Diversidade é a palavra da moda no mundo fashion

A visibilidade e a pluralidade vai além dos desfiles
por
Tabitha Ramalho
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12/05/2022

Por Tabitha Ramalho

Moldes, tesouras, cortes e costuras. Esse é o mundo criativo da moda, um espaço onde muitos desenvolvem sua criatividade e se expressam em seu processo de criação. Desde as maisons mais tradicionais da alta-costura até as marcas menores, a inclusão é uma pauta que vem sendo aplicada e questionada nesses lugares, tanto em quem modela como na parte criativa e de produção, abrangendo, por exemplo, pessoas com diferentes etnias, orientação de gênero ou sexual, PCD’s e corpos plurais.

A última edição da São Paulo Fashion Week (SPFW), N52, deu um show de representatividade, em parceria com o coletivo “Pretos na Moda”, a passarela apresentou rostos e corpos de pessoais reais que vemos diariamente: negros, brancos, asiáticos e indígenas. Essa foi a primeira vez que houve tanta diversidade no evento, seja nas passarelas, na produção e até mesmo nas próprias roupas, que trouxeram a brasilidade em seus traços.

Muito além dos grandes ateliês, marcas de grife e a correria para a entrega de looks para eventos importantes, os amantes de moda como Noah Renzi comentam como a SPFW está crescendo internamente, “o brasileiro está começando a conhecer e valorizar as nossas marcas, entretanto, falta a presença do público, de famosos que vão para a Fashion Week de Milão ou Paris, mas não frequentam a de São Paulo”. E argumenta como a falta dessa plateia também implica na questão da visibilidade, já que poderiam ajudar a alavancar a moda nacional, “nossas marcas trazem a nossa cultura, contam a nossa história e isso é uma representatividade. Por exemplo, diferente de grandes grifes do exterior, não temos apenas três modelos negras em um desfile”.

Projeto Sankofa irá trazer inclusão para a moda nacional: conheça as 8  marcas que estreiam no SPFW - Vogue | moda

Mile Lab, uma das marcas que participa do projeto Sankofa (Foto: Divulgação/Vinicius Marques)

Não é só nas telonas dos cinemas que tem representativa exposta, como por exemplo o “Projeto Sankofa”, que tem como objetivo dar visibilidade, apoio e suporte aos empreendedores racializados, também esteve presente nesta edição, inserindo 8 marcas, sendo: Ateliê Mão de Mãe, Meninos Reis, AZ Marias, Mile Lab, Naya Violeta, Santa Resistência, Silvério e Ta Studios. O intuito do Sankofa é, além de apoiar, acompanhar com mentoria, compartilhar experiências e permitir a vivência na SPFW.

"AZ Marias”, marca criada pela estilista Cintia Felix, trouxe estampas que conversavam sobre religiões de matrizes africanas, trazendo autoestima e resiliência às mulheres. “O projeto celebra o corpo real, a valorização das pessoas para além dos lucros, impactando socialmente”, diz Felix. Esse é um grande exemplo de representatividade neste universo, englobando os ideais tanto nas roupas, como nas passarelas e na produção criativa.

Pensar em representatividade nesse mundo, vai muito além de quem modela, é preciso incluir no desenvolvimento da coleção e no marketing. Não é só criar uma capa de revista com uma pessoa negra, por exemplo, é também ter pessoas seja negras, PCDs ou indígenas em toda a equipe”, explica Luísa Vergette Correia Lahmeyer Duval, comunicadora e social media da @fashionmeeting. 

A moda é diversão e inspiração, o sonho de ter a roupa perfeita para qualquer ocasião faz com que todos nós podemos nos incluir no mercado e segundo os dados do Banco Mundial, 15% da população global possui alguma forma de deficiência e, de acordo com a Wunderman Thompson, a representação dessas pessoas nas mídias brasileiras não chegam nem a 2%. Como dito pela comunicadora e social media, tê-las expostas na imprensa, não quer dizer propriamente que estão sendo representadas, há de fato uma visibilidade maior, porém não há linha de produtos, de vestuários, acessórios e cosméticos específicos e de fácil acesso a pessoas PCDs, por exemplo.

Luciano Szafir desfila com bolsa de colostomia na SPFW: "Sejamos felizes  como somos"

Luciano Szafir desfilando para Walério Araújo na SPFW 21 (Foto: Instagram/Reprodução)

"Não queremos somente consumir. É preciso incluir a pessoa com deficiência no marketing, no espaço de desenvolvimento da coleção, no pensar da universalidade nas modelagens”, desabafa Samantha Bullock, fundadora da SB Shop, hub de moda, com curadoria de marcas e peças autorais adaptativas e consultoria inclusiva, modelo e ex-jogadora de tênis.

A experiência de consumir e comprar roupas deveria ser um fácil acesso a todos, porém a maioria dos atendimentos são capacitistas. “Muitas lojas não possuem estrutura para pessoas PCDs, você vê pelas araras de roupas, às vezes parecem coisas tão óbvias para o nosso cotidiano, mas não são todas as pessoas que conseguem pegar uma peça que esteja num varão mais elevado”, argumenta Luísa Vergette.

"A revolução da inclusão está acontecendo, mas somente 4% das marcas estão pensando em tornar suas ofertas inclusivas para pessoas com deficiência”, apontou Christina Mallon, head global de design inclusivo e acessibilidade na Wunderman Thompson, que perdeu os movimentos do braço depois de um problema neurológico, em entrevista à Vogue.

A moda nacional está se expandindo, aos poucos as marcas brasileiras estão alcançando o público internacional, como é o caso da Patbo, da mesma maneira que estão sendo mais valorizadas pelo seu próprio povo. Tanto Renzi como Vergette, anseiam positivamente pelo reconhecimento nacional e no exterior, e que o futuro seja promissor na inclusão, que o mercado global possa se tornar adaptável, amplo, com uma moda sem gênero e acessível.

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