Por Alice Di Biase
Ao acordar, Regina Schlochauer, de 85 anos, abre o jornal que é entregue diariamente no seu apartamento. Demorar-se na leitura é um ritual diário para ela, imersa nos textos levanta apressada para não perder a hora no Pilates. Já tinha ouvido falar da prática há muitos anos atrás, mas foi após uma consulta no Oncologista que Regina se interessou pelo Pilates. Além das aulas três vezes na semana, Regina também pratica musculação e vai ao fisioterapeuta.
O envelhecimento e a chegada à chamada terceira idade é inevitável, assim como o passar do tempo para um relógio. Para a maioria das pessoas, a cada movimento do ponteiro aumenta-se o medo e o receio em relação à saúde, sanidade mental e, principalmente, a autonomia. Há quem apenas observe o tempo passar, torcendo para que a sorte jogue a seu favor; e há quem se recuse a perder para o relógio, buscando no aprimoramento constante uma forma de transformar a velhice em um tempo de persistência e reinvenção.
Regina descobriu o câncer logo cedo, a princípio um tumor de mama, aos 40 anos de idade. Desde então, a doença reapareceu três vezes. Ela explica que além de seu cachorro Max, seu companheiro de anos, ela tem mais um bichinho de estimação: o câncer, que exige cuidado, disciplina e atenção tal qual um pet. Quando a doença ameaçava atingir outras partes do corpo, perguntou ao médico oncologista se o Pilates a ajudaria. Começou a praticar pouco antes da pandemia de Covid-19 e não parou desde então.
O esporte sempre fez parte da vida de Regina. Na juventude, praticou natação e se interessou por vôlei, mas não pôde se profissionalizar, já que mantinha uma carreira sólida como pianista e isso poderia comprometer a saúde das mãos. Além disso, durante os 20 anos que morou em Santos, andava de bicicleta diariamente pela orla. Sentia-se plenamente livre: aos 77 anos, viajou para Machu Picchu, no Peru, e enfrentou diversas trilhas sem dificuldades. Não sentia o peso da idade. Tudo mudou, porém, quando sofreu uma queda e fraturou a perna. Ela conta que depois da fratura teve um choque de realidade, percebendo que seu corpo nunca mais seria o mesmo, não só pelo acidente, mas também, pelo passar dos anos.
Pilates é um método de exercícios criado na década de 1930. A prática, que leva o nome de seu criador Joseph Pilates, busca fortalecer o corpo e o "core", considerado o núcleo do corpo, por meio de alongamentos e movimentos de resistência. Originalmente, chamava-se contrologia, termo que remete ao controle do corpo pela mente. Por ser uma atividade baseada na precisão e na qualidade dos movimentos, com foco na respiração, o Pilates estimula a flexibilidade, o equilíbrio, o fortalecimento muscular, a coordenação motora e o alívio de dores generalizadas. Nas aulas, Regina exercita sobretudo o equilíbrio, com práticas que envolvem caminhar em linha reta, levantar-se e sustentar o corpo em diferentes aparelhos. Com o tempo, ganhou confiança para caminhar sozinha novamente. Mas as aulas não se limitam a isso: semanalmente, a professora propõe novos desafios. Antes mesmo dos mais jovens tentarem, Regina já está pronta. Se consegue, celebra, se não, não se sente menos capaz.
Ela conta que depois de certa idade, cada passo passa a ser uma dúvida. Esse pensamento carrega uma profundidade que reflete os desafios de quem vive a longevidade. Cada movimento do corpo, cada gesto diário, traz consigo a necessidade de maior atenção, o receio de que a confiança já não seja a mesma. Ainda assim, Regina não permite que o medo a imobilize. Pelo contrário, ela transforma cada incerteza em estímulo para seguir em frente. Para ela, o envelhecimento não é um processo de perda, mas de redescoberta: do corpo, dos limites e, principalmente, da força interior. O Pilates, nesse sentido, não é apenas um exercício físico, é também um espaço de convivência, aprendizado e alegria. Nas aulas, Regina se diverte conversando com colegas de diferentes idades, trocando experiências e opiniões, encontra com os colegas de aula e seus filhos para cafés da tarde e festas. Encontra na socialização um antídoto contra a solidão e uma fonte de motivação.

E não é apenas no Pilates que Regina se desafia a superar as limitações da idade. Ela reconhece que o corpo e a mente são profundamente conectados e que, à medida que envelhecemos, é preciso cuidar de ambos com a mesma dedicação. Pianista profissional, ainda participa de recitais e dá aulas particulares de música e piano. Em um escritório repleto de livros e partituras antigas — que ainda pretende separar por compositor, mas perdeu a paciência ao chegar nos russos, deixando-os todos na mesma caixa —, Regina segue interessada pela vida acadêmica, com projetos futuros. Às vezes, vai ao SESC para ter aulas gratuitas de Word, argumentando que as atualizações de softwares bagunçam totalmente o funcionamento do aplicativo.
Com uma rotina repleta de atividades, Regina segue provando que o envelhecimento não precisa ser sinônimo de estagnação. Faz de tudo para nunca depender de ninguém. Cada nova tentativa, cada passo cuidadoso, é também um gesto de coragem e de afirmação da vida. Para ela, a inflexibilidade — motivo de orgulho para alguns — é uma verdadeira doença para quem tem o privilégio de envelhecer. Saber se reinventar é a chave. É esse constante exercício de adaptação, que mantém Regina viva em todos os sentidos: no corpo que ainda se move com graça, na mente que continua curiosa, e na alma que segue apaixonada pela vida.