CBF muda protocolo em meio a questionamentos sobre o início do Campeonato Brasileiro

Especialistas e profissionais da imprensa criticam a volta do futebol brasileiro durante a pandemia da covid-19 e avaliam métodos utilizados por outras competições no exterior
por Daniel Gateno, Francisco Vovio Segall, Laura Trindade e João Pedro Coelho
por
Daniel Gateno
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10/09/2020

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) anunciou uma mudança nos protocolos de testagem dos jogadores para o novo coronavírus no início do mês de agosto. A estreia do Campeonato Brasileiro em meio à pandemia da covid-19 foi extremamente contestada pela crítica especializada e por muitos profissionais da saúde, principalmente por conta do antigo método de testagem. O jogo entre Goiás e São Paulo, valido pela primeira rodada do campeonato teve de ser adiado porque nove atletas do time esmeraldino testaram positivo para covid-19.

“O Brasileirão tem um grande problema dentro dos seus protocolos que é a dimensão continental do Brasil”, afirma Alexandre Barbosa, Chefe do departamento de infectologia da Universidade Estadual Paulista (UNESP). “ O campeonato contem times do Rio Grande do Sul ao Amazonas, equipes de regiões que estão em estágios diferentes da pandemia, o que torna o risco de contaminação extremamente alto”.

O jornalista da Rádio Bandeirantes Bernardo Ramos concorda que o campeonato deve passar por dificuldades para manter a segurança dos atletas e opina que a competição não deveria ter começado: “ O momento não era o ideal, Flamengo e Bangu jogaram pela Taça Rio no Maracanã ao lado de um hospital de campanha e duas pessoas morreram durante o jogo”.  “ Os jogos voltaram na Alemanha e em Portugal quando a curva de contágio estava diminuindo”, complementou Ramos.

As modificações no protocolo da CBF preveem a testagem de todos os 23 jogadores inscritos para a partida, o fim da exclusividade do Hospital Albert Einstein no cumprimento dos protocolos e o envio dos resultados em 24 horas para clubes mandantes e 12 horas para visitantes. O novo regulamento visa melhorar a logística dos clubes, que já tiveram problemas com o Hospital Albert Einstein.

Cem jogadores testaram positivo para o novo coronavírus na primeira semana do Campeonato Brasileiro (Nas séries A,B e C). O Sindicato dos Atletas de São Paulo ameaçou ir à justiça pela paralisação da competição. “ Assim, ou isola as delegações por uma quantidade de dias antes de cada partida, quantidade de dias que seja capaz da obtenção dos resultados das testagens de forma segura, ou se cria uma “bolha” e isola de vez as delegações durante toda a competição”, declarou o Sindicato em documento oficial enviado à CBF.

A possibilidade de uma bolha foi levantada por Barbosa: “ O protocolo perfeito foi feito pela NBA, a liga de basquete norte-americana que confinou todos os times em um complexo esportivo para a realização dos playoffs”. “ Seria mais apropriado confinar os jogadores em uma cidade como São Paulo, onde o índice de transmissão do vírus está baixando e tem uma rede hoteleira capaz de acomodar as delegações dos 20 times”, concluiu o profissional da saúde.

Entretanto, é preciso ressaltar que apesar de várias competições   terem adotado protocolos contra a Covid-19 baseados no modelo de bolha, Ramos acredita que os clubes não aceitariam essas medidas: “Na extensão do Campeonato Brasileiro de forma nenhuma (implantação da bolha), é quase impossível, acho que os clubes não concordariam”. Outros fatores que dificultam a formação da bolha é o fato do campeonato brasileiro não ter sido interrompido pela pandemia, tanto NBA quanto Champions League tiveram que ser paralisadas no meio das competições.

A retomada acelerada do futebol no Brasil está diretamente ligada com a influência das federações no calendário de futebol. Para garantir que os Estaduais fossem finalizados a tempo, foi preciso voltar com o futebol em julho, ainda durante o ápice de mortes em muitos estados do país.

Outro ponto que a pandemia do novo coronavírus colocou em pauta foi a dependência que o futebol brasileiro e sul-americano tem da receita obtida pelos direitos de transmissão. Para garantir a cota de televisão do campeonato, os clubes e a CBF concordaram em manter as 38 rodadas no Campeonato Brasileiro e todas as fases da Copa do Brasil, apertando um calendário que, historicamente, sempre foi inchado.

As competições sul-americanas foram pelo mesmo caminho. Enquanto a Liga dos Campeões e a Liga Europa tiveram seus calendários alterados para amenizar o desgaste físico dos jogadores, a Libertadores e a Sul-Americana terão todos os jogos conforme previsto, de modo que a Conmebol não tenha que mexer em valores de contratos de televisão pré-definidos.

Isso afeta, além do desempenho dos jogadores durante a atual temporada, as suas férias para o ano seguinte. O Campeonato Brasileiro deste ano só será finalizado em fevereiro de 2021, emendando no início dos Estaduais. Com isso, os atletas e as comissões técnicas só terão férias novamente em dezembro do ano que vem, assim que os torneios nacionais de 2021 acabarem.

A justificativa encontrada pelos clubes e pela CBF para isso foi que, em abril, quando as competições foram paralisadas por conta da pandemia, os jogadores já tiveram um mês de férias. Mesmo assim, a extensão da temporada por, praticamente, um ano e meio afetará o desempenho dos atletas, o nível do campeonato e aumentará a chance de lesões, prejudicando até mesmo o caráter mercadológico do esporte, que foi uma das principais razões para sua volta acelerada.

        No começo do ano, a mudança de formato de disputa do Brasileirão chegou a ser discutida, mas questões financeiras impactaram a evolução desse projeto. A proposta alternativa seria disputar o campeonato brasileiro num formato de grupos e após, mata-mata, mas isso cria um grande impacto nas já caóticas contas dos clubes nacionais. Em um formato de pontos corridos, todas as equipes jogam o mesmo número de jogos e a mudança para o mata-mata dificultaria o planejamento anual, principalmente, das equipes de menor expressão. Outro fator que pesou foi o fato da dona dos direitos de transmissão do Brasileirão em rede aberta de televisão, a Rede Globo, ter sido contra a mudança de formato. As cotas de Tv são a maior fonte de renda dos clubes, fora os patrocínios de camisa.

 

       

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