Impactos da agropecuária no meio ambiente exigem produção e consumo de carne mais sustentáveis

Vegetarianismo não é a única solução, entender os processos da pecuária no Brasil é essencial para conservação ambiental
por
Isabella Falconier, Isabella Marinho, Cinthia Bretone, Luiza Feniar e Letícia Costa
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23/06/2021
agropecuária
Créditos da foto: Tomas Hertogh em Unsplash 
 

Em 22 de abril, aconteceu a cúpula de líderes sobre clima, na qual o presidente Jair Bolsonaro se comprometeu a acabar com o desmatamento ilegal e reduzir as emissões de gases do efeito estufa até 2030. Esse posicionamento foi uma tentativa de diminuir a pressão internacional devido a associação da pecuária com a devastação da Amazônia e com  a emissão de gases que agravam o aquecimento global. Segundo relatório do Seeg (Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa), a pecuária de corte responde a 62% das emissões de GEE (gases do efeito estufa) e, desde 2010, a agropecuária aumentou 7% as suas emissões.

 Um dos grandes problemas do elevado consumo de carnes está justamente na sua produção, uma vez que o processo digestivo natural do gado, que gera emissão de metano, impacta negativamente o meio ambiente. De acordo com a Climate and Clean Air Coalition, 40% das emissões de gases que desequilibram o efeito estufa, por parte da agropecuária,  são provenientes apenas da criação de gado.

O desmatamento também é uma consequência dessa produção, já que a pecuária está envolvida em 75,5% do desmate na Amazônia e 56% no Cerrado. Segundo o médico veterinário, Rodrigo Garcia Motta, há uma certa evolução no campo da pecuária quando se pensa em sustentabilidade, no entanto, a única forma do campo mudar, é o consumidor começar a exigir essa mudança. Assim, as fazendas que não atendem ao conceito de saúde única seriam penalizadas, e não deveriam mais comercializar.

Entrevista com Rodrigo Garcia Motta: https://youtu.be/c94350nORtE

A saúde única consiste na integração entre a saúde humana, a conservação do ambiente e o bem-estar animal. Esse conceito se faz premente, pois o ciclo da produção de carne demanda uma grande utilização de recursos naturais, principalmente a produção bovina, que tem por si só cerca de 320 milhões de cabeças de gado e desse número, 6 milhões são criadas em confinamento.

Isso significa que o gado criado em sistema extensivo, ou seja, criado em uma área aberta até que atinja um peso e uma idade especifica para ser abatido, utiliza numerosos recursos hídricos e recursos de pastagem. Por exemplo, um bovino de até 370 kg consome até 70 litros de água por dia, sem levar em consideração perdas de água para limpeza, resfriamento e outros processos. No tangente a recursos de pastagem, um quarto do território nacional foi ocupado pela criação de gado no sistema extensivo, o que equivale a um animal por hectare, segundo um mapa realizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária em 2015.

Um relatório, feito pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento sustentável (CEBDs), expõe que para cada R$ 1 milhão produzido pela pecuária, R$ 22 milhões são perdidos em recursos naturais. Segundo Rodrigo, com a área já utilizada na produção de carne bovina é possível aumentar em 30% a produção sem derrubar mais nenhuma árvore se houver melhora na intensificação do processo. “Então se ainda há pecuária que invade mata, é porque conhecimento básico não é aplicado à produção já existente” disse o entrevistado.   

Reduzir o consumo de carnes e adotar uma alimentação consciente é uma atitude sustentável, mas qual é o primeiro passo necessário para diminuir o consumo de carnes? Segundo o nutricionista Henrique Carreira, para quem deseja reduzir as carnes de suas refeições diárias é importante que a pessoa se sinta confortável. O nutricionista aconselha que uma opção interessante é retirar embutidos das refeições, como linguiça, salsicha e presunto, já que são alimentos processados e não possuem qualidade nutricional.

A advogada Raissa Ferreira, está buscando mudar sua alimentação e parar definitivamente de consumir carne. Sua iniciativa surgiu após ela perceber como os animais são tratados pela indústria de produção e os impactos no meio ambiente consequentes dessa indústria. A advogada comenta que a transição não é fácil “está sendo complicada porque eu comia muita carne, no começo eu sentia muita fraqueza, pois não comecei com acompanhamento nutricional, mas agora tem sido mais fácil com este acompanhamento.”

Uma alternativa além do vegetarianismo e do veganismo para quem busca um mundo mais sustentável, saudável e compassivo, é movimento recente criado em 2014 por Brian Kateman, chamado reducitarianismo, que propõe um comprometimento em comer menos carnes, laticínios e menos ovos.

Entretanto essas não são  as únicas opções para contribuir com o meio ambiente quando o assunto é produção de carne, educação e informação também são essenciais. Rodrigo Garcia apoia a ideia de que quanto mais os consumidores souberem a procedência da carne, mais controle haverá sobre essa produção – “O consumidor é quem dita a regra, ele precisa passar a questionar e optar por uma produção mais sustentável, como eu vejo para o exterior.”

Atualmente essa percepção que a população deveria ter sobre o que consome, está muito longe de ser realidade aqui no Brasil. – “O consumidor brasileiro vai ao mercado e ele não sabe o que ele está comprando, se é vaca ou se é boi. Então o mercado internacional fica com tudo que é nobre e de melhor qualidade e nós ficamos com a sobra. Como mudar isso enquanto consumidor? Falando: eu quero uma carne de procedência, se não tem certificação, não me interessa.” Dessa forma os próprios consumidores estariam filtrando o que compram com consciência e, consequentemente, os produtores irregulares iriam perder espaço no mercado, sobressaltando apenas aqueles que produzem de forma mais sustentável e que visam o conceito de saúde única.

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