Crítica diz que cinema brasileiro vai ter uma queda devido à desorganização

Dados mostram que mesmo em queda a indústria cinematográfica ainda fica à frente de outras no PIB do país
por
Artur Ferreira, Gabriela Neves e Natasha Meneguelli
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24/06/2020

 

 

Ivonete Pinto em Nagasaki (Japão)  no início de 2020 - Acervo Pessoal
Ivonete Pinto em Nagasaki (Japão)  no início de 2020 - Acervo Pessoal

A presidente da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), Ivonete Pinto, afirma que no Brasil temos uma grande quantidade de produções cinematográficas, mas que o cinema nacional pode sofrer uma  grave queda devido à desorganização política. 

“A Ancine (Agência Nacional de Cinema) não está funcionando, o fundo setorial do audiovisual, que é de onde vem a maior a parte dos recursos, o governo não está repassando o dinheiro, então, realmente isso está muito tenebroso”, afirma Ivonete. Além, claro, do fechamento do Ministério da Cultura e toda a polêmica que aconteceu com a atriz Regina Duarte.

Ivonete lembra que as produções brasileiras já foram melhores e que o mercado começou a entrar em crise a partir de 2013. No ano citado pela crítica a participação de público dos filmes brasileiros era de 18,59%. O último dado registrado pela Ancine mostra que em 2018 ela foi de 14,83%. Em 2017, registrou-se a pior marca desde o começo da crise, chegando à taxa de 9,58%.

Consequentemente, a Ancine também registra que a renda gerada pelos filmes brasileiros acabaram caindo. Em 2013, o rendimento era de mais de R$ 297 milhões. Os dados de 2018 mostram que a renda não passou muito dos R$ 290 milhões. 

Porém, mesmo com essa queda a indústria cinematográfica que gerou mais de R$ 17 bilhões em 2017, segundo o levantamento das Contas Nacionais, divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). 

O registro mostrou que o cinema teve mais peso no PIB (Produto Interno Bruto), que outras atividades industriais importantes, como a indústria têxtil (R$ 15,548 bilhões), a produção de açúcar (R$ 12,726 bilhões), a indústria de cosméticos (R$ 11,398 bilhões) e o transporte aéreo (R$ 10,042 bilhões).

A crise ainda fez com que o mercado de streaming crescesse. Uma pesquisa do Ibope Conecta e do Omelete Group mostrou que em 2019 o setor arrecadou R$ 180 bilhões. Esse número pode ser ainda maior devido à quarentena gerada pelo Covid-19.

Crítica durante a pandemia

Com a pandemia, além dos cinemas fechados, não há novos lançamentos brasileiros. Ivonete também é formada em jornalismo e ministra aulas na Universidade Federal de Pelotas. Para os autores em veículos próprios, que também é o caso dela, com a revista Teorema de crítica de cinema, existe uma liberdade maior, tendo toda a cinematografia mundial como assunto. 

Para quem trabalha em jornais diários, blogs ou revistas dedicadas ao cinema brasileiro, o cenário muda: “[essas pessoas] começam a sentir, realmente, que as coisas precisam se encaminhar para outros modos de exibição”, afirma Ivonete. 

Ela cita as plataformas de streaming como um fator possível para adaptação. Os lançamentos nessas plataformas estão cada vez mais frequentes, e como elas funcionam por meio de assinaturas, os filmes continuam recebendo alguma remuneração. “Mas, ainda é tudo muito incipiente, é tudo muito experimental”, explica a jornalista. Para ela, não é possível continuar desta forma por muito tempo, já que a remuneração por meio destes sites é muito pequena. 

Ivonete conta também que há muitos profissionais do ramo da crítica que neste momento dependem do retorno financeiro vindo de seus blogs e canais do Youtube, e que há espaço para o aproveitamento de filmes mais antigos. Os lançamentos diminuíram, mas, ainda ocorrem pelo estoque de filmes e séries produzidos. No ano de 2021 estas produções podem ficar bastante escassas, já que elas ficaram praticamente paradas em 2020. 

Uma das plataformas de streaming mais conhecidas é a Netflix, e ela tem aumentado seu catálogo de séries e filmes brasileiros. Entre os lançamentos: estão como exclusivos da plataforma as séries “Coisa mais linda” e “Irmandade”; além dos que são produzidos pela própria Netflix “Hoje eu quero voltar sozinho” e “O som ao redor”; sem contar com filmes já lançados anteriormente.

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