De jovens anônimos a atrações do Rock In Rio

Um grupo de jovens paulistanos viu a possibilidade de estar no palco de um dos maiores festivais da história. O episódio serviu para mostrar como a música pode mudar muitas vidas, e os integrantes do “Seu Edinaldo” viveram isso.
por
João Henrique Barreto Maia
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29/10/2021

O cenário do Rock nacional sofreu inúmeras alterações na última década, se, nos anos 80 e 90, muitas bandas fizeram sucesso, no fim dos anos 2000, essa realidade mudou muito pela ascensão de outros gêneros. No entanto, muitas bandas continuam surgindo, mostrando seu talento e provando que o rock ainda vive.

Um bom exemplo disso é o “Seu Edinaldo”, banda paulistana criada em 2016, que vem construindo uma trajetória bem interessante nesses últimos anos. Os irmãos Gustavo e Hugo Sigaud foram os responsáveis por sua criação, sempre apaixonados por música, encontraram na banda a oportunidade de continuar praticando seus instrumentos, além de criarem muitas coisas novas.

 

Foto: Ensaio da banda no estúdio.

Já o nome foi uma homenagem a um grande amigo deles, mais especificamente o zelador do prédio onde eles moravam na época. Os irmãos se mudaram do prédio, mas o respeito e admiração pelo seu Edinaldo se mantiveram firmes.

O grupo desde o início focou mais no rock alternativo e indie rock e, pouco a pouco, foi ganhando espaço e participando de muitos eventos. Dentre eles estão o Expo Music SP 2018, o Burgers n Sounds 2017, a abertura do show do Lobão e Eremitas da Montana na Audio Club em 2018 e o mais importante deles, o Rock in Rio de 2017.

Para chegar nesse último festival, foi necessário participar de um concurso realizado pela Doritos, que estimulou diversas bandas do rock nacional a enviarem um vídeo tocando ao vivo, assim selecionariam sete bandas para os sete dias de festival. Os paulistanos enviaram o vídeo, e o resultado foi viver uma experiência única em um dos maiores festivais de músicas de todo o mundo.

O “Seu Edinaldo” já teve quatro formações desde 2016, Gustavo é o único integrante que está desde o ano de formação da banda, presente, portanto, no Rock In Rio 2017.

Ele entende que foi uma experiência maravilhosa, por poder tocar para um público tão grande e intenso, visto que a banda tinha pouquíssimos shows no currículo até aquele momento. Além disso, na visão do baterista, participar de um evento tão grandioso com bandas de renome nacional e mundial fez daquela experiência algo único e indescritível.

 

Foto: Gustavo Sigaud em um show da banda.

Dentre as músicas da banda estão “Croissant com Café”, “Treze”, “Endereço”, “Mau Olhado'' e "Ilusão". Seguem abaixo as formações que o grupo já teve até o momento:

 

1º formação- Gustavo Sigaud (bateria), Hugo Sigaud (guitarra/vocal) e Fábio Mandia (baixo)

 

2º formação- Gustavo Sigaud (bateria), Hugo Sigaud (guitarra), Fábio Mandia (baixo) e Bruno França (guitarra/vocal)

 

3ºformação- Gustavo Sigaud (bateria), Hugo Sigaud (guitarra), Luan Megda (baixo) e Bruno França(guitarra/vocal)

 

4º formação- Gustavo Sigaud (bateria), Bruno França (guitarra/vocal) e Nicão (baixo)

 

 

O Cenário do Rock em 2016

No ano em que a banda surgiu, o rock vinha sofrendo algumas mudanças, pouquíssimas bandas desse gênero conseguiam fazer um certo sucesso ainda, e quase nenhuma figurava no topo das paradas de sucesso.

Aquelas que se mantinham na fama eram as mesmas bandas que haviam surgido no fim dos anos 90 e início dos anos 2000. Ou seja, o rock não conseguiu se reinventar. Isso, porém, deu-se muito pela mudança de comportamento da sociedade, os jovens de cinco anos atrás se distanciaram muito dos jovens dos anos 80,90, que enxergavam na música uma forma de protesto, um meio de quebrar as regras sociais.

Hoje em dia, assim como já vinha ocorrendo em 2016, a música passou a ser apenas uma forma de relaxar, de aproveitar a noite e curtir. E, no quesito curtição, o rock acabou perdendo campo para o funk, pagode e principalmente para o sertanejo, mais especificamente o sertanejo universitário, talvez o maior fenômeno musical dos últimos 15 anos.

Viver de música atualmente já é difícil, no entanto, viver do rock no Brasil é uma tarefa praticamente impossível. A quantidade de shows que a grande maioria das bandas realiza não é o suficiente para terem isso como principal fonte de renda, e a chance de um novo álbum se tornar um sucesso é mínima.

Diante de tal cenário, quem tinha pretensão de ter uma banda de rock teve que mudar de planos. Na verdade, essas pessoas praticamente tiveram que transformar essa ideia em um hobby, já que entenderam a realidade do gênero.

Sendo assim, muitas bandas passaram a tocar para se divertir, por prazer mesmo, não por buscarem o reconhecimento e o sucesso. Com o pessoal do Seu Edinaldo não foi diferente, quando surgiu a ideia de criar a banda, o intuito era ser exatamente um lazer, um local para descarregarem o estresse do dia a dia.

 

Os reflexos da Pandemia

Para tornar a situação ainda pior, a pandemia do Covid-19, que chegou no país em março de 2020, fez com que vários shows e festivais fossem cancelados, abalando  mais ainda a cena do Rock and Roll.

São nesses eventos que as bandas têm a possibilidade de aumentar a rede de contatos e o número de fãs, é lá onde o contato humano acontece. Ao tirar a principal rede de conexão dos músicos, estão tirando deles também a energia e a vontade de continuar. Vale, todavia, ressaltar que as lives foram uma opção durante esse período turbulento, eles conseguiram de alguma forma amenizar o distanciamento social entre os artistas e os fãs.

Se não bastasse o impacto na carreira, esse período de paralisação gerou problemas na saúde mental dos músicos ao redor do planeta. Uma pesquisa divulgada pela ONG britânica Help Musicians UK em março deste ano mostrou que 90% dos músicos no Reino Unido sofreram problemas ligados à saúde mental.

Mesmo que esse estudo não fale só do Rock, mas sim de vários gêneros, não fica difícil imaginar que, com os músicos do gênero, a situação tenha sido parecida.

Os integrantes do Seu Edinaldo chegaram a ter dúvidas sobre o futuro da banda, todavia, perceberam que a paixão e a possibilidade de encontrar os amigos nos ensaios e poder socializar está acima de qualquer coisa, são momentos que o dinheiro não compra.

Segundo Gustavo, muita coisa mudou desses dois anos pra cá. “A gente vinha ensaiando bastante e estávamos gravando novas músicas para um novo trabalho quando tudo isso aconteceu. Todos nós sentimos a falta de tocar, eu, por exemplo, tive crises de ansiedade por ficar muito tempo sozinho e não poder ter a mesma rotina de antes", ressaltou o músico.

Eles não conseguiram se reunir durante esses dois anos, mas, aos poucos, estão voltando a tocar e pegando o ritmo novamente, o que não é nenhum pouco fácil. As expectativas futuras, entretanto, são boas, e a possibilidade de cantar novamente os anima.

 

Foto: Da esquerda para a direita- Gustavo Sigaud, Bruno França, Luan Megda e Hugo Sigaud.

 

 

O Futuro da Banda

A banda busca recomeçar, encontrando-se cada vez mais, eles poderão retomar o entrosamento que tinham antes. O grande objetivo é conseguir dar sequência ao álbum intitulado “Seu Apartamento”, que eles vinham trabalhando quando os rumores do vírus começaram a circular.

O primeiro passo é finalizar as vozes do álbum e, depois que tudo estiver pronto, o grupo pretende soltar esse projeto nas plataformas digitais. O resultado disso ainda é algo que eles não têm noção, mas só de estar em movimento e querendo crescer cada vez mais já é motivo para comemorar.

A expectativa é que o álbum fique pronto ainda no primeiro semestre do ano que vem, por isso eles já estão agilizando para que tudo saia como o previsto. Para quem ainda não conhece o trabalho da banda, é só acessar o canal do Seu Edinaldo  no youtube e conferir o que eles já produziram até hoje.

 

Eles por Eles:

O que motivou vocês a escolherem o rock e o que motiva vocês a continuarem?

 

Na opinião de vocês, existe um fator principal que diferencia o rock de outros gêneros?

 

Bruno França

O ritmo contagiante e muita influência do meu pai quando era mais novo. Sempre que entrava no carro com ele já sabia que ia escutar uma ótima música, tenho certeza que foi essa influência que gerou tanta identificação com o estilo. O principal motivo para continuar é o amor pela música".

"Acho que a música no geral traz uma sensação de liberdade. Não creio que o rock seja mais ou menos importante que outros gêneros. Acredito que todo estilo tem suas qualidades, mas, para minha pessoa essa sensação de liberdade é desperta pelo rock".

 

Gustavo Sigaud

"Não escolhemos o rock, o rock nos escolheu. É um gênero que evidencia mais os instrumentos orgânicos, os quais gostamos de tocar, e seu som cru. Acho que o que me motiva continuar, são os nossos encontros rotineiros no estúdio, além de tocar o instrumento em grupo, que é uma experiência muito legal e recíproca".

"Que pergunta difícil de ser respondida. Acho que é um gênero que tem o poder de tocar alguma pessoa, assim como qualquer outro. Ao longo da história, sempre foi um ritmo dançante, que foi marcado pelo seu  lifestyle irreverente e diferente dos padrões seguidos em sua época de destaque. A música evolui, assim como a sociedade e seus gostos".

 

Assista ao clipe da música Treze, gravado pela banda em 2018, e que tem mais de 200.000 visualizações no Youtube.

Seu Edinaldo - Treze (Videoclipe)

 

 

 

 

 

 

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