Brasil Jazz Sinfônica: uma história de 34 anos

O primeiro flautista da orquestra, Daniel Allain, conta sua trajetória na música
por
Fabrício Gracioso e Majoí Costa
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25/09/2023

 

Por Fabrício Gracioso (audiovisual) e Majoí Costa (texto)

 

O som calmo de uma flauta transversal invade os ouvidos de quem caminha pela USP (Universidade de São Paulo) durante uma tarde quente. Quem toca o instrumento é Daniel Allain, de 61 anos, que carrega uma jornada muito maior do que os olhos são capazes de enxergar. Filho do francês Roger Eugene Maurice Allain e da inglesa Norah Christine Keeping, Daniel nasceu em Assunção, capital do Paraguai, mas com menos de 1 ano veio para São Paulo com seus pais, seus 6 irmãos e 4 irmãs. Ele é o primeiro flautista da Orquestra Brasil Jazz Sinfônica desde 1997.

No dia 3 de outubro deste ano, a orquestra realizará 34 anos de existência. Surgida em 1989 com o objetivo de preservar a rica tradição das orquestras de rádio e televisão, sua formação única combina os conjuntos instrumentais típicos de uma orquestra sinfônica, como cordas, madeiras, metais e percussão, com os elementos de uma Big Band de jazz, incluindo saxofones, baixo, bateria, piano e percussão popular. Essa fusão proporciona à orquestra uma notável flexibilidade e um amplo espectro de expressão artística. Ao longo de três décadas, a orquestra tem se dedicado com excelência a cumprir e expandir sua missão, proporcionando serviços que buscam a emancipação cultural da música de alta qualidade à comunidade.

Atualmente, a gestão da orquestra está a cargo da Fundação Padre Anchieta/TV Cultura, e ela se destaca como uma atração principal no programa "Jazz Sinfônica Brasil”. Em virtude de sua relevância artística para a cena cultural brasileira, ela abraça três pilares fundamentais: passado, presente e futuro, refletindo seu compromisso com a memória nacional e seu contínuo impacto na cultura do País. Impacto este que pode ser sentido em diversas escalas e proporções para com a vida e o cotidiano das pessoas, como é o caso do flautista Daniel.

A música começou a fazer parte da sua vida ainda na juventude. Com 10 anos começou a tocar Flauta Doce, seguindo o passo de uma de suas irmãs, que na época namorava o famoso flautista Toninho Carrasqueira. Com 12 anos começou a praticar com a Flauta Transversal e com 15 já dava aulas em uma escola em Jundiaí, após ter se mudado para Vinhedo. Aos 16 anos decidiu parar de estudar e foi com mais dois amigos para Valinhos, porém, já com 17, voltou para São Paulo e começou a morar com a irmã Isabel e o namorado. Depois disso, realizou outra viagem e acabou  morando em João Pessoa, na Paraíba, entre 1984 e 1989, integrando a Orquestra Sinfônica da Paraíba, formando a banda Úvulas Ardientes, a qual tocava em casas de show, mais no estilo Jazz/Rock. Aos 27 anos de idade voltou para São Paulo e casou com Jussara. Além disso, se juntou à banda Mexe com Tudo, indo fazer até mesmo uma turnê na Europa por 2 meses. Na volta, tocavam todos os domingos as “Domingueiras” no Bar Avenida. Em 1991, após um desentendimento, a banda "Mexe com Tudo" acabou, havendo uma repartição. A metade da banda (ou o que sobrou dela) formou um outro grupo nos mesmos “moldes”, chamada Mistura e Manda. Todos os sábados tocavam num bar localizado onde hoje é o Parque do Povo, no Itaim Bibi. Com a "Mistura e Manda" conseguiram realizar também um CD, porém, depois de mais 3 anos, eles se separaram.

Até 1993, Daniel fazia parte de uma banda que tinha como um de seus integrantes Antônio Nóbrega, um artista e músico brasileiro. Além disso, faziam turnês e chegaram a ir para a Rússia e também para Cuba. Vale ressaltar que em paralelo com esses trabalhos, Daniel também grava para jingles, e chegou até a compor a trilha do filme Turma da Mônica: Laços, de 2019. E foi no ano de 1997 que ele prestou concurso para a Brasil Jazz Sinfônica, onde está até hoje, sendo este seu principal trabalho. Mesmo assim, continuou com projetos paralelos. Na época em que o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) nasceu, decidiu fazer a prova para conquistar seu diploma. Aos 50 anos, decidiu prestar para Música na ECA (Escola de Comunicação e Artes) e se formou um ano antes do início da pandemia, em 2019. “De certa forma, as partes de performance foram tranquilas para mim. E as outras áreas que eu não sabia foram boas também pois aprendi muita coisa nova, como história da música, por exemplo”, ele relata.

Em um dos anos mais cruéis dos últimos tempos, 2020, Daniel e sua família (Alessandra sua esposa e dois filhos) estavam com as malas prontas para irem para a Inglaterra, já que Alessandra, professora de biologia na USP, havia ganhado uma bolsa para dar aula em Londres. Como muitos, seus planos tomaram outros rumos por conta da pandemia da Covid-19, e com isso, perderam a bolsa e as passagens. Durante o período de quarentena, como definiu, “tudo foi muito louco”. Sua mulher passou a dar aulas em casa, o famoso EAD, e a parte de sopros da Orquestra a qual Daniel faz parte teve que suspender os ensaios. A partir disso, Daniel começou a gravar em sua própria casa, em seu ambiente de gravação, inclusive, chegando a realizar dois LP´s no início de 2020: “Bico de Choro, Forró de Ouro” e “Sopro e Voz”.

A vida e carreira de Daniel Allain estão interligadas com a história da Brasil Jazz Sinfônica de forma harmoniosa e transformadora para ambas as partes. É um exemplo digno de como a música e a conservação cultural foram importantes para os 34 anos da orquestra.

 

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