toda a sua carreira. Depois da queda em cima do ombro, não conseguiu conter o sentimento e gritava várias vezes “Já era! Acabou a minha carreira!”

Posteriormente, Elivelton disse que tentou um tratamento conservador, porém a evolução ficou estagnada e, amparado pelo seu médico, optou por fazer a cirurgia do LCA. Foi-lhe avisado que não retornaria a campo pelos próximos nove meses. Murilo, em contrapartida, optou logo de cara por fazer a cirurgia e iniciar uma longa reabilitação. Perguntado a respeito da saúde mental durante esse processo ambos se olharam e Elivelton tomou a palavra e foi claro ao dizer que a dúvida de que ele realmente pudesse voltar a ser jogador de futebol o assombrava. Também afirmou que o apoio familiar foi crucial nesse momento, além do ambiente da fisioterapia ter sido amigável e acolhedor durante todo esse processo. Murilo completou dizendo que não era fácil ver seus colegas de trabalho ativos enquanto você não conseguia nem mexer o ombro. Mas, mesmo nas dificuldades, se apegou em sua fé e buscou ser melhor a cada dia. Elivelton comparou sua sensação de se machucar bem no auge de sua carreira, como “remar, remar e morrer na beira da praia”.  

Após alguns exercícios, voltaram a relatar suas experiências e Murilo retomou ao assunto com ênfase nas pessoas que dependiam de sua renda. Afirmou que a preocupação era inevitável. Ele tem uma filha pequena e uma esposa para sustentar e em certos momentos achou que não iria conseguir dar a volta por cima. Elivelton deu graças por sua família não depender dele totalmente. O que mais lhe preocupava era o seu casamento, que estava se aproximando, e as parcelas do apartamento que ele tinha financiado. 

Elivelton, levemente emocionado, lembrou do dia da sua cirurgia que, infelizmente, pela distância, estava sem o amparo familiar. Por conta disso, um amigo do clube o acompanhou no hospital e fez questão de prestar todo tipo de suporte. Afirmou com voz firme que isso o marcou profundamente e firmou uma amizade muito grande com ele. Depois desse pronunciamento. com um tom de decepção, mostrou sua indignação a respeito dos dirigentes do clube em que atuava. Elivelton relatou que os cartolas não acreditavam que ele tinha sofrido uma grave lesão e o próprio presidente do clube o forçou a entrar em campo.

A conversa mudou de rumo e partiu para a volta aos gramados. Logo de cara, ambos abriram um sorriso que era impossível passar despercebido. Elivelton alegou que ficava feliz com cada corrida sem mancar, cada passe sem dor. Ele comparou essa felicidade com o momento em que estreou como profissional a alguns anos. Murilo, por sua vez,  teve medo, mas não negou que voltar a ter contato com a bola foi uma sensação maravilhosa. Alegou também que teve que batalhar muito com sua mente para perder a insegurança.  

Elivelton destacou que a lesão o fez reinventar seu futebol, já que acreditou que seu físico não voltou a ser como era antes da lesão. Com isso, adaptou seu jogo agressivo para um jogo mais conservador e inteligente. Isso tornou seu futebol mais consciente, sem correr riscos - deixou claro o atleta. Murilo afirmou que toda dificuldade pela qual passou o fez uma pessoa melhor e que a lesão veio justamente para seu aprimoramento profissional - tanto a parte física, como a mental. Com orgulho, deixou claro sua capacidade de superar qualquer limite. Depois disso beberam um isotônico laranja e continuaram com os treinos.

 

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