Famílias de políticos ostentam influência no Estado de São Paulo

Enquanto algumas famílias investem em grandes negócios empresariais e comerciais, outras se voltam totalmente para o meio político
por
Sofia Luppi
|
07/12/2022

Alguns nomes como Jilmar Tatto, deputado federal por São Paulo e Eduardo Bolsonaro, também deputado federal pela maior metrópole do país, são bem conhecidos no cenário político de São Paulo. Isso porque eles não representam somente uma pessoa, mas sim uma família que atua de forma direta ou indireta na política paulista. O fato é que essas famílias, independentemente se são de esquerda ou direita, muitas vezes possuem grande influência dentro do cenário político brasileiro.  

Um clã pode ser definido com um conjunto de pessoas que por conta de algum parentesco em comum se mantém unido. E é isso que encontramos quando falamos dos irmãos Tatto e de Jair Bolsonaro e seus filhos em questões políticas. Ambas as famílias possuem cargos na câmara dos deputados e nas câmaras municipais. 

Outro fator em comum entre eles é o fato de que se fortalecem com a presença de seus membros. O sobrenome ganha uma força que supera as ideias e até mesmo os partidos políticos. O doutor em sociologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) Tiago Valenciano ressalta que existe esse empréstimo de sobrenome para que as campanhas eleitorais ganhem mais força e seja um atrativo para futuros votos.    

Apesar da frente política dos Tatto ser bem forte em São Paulo, principalmente na região de Capela do Socorro, na Zona Sul de São Paulo, os irmãos não possuem origem paulistana. A família migrou do interior do Paraná para o Estado mais populoso do país na década de 70.  

Arselino, Ênio, Nilto, Jilmar e Jair Tatto são os únicos dos 10 filhos de pequenos agricultores que entraram de cabeça no cenário político de São Paulo. Os Tatto estão tanto no governo estadual e federal quanto no municipal. 

Atualmente, Nilto e Jilmar foram reeleitos em 2022 para deputados federais por São Paulo, cargos esses que já estavam à frente desde 2006 e 2014, respectivamente. Já Ênio, que é deputado estadual desde 2006, se reelegeu para mais um mandato. No âmbito municipal, há Jilmar e Arselino como vereadores da cidade de São Paulo, ambos reeleitos na última eleição. Ambos estão no poder há mais de dois mandatos. 

Os irmãos também são peças-chave para a história do Partido dos Trabalhadores (PT). Todos eles são filiados ao partido desde suas primeiras candidaturas. Alguns deles, como Arselino e Ênio, participaram ativamente da fundação do PT. 

Um clã que, segundo Valenciano, em que o sobrenome vale muito mais do que o partido político é o da família Bolsonaro. Apesar de não terem São Paulo como seu maior foco, possui uma certa ramificação no Estado graças a Eduardo Bolsonaro, que já está em seu terceiro mandato como deputado federal pelo Estado. Essa influência se dá mais por ideias do que de fato por políticos.  

Ao contrário dos Tatto, os Bolsonaro tiveram origem paulista, uma vez que Jair Messias Bolsonaro nasceu em Campinas. O presidente que não conseguiu sua reeleição em 2022, construiu toda a sua carreira política no Rio de Janeiro. Ele foi vereador da cidade maravilhosa em 1989. Desde 1991, ano de sua primeira eleição como deputado federal, ele garantiu sete mandatos. 

Com exceção de Eduardo, os filhos de Bolsonaro Flávio e Carlos também são ativos no cenário político carioca. Seu filho mais novo, Jair Renan, já deixou claro que pretende entrar na política em 2028. 

A estrutura dos clãs políticos 

Mesmo o clã Bolsonaro sendo de extrema direita e os Tatto serem de esquerda, Valenciano ressalta que a estrutura de suas famílias na política é a mesma. A partir do momento em que um membro se torna uma figura pública, as chances de os demais conseguiram os mesmos feitos, apoiados em um sobrenome, são grandes. 

Essa situação fica clara com nomes de envergadura nacional, como no caso da família Bolsonaro. Isso se dá muito pela eleição de Jair Bolsonaro em 2018 à Presidência da República. Usar seu nome para angariar votos, segundo Valenciano, virou uma forte tática nas campanhas eleitorais, principalmente de seus familiares próximos. E não foi somente os filhos que se aproveitaram disso, as ex-esposas também aproveitaram esse benefício. 

Um exemplo desse empréstimo aconteceu nessas eleições. Cristina Bolsonaro, ex-esposa do atual presidente, se candidatou para o cargo de deputada distrital pelo Distrito Federal. Apesar de não ter sido eleita, ela usou o nome Bolsonaro como um “empurrãozinho” em sua campanha, para conseguir mais votos.  

Sérgio Praça, professor da Fundação Getúlio Vargas, apontou que o fato de pertencer a uma família com tradição política, aumenta não só as chances de um candidato ser eleito, mas também de entrar para o cenário político. Isso seria um dos principais motivos para que tanto os Tatto quanto os Bolsonaro tenham poder e influência nas mãos. 

Existe também a questão da credibilidade na hora de decisão dos eleitores. Se um eleitor se identifica com as pautas de um dos Tatto, é provável que ela vote em um deles ou nas indicações feitas por eles. Valenciano explica que, “em geral, o cidadão vota na família política, exatamente porque ele espera uma entrega de um resultado, com uma dominação que já vem de muito tempo.” 

Sob essa perspectiva, é possível perceber que essas famílias podem ter grandes influências nos bastidores do cenário político. O empréstimo de sobrenome é colocado em prática e acaba se tornando um tipo de marca. Ou seja, os candidatos que se apossam e se apoiam de nomes, acabam sendo relacionados diretamente às pessoas que já estão no meio político e tem alguma relevância, seja ela positiva ou negativa. 

O professor Ricardo Costa de Oliveira, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), afirma que “toda política brasileira é dominada por famílias ou clãs políticos, o que significa que todas as instituições políticas brasileiras são atravessadas por relação de parentesco”. Seguindo essa lógica, a ideia de que os clãs políticos realmente seriam uma espécie de grife se fortalece e confirma que pode existir candidatos novos em cada eleição, mas na realidade eles pertencem a grupos que já estão no poder. 

Oliveira ainda destaca que essas famílias acabaram se tornando uma instituição dentro do cenário político e que isso facilita que as futuras gerações desses clãs continuem perpetuando as ideologias desse grupo. 

O retorno financeiro 

Valenciano destaca que a política precisa ser tratada muitas vezes como uma empresa, uma vez que aqui no Brasil existe uma rede de pessoas que depende das grandes campanhas políticas e das equipes de gabinetes para sobreviver. Seguindo essa lógica, o especialista ainda ressalta que apesar de muitos clãs quererem ajudar a população e suas demandas, eles possuem um retorno financeiro ao serem ativos na política.  

Sob essa ótica, tanto Valenciano quanto Oliveira, revelam que não é somente os candidatos que lucram ao serem reeleitos em cada eleição, mas também quem participa de suas campanhas, que acaba garantindo de quatro em quatro anos uma renda.  Muitas vezes, existe uma única grande equipe por trás de um clã, algo que vimos nas últimas eleições com os Bolsonaro. 

Termos políticos sendo reeleitos por vários anos consecutivos já se tornou algo rotineiro no cenário de São Paulo. A força familiar nesse âmbito é renovada a cada eleição e a cada novo membro que adota um nome para entrar no jogo político. Apesar de não serem os mais importantes para o cenário político de São Paulo, os clãs possuem sua relevância ao manter a democracia viva, mesmo que para o próprio interesse.  

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