Nos últimos anos, tem havido uma tendência crescente na música pop de revisitar estilos e sonoridades do passado, evocando uma sensação de nostalgia entre os fãs. Em 2023, essa tendência continua em alta, com muitos artistas contemporâneos mergulhando em gêneros musicais antigos para criar novas músicas e dar uma nova vida aos sons do passado.
Uma das razões para essa tendência é o desejo dos artistas de explorar novas possibilidades sonoras e criar algo novo, enquanto ainda honram o passado e se conectam com a história da música. Ao revisitar estilos antigos, os artistas também podem atrair fãs de diferentes gerações que podem ter crescido ouvindo esses gêneros musicais. Nos últimos anos, temos tido a forte presença da nostalgia dos anos 80 e 90 como exemplo.
Esse fato deve-se muito pelo que esses anos trouxeram para o mundo pop, tendo sido extraordinariamente diversos do ponto de vista cultural, fornecendo um quase inesgotável material para alimentar essa nostalgia. Na música tivemos fortes figuras como: U2, Michael Jackson, Madonna, Iron Maiden, A-ha, David Bowie, Bonnie Tyler, entre outros tantos artistas que mudaram o cenário da música. Essas duas décadas foram tão expressivas que vemos resquícios de hoje na forma de como as músicas são criadas, como os filmes são produzidos e entre outras formas de artes que tiveram uma repaginada após esses anos tão memoráveis.
Artistas como Beyonce, The Weeknd e Bruno Mars também incorporaram elementos de funk, soul e disco em seus trabalhos mais recentes, evocando uma sensação de nostalgia nos fãs que cresceram ouvindo esses gêneros musicais. Todos com grandes álbuns lançados e músicas que já foram sucesso e que ficaram no topo das paradas musicais.
Aline Freitas é estudante de jornalismo da PUC-SP e ela desabafa como fã o que sente em relação a música dos artistas que ela acompanha e ainda ressalta o quão forte algumas dessas músicas impactam a sua vida. “sempre admiro quem consegue incluir uma boa metáfora nas músicas, como a Taylor Swift no álbum Folklore. Gosto quando as letras se assemelham a poemas e parece que eu estou ouvindo uma obra de arte. Outra coisa que me cativa é a verdade transmitida nas músicas, como faz a Miley Cryus, parece que eu consigo viver o que ela viveu e entender cada sentimento que fez ela escrever aquilo.”
Podemos tomar como exemplo também o caso do sucesso estrondoso do cantor britânico Harry Styles na música pop atual. Em carreira solo há seis anos, o ex-integrante do One Direction dominou o ano de 2022 com o seu mais recente álbum, o Harry’s House. Sua produção teve 6 indicações ao Grammy, tendo conquistado os prêmios de melhor álbum do ano e melhor álbum pop.
Além disso, seu single intitulado “As it Was” foi a música mais tocada no último ano. Com um misto de passado e presente, proposta que ganha ainda mais destaque na letra existencialista que discute solidão e isolamento. “Neste mundo, somos apenas nós/Você sabe que não é o mesmo que era“ detalha o cantor através de uma melodia dançante com batidas rápidas e acompanhado de um clipe encantador em seu lançamento.
Além desses elementos que nos remetem ao passado, o cantor também reforça a sua imagem através de roupas extravagantes e coloridas, como boa parte dos cantores se vestiam anos atrás.
Não muito distante, também temos a presença de Dua Lipa, também cantora britânica e que vem abalando as estruturas do mercado musical com hit atrás de hit, em que encontramos no aspecto revisionista dos elementos o estímulo para uma seleção de músicas que parecem pensadas para grudar na cabeça de nós ouvintes. Suas músicas remetem fortemente a músicas dos anos 80 e 70, com letras de amor, melodias dançantes, coreografias muito bem planejadas e roupas brilhantes e coloridas, de forma que nos faz relembrar os bons anos de discoteca.
E essa tendência também se aplica no Brasil, como é o caso de Roger Benício, DJ e produtor musical. Ele reflete sobre este movimento e relata como essa tendência tem influenciado o seu trabalho. “Eu tenho o costume de usar essas referências nos trabalhos que faço, de samba, sampa e outros gêneros”.
Ele também cita o quão importante foi a influência dos discos do grupo em que ele já foi membro, o Potencial 3, para a sua carreira. “São discos que mostram um pouco do meu trabalho, com elementos do rap antigo e o novo e o uso de timbres e sonoridades da década de 80”. Ele também afirma que essa tendência não é uma cópia ou uma repetição do mesmo, e sim algo mais. “Não acredito que isso venha acontecendo por falta de originalidade, mas acho que isso se tornou grande também porque reviver esse passado é aproveitar algo valioso e você tem a chance de dar uma repaginada naquilo que já era bom.”
Portanto, por um ponto é possível enxergarmos essa tendência também como uma forma de os artistas se afastarem da inovação e da originalidade, optando por criar músicas que sejam seguras e familiares para o público. Mas, independentemente das opiniões sobre a nostalgia na música pop atual, é inegável que essa tendência está em alta e parece que continuará por algum tempo.
Diante disso, é notável que tanto no Brasil como em outros países os fãs têm respondido de forma positiva a essa tendência, com muitos deles apreciando a nostalgia e o sentimento de familiaridade que esses estilos antigos trazem. Com sons que podem evocar lembranças e emoções do passado, criando uma conexão emocional com a música que é única.