A Vila Itororó pretende abrir ainda neste semestre duas de suas casas que foram restauradas e ficaram prontas em dezembro do ano passado. A casa 6 receberá a Casa da Memória Paulistana. O local terá diferentes atuações, como debates para se discutir o futuro da cidade e oficinas diversas. Além disso, a casa vai abrigar um museu sobre São Paulo e sobre a própria Vila Itororó. A previsão de abertura é para maio.
Já a casa 7, uma residência de três andares, vai ser o novo espaço do FabLab, que está localizado atualmente de forma provisória no galpão da Vila Itororó. Os FabLabs são uma rede de laboratórios públicos existentes na cidade de São Paulo que realizam oficinas de marcenaria e utilizam tecnologia, como impressoras 3D e cortadoras a laser, para a produção de objetos.
As duas casas são parte da primeira etapa do restauro da Vila Itororó, que contemplou as casas 5, 6 e 7 e o bloco 11, que conta com 9 apartamentos. Enquanto a Vila em si não é aberta ao público, o galpão, uma extensão da Vila, também conhecido como Canteiro Aberto, recebe oficinas e fica à disposição da população para diferentes tipos de uso. “O galpão foi aberto para se discutir o futuro da Vila. Ele é utilizado para usos espontâneos. Além disso, em março, por exemplo, iniciamos 16 novas programações, entre elas dança de salão, dança contemporânea, yoga, técnicas corporais, culinária, oficinas de circo e educação ambiental”, explica Diogo Viana, coordenador da gestão cultural da Vila Itororó.
O público que usufrui das atividades é diverso: “A maior parte de frequentadores é de gente da região, mas tem pessoas de todas as partes de São Paulo”, ressalta Diogo. A Vila fica localizada entre os bairros da Liberdade e da Bela Vista, na região central da cidade de São Paulo. O galpão, anexo ao local, tem entrada pela Rua Pedroso.
Galpão da Vila Itororó. - Foto: Beatriz de Oliveira, Júlia Valente e Vanessa Lino.
O processo de restauração da Vila Itororó começou em 2012 após as 48 famílias que viviam irregularmente no local serem realocadas para o CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) da região. Ao todo são três etapas de restauro, com finalização no palacete, canteiro e galpão. A proposta do local é de manter as projeções das moradias e preservar a memória da Vila Itororó, transformando o espaço em um centro de reflexão e discussão sobre os usos do centro cultural no futuro, de forma a dialogar com o passado e também com as necessidades atuais do bairro.
Por conta da pandemia do novo coronavírus as programações do galpão foram canceladas e o local está fechado temporariamente. Além disso, as datas de abertura das casas podem sofrer alterações.
A HISTÓRIA DA VILA ITORORÓ
A Vila Itororó, a primeira vila urbana de São Paulo, foi idealizada e construída no início do século XX por Francisco de Castro, um rico comerciante descendente de portugueses. Ao todo eram 11 conjuntos e 37 casas, incluindo o grande palacete com cerca de 50 cômodos e entrada para o então nobre bairro da Bela Vista.
Palacete da Vila Itororó. - Foto: Beatriz de Oliveira, Júlia Valente e Vanessa Lino.
Francisco residia no palacete central, e destinou as casas do entorno para aluguel, renda que pretendia usar para sua aposentadoria. “Para atrair moradores ele constrói a primeira piscina privada da cidade de São Paulo, que era sustentada pela nascente do Rio Itororó - hoje canalizado - que nascia no canteiro da Vila. Ele dizia que essa água tinha um poder de cura”, diz Diogo Viana. A própria palavra “itororó”, de origem tupi, que significa água barulhenta, pequena cachoeira.
Com a quebra da bolsa de Nova Iorque, em 1929, os Estados Unidos pararam, entre outras coisas, de comprar o café brasileiro, deixando muitos produtores sem sua maior fonte de renda. Um desses produtores era Francisco, que viu seu patrimônio diminuir drasticamente. Ele teve de hipotecar a Vila, que posteriormente foi a leilão. Antes de ser desapropriado, em 2012, o local foi sede de um clube e, posteriormente, passou a ser usado como cortiço.
A arquitetura da Vila é ponto de admiração e estudo, segundo Norton Ficarelli, diretor adjunto do Instituto Pedra, responsável pela restauração do local. “A construção da Vila Itororó é bastante incomum. Foi usado muito material de demolição, uma mistura de estilos arquitetônicos em um terreno de topografia peculiar, além de ser um processo de praticamente 30 anos”. Norton, aponta ainda o ineditismo do fato da Vila ter sobrevivido a um processo de especulação imobiliária e verticalização da cidade.