Comuns, mas negligenciadas: o caminho para descobrir a endometriose e SOP

Profissionais pouco acolhedores e falta de informação trazem sofrimento até o diagnóstico
por
Michelle Batista Gonçalves
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14/04/2023

Segundo o Ministério da Saúde, uma em cada dez mulheres é afetada pela endometriose no Brasil. A doença é manifesta quando um tecido semelhante ao revestimento uterino cresce fora do útero. Os principais sintomas da doença incluem dores fortes, sangramento irregular ou intenso, problemas do sistema digestivo, dor durante o sexo e dificuldade para engravidar. Os órgãos mais acometidos, normalmente, são os ovários, as trompas de falópio e o tecido que reveste a pelve, mas a endometriose pode se estender para outros órgãos e partes do corpo. 

 

Greice Leoni, nutricionista e que tem endometriose, conta que seu processo de diagnóstico da doença passou por algumas – longas – etapas: “Descobri a endometriose porque eu sentia muitas dores pélvicas. Depois de fazer muitos exames, ter cólicas menstruais horríveis e dores na relação sexual, minha médica disse que provavelmente eu tinha uma doença inflamatória pélvica. Começamos a investigar fazendo exames ginecológicos e não constava nada. Até que ela pediu uma ressonância da pelve, foi assim que descobri a endometriose em alguns pontos: ovários, no sacro ilíaco (atrás do útero) e perto da lombar, e no final do intestino.” 

 

Além da endometriose, existem outras doenças do sistema reprodutor feminino que causam, também, grandes desconfortos e problemas que afetam a vida cotidiana. A mais comum é a síndrome dos ovários policísticos (SOP). 

 

A síndrome dos ovários policísticos, por sua vez, é uma doença endócrina caracterizada pelo aumento dos hormônios masculinos (hiperandrogenismo) e pela presença de pequenos cistos, em um ou nos dois ovários. Seus sintomas mais frequentes são longos períodos de ausência da menstruação, ciclos irregulares, cólica forte, acne, aumento de pêlos no corpo e infertilidade. Além disso, a síndrome é considerada um fator de risco para o desenvolvimento de diabetes mellitus tipo 2, doenças cardiovasculares e hipertensão arterial. 

 

A demora no diagnóstico de tais doenças se dá, principalmente, pelo pouco acolhimento e averiguação médica. É o que explica o ginecologista e obstetra, Lucas Resende: “A gente tem aqui uma relativização da dor alheia. Pacientes levam em média 8 a 10 anos e passam por 5 a 6 ginecologistas para receber o diagnóstico. Paciente que chega e fala que tem muita dor, muita cólica, dor na relação sexual e o profissional simplesmente ignora esse ‘muito’, supõe que é uma dor normal”. 

 

Exemplo real do que foi explicado pelo ginecologista Lucas, Greice precisou passar por diversos profissionais até receber o diagnóstico. “Eu achava normal ter cólica menstrual, e as minhas sempre foram muito fortes. Quando troquei de médica, ela resolveu investigar, mas fui em várias ginecologistas até descobrir.” e completa “Eu tinha cólica abdominal forte, dor na relação sexual e inchaço abdominal, mas os médicos disseram que as dores eram normais de cólica menstrual, até eu achar essa médica ótima e descobrir que eu tinha endometriose.” 

 

Se não tratada, a endometriose pode levar à morte por sepse (infecção generalizada), principalmente se tiverem aderências no intestino, causando obstrução intestinal; mais um fator que expõe a necessidade de atenção aos sintomas. 

 

Para aquelas que apresentam os sintomas citados e suspeitam que podem ter endometriose ou a síndrome dos ovários policísticos, Lucas recomenda: “Invistam na saúde de vocês. Consulta bem feita é investimento. Se consultem com médicos de verdade, atualizados, que sabem o que estão fazendo. Hoje, com as redes sociais, ficou mais fácil procurar um médico e vê-lo falar, ver se há empatia, se há conexão com a pessoa que está ali.” 

 

Anamarya Rocha, ginecologista endócrina, especialista em sexualidade feminina e cirurgia íntima avançada, também dá algumas recomendações: “O ideal é sempre ter acompanhamento ginecológico e fazer exames constantemente. Por esse motivo a medicina preventiva é tão necessária, conhecendo todo o histórico da pessoa, assim como o contexto em que ela vive, seus hábitos e tipo de dieta, a chance de identificar alterações precocemente é bem maior. Então fique atenta aos sintomas e às alterações ocorridas no seu corpo e vá ao seu ginecologista com frequência.”

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