Por Pedro Paes
Quando Luis Felipe, um jovem de 22 anos, decidiu que sua vida seria dedicada ao futebol, ele não tinha dúvidas. O sonho de se tornar um jogador profissional, o lançou de corpo e alma na busca pela glória esportiva. Abriu mão dos estudos, investiu todas as suas energias nos treinos e acreditou que seu talento o levaria ao topo. Mas, como em muitas histórias de jovens que buscam o sucesso no esporte, o caminho que parecia ser um conto de fadas logo se tornou um pesadelo. Luis cresceu em uma comunidade na zona norte do Rio de Janeiro, onde o futebol era mais que um passatempo, era uma forma de escapar da realidade. Desde pequeno jogava nas peladas da rua, exibindo uma habilidade natural que chamava a atenção de amigos e vizinhos. Sua família, embora humilde, sempre o apoiou, acreditando que o futebol poderia ser a chave para mudar sua vida.
Logo aos 6 anos de idade, LF (como era chamado pelos seus amigos), iniciou sua caminhada de atleta em um clube de futsal, o Grajaú Tenis Clube. Por lá deu seus primeiros passos no futebol, aprimorou os fundamentos básicos do esporte, disputou pela primeira vez um campeonato oficial e fez amizades que se mantêm até hoje. Ele se manteve no clube por dois anos, até que seu treinador, Marcelo Rademaker, foi convidado para trabalhar em um outro lugar, o Clube Bradesco - ARFAB . O comandante aceitou o convite, mas sob uma condição: levar todo o time da categoria que ele trabalhava para o novo time. Assim, Luis mudou de time pela primeira vez.
No ARFAB, ele teve uma estrutura bem melhor para se desenvolver suas habilidades. O time tinha academia para a preparação física, nutricionista e diversos profissionais á merce para dar toda a ajuda e suporte para os meninos. Nesse clube, ele teve a oportunidade de jogar o FFSERJ (Feredação de Futebol de Salão do Estado do Rio de Janeiro), o principal torneio de futsal de base do Rio de Janeiro, com todos os clubes grandes cariocas presentes. E no sub 9, Luis ganhou o campeonato. O ARFAB ganhou a final de 4 a 1 do Fluminense e com direito a dois gols de LF. Logo após esse titulo, ele foi chamado para fazer o teste no Vasco da Gama.
O menino da favela do Borel, passou no teste e realizou o primeiro sonho de sua vida que era jogar em um gigante carioca, no clube de seu coração. A partir daí, sua vida começou a girar em torno dos treinos e competições. Ele sabia que a grande chance para se tornar um jogador profissional estava ali. Para Luis era um jogo de vida ou morte, e precisava dar tudo de si para ser visto e ter uma oportunidade entre os profissionais.
Mas a pressão para se destacar em um ambiente tão competitivo fez com que Luis tomasse decisões precipitadas. Ele decidiu deixar a escola de lado para se concentrar exclusivamente no futebol, acreditando que seu futuro estava garantido dentro dos campos. Ele não abandonou a escola, estudava na escola que existe dentro de São Januário, estádio cruz maltino.Para Luis, a formação acadêmica era apenas uma distração, algo sem importância diante da chance de realizar um sonho de criança. Por conta disso, foi levando a escola "as coxas". Foi uma decisão muito dificil de ser tomada juntamente de sua família mas o foco total de todos na casa era que o LF se tornasse um atleta de futebol.
Luis se manteve no Vasco até o seus 17 anos de idade, até que o clube cruz maltino decidiu dispensá-lo. Foi uma notícia devastadora para o jovem e toda sua familia. Todos ficaram abalados por que ele passou 8 anos dentro do clube para ser dispensado sem mais, nem mesmo. Após essa dispensa, Luis rodou por diversos clubes. Tanto em clubes menores do Rio de Janeiro, como por exemplo, o Boavista, como foi até norte do Brasil para jogar em Manaus. Ele sentia que o futebol estava se escoando pelos dedos. Cada vez mais, LF ia vendo que o seu nome não estava na boca das pessoas, nem no radar dos olheiros . Aos 20 anos, Lucas já começava a perceber que o sonho que ele tanto idealizara não era mais viável.
Com o futebol profissional cada vez mais distante, Lucas teve que encarar a dura realidade de que talvez nunca alcançasse o sucesso que imaginara. Foi nesse período de reflexão que Lucas começou a perceber que o futuro não poderia se resumir apenas a um sonho desfeito. Ele tomou uma decisão difícil, mas necessária, e: se inscreveu no vestibular e ingressou na faculdade de Educação Física.
Seu primeiro treinador, o Marcelo, aquele do Grajaú, bancou um cursinho particular para ele passar um ano estudando totalmente no vestibular. E dito e feito, ele passou na UERJ, onde iniciou sua jornada acadêmica com a mesma dedicação que tivera nos campos. Foi um recomeço. A faculdade é um caminho novo para LF, mas ele sinte que está mais maduro e pronto para encarar essa nova fase.
Na faculdade, ele busca um entendimento mais profundo sobre o corpo humano, treinamento e nutrição, áreas que considera fundamentais tanto para a sua atuação no futebol quanto para uma possível carreira como treinador, preparador físico ou até mesmo na reabilitação de atletas. O que ele quer agora é entender mais sobre o corpo e a mente, e ajudar outros atletas a superarem desafios que ele mesmo viveu.
Hoje com 22 anos está no seu segundo ano de universidade. Ainda que o sonho de ser jogador profissional em uma grande liga não tenha se concretizado, Luis já entende que seu caminho no esporte pode ser transformado de outras maneiras. Seja atuando em categorias de base, seja no campo da preparação física, ele agora tem uma visão mais realista e ampla sobre as possibilidades que o mundo esportivo oferece.
A história de LF é um reflexo de um fenômeno comum entre jovens que sonham com uma carreira no futebol profissional: a ilusão de que o sucesso é garantido se o esforço for grande o suficiente. Mas o futebol, como qualquer outro campo de excelência, exige muito mais do que talento. Exige uma combinação de sorte, disciplina, perseverança e, muitas vezes, o reconhecimento de que o caminho nem sempre será como imaginamos. Tudo que Luis passou, é um lembrete de que o equilíbrio entre o sonho e a realidade, entre o campo e a sala de aula, pode ser o diferencial para um futuro mais seguro, realizado e promissor, independentemente da carreira que o jovem escolha seguir.