Quando se fala sobre Déficit de Atenção a imagem de uma criança agitada, com dificuldade de concentração, surge na nossa cabeça. É comum que os pais de crianças agitadas, principalmente dos meninos, fiquem atentos a esta questão e em algum momento da infância levem a criança a uma avaliação clínica, seja por vontade própria ou indicação da escola. O problema é que nem sempre o Déficit de Atenção se resume a uma criança eufórica e isso dificulta o diagnóstico do transtorno, especialmente em meninas.
Popularmente conhecido como 'Déficit de Atenção', o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) atinge cerca de 2 milhões de adultos só no Brasil, sendo em torno de 4 a 6% no mundo todo segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). Apesar de estar na literatura médica há quase 120 anos, o diagnóstico do Déficit de Atenção ainda não é algo simples de se fazer, pois depende muito do olhar atento do médico. A psiquiatra Juliana Gomes afirma que os critérios diagnósticos listados pelo CID (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde) e O Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - 5.ª edição' orientam bastante, mas que ainda sim é possível solicitar avaliações neuropsicológicas e questionários de triagem. Os sintomas que os pais devem ficar atentos, além do mau desempenho escolar (especialmente quando há dedicação em horas de estudo), são a dificuldade em reter informações, perda frequente de objetos pessoais e perda de prazos de compromissos sociais e escolares. Claro que não uma pessoa com Déficit de Atenção não será desatenta com tudo e assuntos que agradam mais terão o foco mais bem preservado.
Entretanto, as meninas costumam a apresentar um outro tipo de TDAH: o desatento, que tem mais sintomas internalizantes e aparecem menos na sala de aula. "São meninas quietas, que não chamam a atenção dos colegas ou professores e podem transmitir uma percepção de que está tudo bem, somente um olhar mais atento para se fazer o diagnóstico. Por isso é tão comum diagnósticos bastante tardios", diz Gomes. Na fase adulta, contudo, os sintomas são diferentes e incluem dificuldades de logística (compras da casa, gastos e etc), não cumprimentos de prazos, esquecimento de tarefas, desorganização da rotina e atrasos frequentes.
Ainda não há cura para o Déficit de Atenção, mas existem vários tratamentos disponíveis que vão desde a Ritalina até lisdexanfetamina e atomoxetina (este apenas no Estados Unidos e no continente europeu). Juliana afirma que existem evidências de tratamentos não medicamentosos para melhorar a atenção, tais quais psicoterapia cognitivo-comportamental, atividade física e meditação.
Maria dos Anjos, 28 anos, foi diagnosticada com TDAH apenas aos 23 anos e afirma que o diagnóstico foi um divisor de águas na vida dela, permitindo que se conhecesse melhor e fizesse adaptações na sua vida por conta da sua condição: além do uso contínuo de medicação, Maria pratica diariamente a meditação, yoga e o mindfulness – uma prática de estar no momento presente da maneira mais consciente possível, também conhecida como atenção plena. Ela completa dizendo que sempre gostou de atividades mais calmas, mas que antes do diagnóstico e tratamento medicamentoso e psicoterapêutico isso era impossível. Ela conta que a demora no diagnóstico atrapalhou sua vida em vários aspectos, sendo o mais palpável deles a dificuldade em escolher sua profissão: ela precisou passar por três cursos universitários (Psicologia, Letras e Nutrição) para finalmente poder se encontrar em Fisioterapia – que ela deve se formar em Dezembro de 2021. “Eu vejo muitas pessoas fazendo piadinhas com o déficit de atenção, como se fossemos burros ou como se fosse frescura [...]. Ninguém faria piada comigo se eu fosse asmática e precisasse da bombinha [aparelho utilizado para a inalação de broncodilatadores], mas ainda existe muito preconceito com transtorno psiquiátricos”
Déficit de atenção e as redes sociais
Apesar das redes sociais serem uma grande fonte de distração, especialmente por aqueles que sofrem com o TDAH, elas também se tornaram um grande aliado: não apenas é possível conhecer várias pessoas, no Brasil e no mundo, que também sofrem de problemas, mas como é possível encontrar páginas que disseminam informação de qualidade e outras que tratam a situação com leveza e bom humor.
O perfil do Instagram @tdah.memes, como o próprio nome sugere, faz memes com situações do cotidiano de alguém com Déficit de Atenção e conta com mais de 8 mil seguidores, além de grupo no WhatsApp. Já o perfil da Assossiação Brasileira do Déficit de Atenção, chega a quase 20 mil seguidores e tem um site (o www.tdah.org.br) que funciona como fonte de divulgação cientifica sobre o assunto.