Devido ao avanço da vacinação e à consequente diminuição do número de casos do coronavírus e de hospitalizações provocadas pela doença no estado de São Paulo, a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) decidiu, no início do ano, pela volta das aulas presenciais no primeiro semestre de 2022, após cerca de dois anos com aulas ministradas de maneira remota pela instituição.
Muitos alunos que entraram para a faculdade durante esse período de pandemia ainda não haviam tido a oportunidade de pisar no campus e de estar, de fato, dentro da universidade. É o caso da Beatriz Liberato, de 20 anos, que se matriculou na PUC-SP no meio de 2020 e está, atualmente, no quarto semestre do curso de economia.
“Foi bem estranho, na verdade. Até porque, quando você está no ensino médio, todo mundo te fala sobre como a faculdade é uma nova experiência, e que é muito diferente. Eu acho que não fiz nenhuma amizade online durante o tempo de EAD (Ensino à Distância), estou fazendo mais amizades agora que as aulas voltaram presencialmente. O início do semestre foi estranho. Voltar para uma rotina e sair de casa todo dia, depois de ter ficado em casa o máximo possível durante dois anos. Mas já estou mais acostumada agora”, contou Beatriz.
Quando questionada se sente segurança com a volta das aulas presenciais na universidade, Beatriz trouxe à tona também questões psicológicas.
“Não sinto muito segurança, e embora grande parte do motivo seja a quantidade de roubos acontecendo nas ruas paralelas à PUC-SP, uma parcela também é porque eu comecei a relacionar ficar trancada em casa com segurança inconscientemente, então toda vez que eu saio de casa é meio estranho nos primeiros minutos”, relatou a estudante.
Há também os alunos que já eram veteranos antes do início da pandemia do coronavírus, e que voltaram a frequentar a PUC-SP neste ano. Muitos deles sentiram diferenças significativas entre pisar pela primeira vez na universidade antes da pandemia e no início do ano com a volta presencial, como conta Luiz Lungvitz, estudante do sétimo semestre de economia.
“Depois da pandemia, eu me senti muito mais desconfortável de estar perto das pessoas, principalmente por causa do vírus. Eu gostei de terem distribuído as cadeiras de uma forma mais separada, para ter um distanciamento social”, disse Luiz.
Já Mario Bio, aluno do sétimo semestre do curso de direito da PUC-SP, tem uma visão mais crítica em relação a como a universidade lidou com a volta das aulas presenciais.
“Tirando os adesivos e o álcool-gel acoplado nas paredes, eu não senti diferença nenhuma. Continua sendo nos corredores um aquário quente e fechado, em geral com salas muito abafadas. Claramente a PUC-SP não tinha infraestrutura e continua não tendo para comportar o corpo discente”, disse o estudante.
O afastamento social provocado pela pandemia e agora essa reaproximação da comunidade acadêmica com a volta das aulas presenciais têm diferentes impactos no contexto da saúde mental, além de gerar distintos comportamentos por parte dos estudantes. É o que conta Vani Catarina, psicóloga formada pela Universidade Paulista (UNIP).
“O ambiente escolar desenvolve habilidades sociais e vínculos afetivos importantes para o desenvolvimento. Durante o período da pandemia, pode-se observar um aumento de transtorno de ansiedade, pânico, depressão e fobia social. O comportamento tem diferenças significativas no contexto online, desde a forma de se vestir, postura de sentar, atenção dedicada ao conteúdo, desenvolvimento de rotina de estudo e cumprimento de regras e responsabilidades. No contexto presencial, essas habilidades são desenvolvidas de forma a aumentar o rendimento escolar”, explicou a psicóloga.
Para Silvana Donadio Vilela Lemos, coordenadora da pós-graduação em psicopedagogia do Senac EAD, mais do que uma discussão sobre o tipo de modalidade (presencial ou à distância), trata-se de um debate sobre as experiências vivenciadas pelos alunos. No entanto, ela reconhece que o afastamento social presente durante o período de ensino à distância trouxe graves consequências para os estudantes.
“Acredito que a prática educativa, independente da modalidade, deverá ser fundamentada nas experiências cotidianas dos estudantes e a serviço da investigação científica. O distanciamento social alterou as rotinas, tanto no âmbito familiar quanto no escolar e deixou sequelas, devido à dificuldade financeira vivenciada pelas famílias, o adoecimento e as mortes causadas pelo vírus da covid”, disse a psicopedagoga.