Essa não é só mais uma homenagem à Rita Lee Jones 

A artista, de 75 anos, faleceu em 2023; seu legado é a nossa responsabilidade.
por
Júlia Gomes Zuin
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17/10/2023

Rita Lee não foi apenas uma mulher à frente de seu tempo. Ela foi uma mulher, o que por si só, já é um ato revolucionário. A diferença é que Rita teve a coragem e possibilidade de expor o que significa existir como o segundo sexo. O que eu quero com este texto não é, de maneira alguma, desqualificar a genialidade da cantora, mas sim compreender em que palanque a colocaremos agora, para que consigamos aplaudi-la sem hipocrisia. É comum observar discursos que romantizam tristezas e injustiças e, ao que cabe a moça com uma tatuagem de estrela de sete pontas na mão, não é diferente. 

Aos 75 anos, no dia 8 de maio de 2023, um dos maiores ícones da história da música brasileira morreu. A comoção foi mundial, assim como as homenagens. Entre elas, algumas destacavam o fato de Rita ter sido transgressora quando se diz sobre sexo e prazer, outras, priorizavam as falas em torno da identidade visual da mulher; infelizmente, havia múltiplas que escolheram defini-la pelo uso de substâncias ilícitas, como a reportagem da Folha de São Paulo que teve como título: “Rita Lee, rebelde desde a infância, se deixou guiar por drogas e discos voadores”. 

Com tantos feitos, um dos maiores jornais do Brasil recorda a vida da artista com essa característica. Claro que não é excludente, pois faz parte de sua história, e não deve ser esquecida. Mas ela também foi abusada sexualmente com poucos anos; foi torturada por autoridades que dizem proteger; foi a artista com mais músicas censuradas na época da ditadura militar, no Brasil; deu um beijo na boca em Hebe Camargo ao vivo na televisão; publicou livros infantis com histórias maravilhosas; foi ativista direta quanto às causas animais; foi uma das poucas pessoas que escreveu músicas para a Xuxa. 

Pessoas como a Rita, quando morrem, são limitadas a estas representações, que inclusive são entendidas com um viés de culpa. E quando exemplifico “pessoas”, gostaria de colocar, mais uma vez, o indivíduo feminino. Quando morrem, são caracterizadas apenas por julgados absurdos - no fim, nem a morte traz paz. 

Rita não era doida, foi revolucionária. Perante e a todas as circunstâncias que enfrentou, às vezes com forças, outras nem tanto, não apenas falou sobre, mas cantou. Em conclusão, parafraseando a própria cantora: “Temos conquistas pela frente e aos poucos vamos tomando o poder a que temos direito. Se for para reencarnar novamente aqui na Terra vou querer ser mulher, caso contrário vou nascer hermafrodita num lugar onde não haja preconceito nem políticos escrotos.". 

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