Imagem por: Anna de Moraes
No dia 04 de setembro de 2023, o Memorial da América Latina, em São Paulo, foi palco para o evento “Beleza Ancestral”, realizado pela escola de cursos livres, arte, arquitetura e moda, Larte SP. Com palestras, debates, performances e apresentações musicais, o evento contou com a participação de representantes de diferentes culturas, tendo como destaque a fotografia.
A exposição “Fios do Sagrado”, composta por 21 fotos da artista Anna de Moraes chamou a atenção ao trazer uma técnica singular, misturando suportes e linguagens visuais que se sobressaem expressando tradição e contemporaneidade. O ensaio, que foi executado durante pouco mais de dois anos, rendeu 4 mil registros dos rituais que ocorrem no Templo Cabocla Muyana da ialorixá Sonia Apolinário, no bairro de Capão Redondo, em São Paulo.
Para Anna, uma das suas maiores preocupações era conseguir provocar um olhar menos preconceituoso sobre as cerimônias de matriz africana. “A intenção foi provocar nos espectadores um olhar mais sensível e acolhedor para esse tipo de ritual e religião”, diz.
As fotos, expostas em preto e branco, amplificaram a aura atemporal das cerimônias religiosas de matriz africana e exigiram o cuidado da artista ao capturá-las, “Para que eu pudesse realizar o ensaio, precisei seguir uma série de orientações, como por exemplo, me locomover em um espaço pequeno para não atrapalhar o ritual, além de não poder usar flash”, explica a fotógrafa.
O que chamou atenção na exposição e surgiu como o diferencial dela, foi a utilização da técnica que sobrepõe a fotografia em preto e branco, com o bordado colorido. Essa abordagem inovadora não apenas apresenta uma visão tridimensional desses rituais, como também convida o público a contemplar a complexidade e a riqueza dessas tradições.
Segundo Ana, o bordado tem uma relação profunda com a umbanda. “Os fios, roupas bordadas ou tecidos desempenham um papel simbólico e ritualístico”. Assim, ao unir a fotografia com o bordado, a imagem transcende o plano bidimensional e ganha vida.
A beleza do resultado foi perceptível durante a exposição, pois o que encontramos foi um público maravilhado ao reconhecer a importância das técnicas artesanais tradicionais que atualmente não estamos mais acostumados a ver, devido ao mundo cada vez mais tecnológico em que vivemos.
Beatriz Lacerda, estudante de moda da Universidade Nove de Julho, se disse impactada pela sensibilidade que transmite a junção entre foto e bordado. “Eu saí da universidade e vim direto para a exposição sem esperar encontrar algo parecido, estou impactada pela sensibilidade da artista ao compor fotos em preto e branco com o bordado, o resultado é de uma força inexplicável”, ressalta.
A exposição focou principalmente em expor a beleza das religiões de matriz africana, muitas vezes colocada no local de menor importância entre as religiões. Segundo o censo de 2010, o número de adeptos à umbanda no Brasil é de 432 mil pessoas, esse número passou por uma queda de 20% em relação à pesquisa de 1991.
Em entrevista para a BBC, Fátima Damas, da Congregação Espírita Umbandista do Brasil, explicou uma das motivações dessa diminuição: "Muitos umbandistas não admitem publicamente que são umbandistas. Por medo ou vergonha, preferem dizer que são católicos", conta.
O projeto "Beleza Ancestral", de apresentação única, no dia 4 de setembro, no Memorial da América Latina, é o começo de uma inserção das religiões de matriz africana para conscientizar o público sobre a diversidade de devoção.